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Alvo da 2ª fase da Panatenaico, BRT se deteriora sem manutenção do GDF

Vidros quebrados, lixo espalhado, desorganização e longas filas de espera são comuns. Obra teve superfaturamento de R$ 208 milhões

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
BRT – GAMA
1 de 1 BRT – GAMA - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

No centro da segunda fase da Operação Panatenaico, o BRT (ou Expresso DF) penaliza os cidadãos que dependem do meio de transporte. As queixas são diversas: longas filas, desorganização na hora do embarque e desembarque de passageiros, estações depredadas e outras em que as obras nem sequer foram finalizadas.

O Metrópoles visitou alguns terminais e acompanhou de perto o drama dos usuários do sistema, que contou com um superfaturamento de R$ 208 milhões, segundo o Tribunal de Contas do DF (TCDF) e a Controladoria-Geral do DF (CGDF). O BRT atende as regiões de Santa Maria, Gama, Park Way e Plano Piloto, e transporta 245 mil pessoas diariamente.

Em Santa Maria e no Gama, a principal queixa é o número reduzido de funcionários para orientar e organizar o embarque. A auxiliar de limpeza Iraci Xavier, 55 anos, é moradora de Santa Maria e diz faltar educação dos usuários. “É muito empurra-empurra e isso incomoda demais. Além disso, na parte da noite, são poucos ônibus saindo para as quadras internas”, reclama.

Paulo Alexandre Farias, 43, é motorista-executivo e reforça o coro dos insatisfeitos, destacando também o lixo espalhado por terminais e estações. “Falta alguém para orientar e organizar a entrada. Já cheguei a ver várias pessoas caindo na hora de embarcar nos ônibus. Também vejo muita sujeira”, relata.

A estudante de psicologia Bárbara Fonteneles, 20, diz que nem a área exclusiva de embarque preferencial é respeitada. “É muito desorganizado. Nos ônibus, quem tem preferência nunca consegue sentar. Existe um ponto de embarque específico, mas as pessoas não ligam. Na hora de entrar, elas se empurram. Já vi uma mulher quebrar o pé por isso”, conta.

Para o estudante de engenharia civil Renato Oliveira Rocha, 26, a maior crítica é a dificuldade em reabastecer o cartão de vale-transporte. “Só consigo [reabastecer] nos terminais. Nas estações, não existe essa opção. Precisam mudar isso, pois o transtorno que gera é grande”, cobra.

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Durante a visita, foi possível constatar que, nos terminais de Santa Maria e do Gama, há muitas vidraças quebradas, além de catracas sem serventia alguma, pois os passageiros adentram os locais passando por roletas de acesso.

A situação mais caótica encontra-se na Estação do Periquito, que fica próxima ao balão de acesso do Gama. A dificuldade já começa na entrada, pois, para chegar até a passarela, é preciso atravessar a pista. Como não há rampas nas calçadas, cadeirantes não conseguem subir.

Ao entrar na estação, o que mais chama atenção é a quantidade de lixo acumulado. Quem faz a limpeza do local é um funcionário da segurança, que reclama: “A equipe de limpeza nunca vem aqui. Quando há muito lixo, eu mesmo vou lá e recolho”. Ele denuncia ainda vários outros problemas. “Já chegamos a ficar uma semana sem água. Vez ou outra, vem um caminhão-pipa e faz o abastecimento. Fizemos várias solicitações ao DFTrans, mas não adianta”, desabafa.

Portas automáticas que deveriam servir como equipamento de segurança a fim de separar os passageiros da via estão danificadas. Por conta disso, ficam abertas o tempo todo. O banheiro feminino também está interditado e não há bebedouros.

Por fim, a reportagem flagrou passageiros arriscando a própria vida: uma das grades que cerca a estação foi retirada e, dessa forma, muitas pessoas optam por atravessar a pista, em vez de utilizar a passarela, correndo em meio aos carros.

Abandono
Na Candangolândia, a estação nem sequer foi inaugurada. O local é um esqueleto abandonado que concentra lixo, entulho, pichações e forte cheiro de urina. Para piorar, existe um vão na lateral que pode culminar na queda de alguém.

Nas estações Floricultura, Vargem Bonita e a da Quadra 26 do Park Way ,também sobram problemas. Na primeira, as caixas onde deveriam ficar mangueiras de incêndio estão vazias e servem como depósito de lixo. As catracas do local estão sem serventia em função das roletas.

Na segunda, a sujeira é visível e o bebedouro não funciona. Além disso, várias portas automáticas da estação apresentam defeito, algumas até com risco de queda.

Já na terceira, o BRT nem para, segundo relatou um funcionário. Catracas estão quebradas e o local não possui roletas. As portas automáticas apresentam defeito e ficam abertas diuturnamente, algumas com vidros trincados. Para piorar, os suportes para extintores de incêndio estão vazios.

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O que diz o DFTrans
O DFTrans respondeu que, sobre o embarque prioritário, há demarcação no piso dos terminais separando passageiros preferenciais. “Também foi feito um acordo com a empresa Pioneira para que os motoristas dessem a devida atenção aos usuários. Diante das reclamações, o órgão vai avaliar qual medida pode ser tomada para que a determinação seja respeitada”.

Em relação à recarga dos cartões, o DFTrans destacou que o procedimento pode ser feito nos terminais de Santa Maria, do Gama, na Estação Park Way e na Rodoviária do Plano Piloto. “Nas demais, onde a demanda é menor, a implantação das bilheterias faz parte do projeto estruturante do BRT e está em estudo para finalização”.

Com relação aos vidros quebrados, a autarquia diz já ter executado uma primeira fase de troca e pretende dar sequência à manutenção. Sobre as catracas desativadas, garantiu que “estão sendo avaliadas para possível retirada”. Também reforçou que as pichações são removidas constantemente.

No caso da Estação Periquito, o órgão disse existir uma passarela com acessibilidade ao lado da estrutura, mas vai avaliar o que pode ser feito para melhorar o acesso dos usuários com mobilidade reduzida.

De acordo com a Secretaria de Mobilidade, a obra da Estação da Candangolândia não foi concluída na primeira etapa do BRT Sul, mas está prevista para a segunda (trechos 3 e 4), que já está em fase de revisão de projeto.

Propina
Segundo delação premiada de Rodrigo Lopes, ex-diretor da Andrade Gutierrez, feita ao Ministério Público Federal (MPF) em 29 de setembro de 2016, no âmbito da Operação Lava Jato, Agnelo e Filippelli teriam recebido R$ 8 milhões em propina para as obras do BRT Sul.

O valor corresponderia a 4% do total recebido pela empreiteira para tocar o empreendimento. PT e MDB também estariam entre os beneficiados. Agnelo e Filippelli teriam procurado a empreiteira para as negociações quando ainda eram candidatos a governador e a vice, respectivamente, em 2010. Segundo Lopes, eles cobraram R$ 500 mil em cada turno da campanha em troca da manutenção das obras. O montante teria sido pago por meio de doações oficiais, simulação de contratos de prestação de serviço e propina.

Os executivos Carlos José e Rodrigo Leite, ambos da Andrade Gutierrez, eram os designados para efetuar os pagamentos. Segundo o delator, o empresário Afrânio Roberto de Souza Filho, apontado como operador de Filippelli, seria o responsável por receber propinas em dinheiro vivo.

O ex-executivo da Andrade Gutierrez afirmou ainda que as outras duas principais empresas integrantes da obra do BRT Sul – a OAS e a Via Engenharia – pagavam os mesmos valores à dupla. Dessa forma, a propina total teria chegado a R$ 24 milhões.

Primeira fase
Na primeira etapa da Panatenaico, 10 pessoas foram presas, entre elas, os ex-governadores do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR), assim como o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB). Os três e outras nove pessoas acabaram denunciados pelo MPF em abril e viraram réus em ações que tramitam na 12ª Vara da Justiça Federal no DF, as quais investigam lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa na reforma do Estádio Mané Garrincha.

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