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“A igreja está ferida”, diz arcebispo sobre morte do padre Casemiro

Sob forte comoção no Campo da Esperança da Asa Sul, Brasília se despediu do religioso, brutalmente assassinado no fim de semana

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
padre casemiro
1 de 1 padre casemiro - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Centenas de pessoas acompanharam, emocionadas, o enterro do corpo do padre Kazimerz Wojno, mais conhecido como padre Casemiro, 71 anos, brutalmente assassinado na noite de sábado (21/09/2019). Durante o sepultamento, na tarde desta segunda-feira (23/09/2019), o padre Cristiano Sanches, responsável pelo Vicariato Norte, pediu para que os presentes fizessem orações pelos outros missionários que vieram da Polônia.

“Vamos orar por todos aqueles que começaram os caminhos de evangelização aqui em Brasília e que, como o padre Casemiro, dedicaram a vida ao serviço missionário”, disse. No local, os presentes também rezaram por pessoas que morreram vítimas de violência, assim como Casemiro. “Todos aqueles que sofrem, aqueles que foram e que ficam. Vamos lembrar deles também”, afirmou o religioso.

Mais cedo, na missa de corpo presente na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, o cardeal dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, comentou a tragédia. “A igreja está ferida com a morte violenta do padre Casemiro. A igreja se sente ferida quando homens e mulheres morrem com tanta violência.”

Muito comovidos, fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, amigos e conhecidos do padre Casemiro lamentaram a perda do líder religioso. “Uma pessoa muito bondosa, sempre disposta a servir”, emocionou-se Rosamélia Portela, 69, frequentadora da igreja há 28 anos. De acordo com ela, Casemiro já alertava os fiéis durante as missas sobre a falta de segurança na região em que a paróquia fica localizada. “Ele disse sentir que a hora dele estava chegando por conta de toda essa violência”, contou.

Às 16h30 desta segunda, fiéis seguiram o caixão até a porta da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, onde houve a missa de corpo presente, para se despedirem. Em lágrimas, Severina Bezerra, 64, lembrou ao Metrópoles da personalidade tímida do padre. “Ele era quieto, ria baixinho balançando a cabeça…”.

Severina, que frequenta a Paróquia Mãe da Divina Misericórdia, na 214 Norte, disse que era amiga de Casemiro e que se sente revoltada com o assassinato dele. “Eu o conhecia há muitos anos. Já cansei de vir nesta igreja e conversar com ele. Isso é muito triste, muito cruel, muito bruto”, disse.

Após a missa de corpo presente, o cardeal dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, definiu o religioso como “um homem simples, fraterno e de paz”. “Lamentamos que ele, pregador da paz, tenha terminado seus dias aqui na Terra como vítima da violência”, disse o líder religioso.

A homilia realizada na tarde desta segunda-feira (23/09/2019) lotou a paróquia da 702 Norte. De pé, fiéis assistiram à celebração emocionados. “Eu ainda não acreditei. Acho que vou entrar ali na porta e ele vai estar sentadinho fazendo orações”, comentou Ceoliles Gaio, 71.

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Aposentada, a mulher frequenta a igreja desde a fundação e relata que conheceu o padre Casemiro ainda jovem. “Ele tinha o gênio forte, quando falava algo, era aquilo. Também era uma pessoa muito séria nas questões da fé, da religião”, relembrou. Segundo a paroquiana, os crimes na igreja eram constantes. “A gente ficava com medo porque aqui de noite é completamente deserto. Já tiveram muitos roubos, o último foi em um domingo de Páscoa, quando entraram e levaram o sacrário“, narrou.

“Ele [Casemiro] sempre pedia por segurança. Já entregou muito bandido para a polícia, saía correndo atrás, enfrentava mesmo, não tinha medo”, contou ao Metrópoles.

Pouco antes de ser assassinado, padre Casemiro celebrou missa. Um dos fiéis presentes sentiu um “clima estranho”. De acordo com ele, durante a homilia, o pároco disse que estava cansado e “as circunstâncias em que se encontrava iriam levá-lo à morte”. Comentou, ainda, que o religioso se sentia ameaçado e que, durante a cerimônia, falou sobre os assaltos que estavam ocorrendo na região.

Marlene Barroso, 77, foi uma das últimas pessoas a verem o padre Casemiro com vida. Ela conta que avisou ao pároco que já havia fechado a igreja e iria para casa, no sábado (21/09/2019) à noite. Ele então chamou o caseiro para ajudá-lo na obra que fica nos fundos da paróquia e dona Marlene seguiu para sua residência. “Parece que estou sonhando, fora da realidade. Eu e meu marido trabalhamos com ele por 35 anos. Era muito amável, uma pessoa muito boa. Vou sentir muita falta”, lamentou.

Padre Casemiro morava nos fundos da Paróquia Nossa Senhora da Saúde. “Duas palavras o descrevem: dócil com todas as pessoas que o procuravam e firme com exatamente o tipo de pessoa que fez essa barbaridade com ele”, contou um dos fiéis. “Ele era um pai para mim”, acrescentou o paroquiano, após deixar uma flor no caixão do religioso.

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“Buscamos segurança”

O padre foi vítima de um assassinato brutal no fim de semana. Os bandidos fizeram uma emboscada no momento em que o religioso fiscalizava uma obra nos fundos da paróquia, na noite de sábado (21/09/2019). Eles ainda deixaram o caseiro amarrado. De acordo com o padre João Firmino, a paróquia agora busca por maior segurança. “Aqui é uma área escura, então chamamos atenção para isso. A violência está a nossa volta”, disse.

Sobre o crime, o religioso afirma que a casa do padre ficou “revirada” e a igreja ainda não sabe o que os criminosos queriam. “A polícia colocou que foram quatro suspeitos, mas nós não temos como desconfiar de quem seja, porque ele [Casemiro] estava voltando da missa. Tinha já esse costume de voltar para casa mais tarde quando tem casamento. Então, estamos aguardando o que a polícia pode nos dizer”, ressaltou.

Na tarde desta segunda, a encarregada de negócios da Embaixada da Polônia, Marta Olkowska, esteve na paróquia para acompanhar a cerimônia. Segundo ela, a embaixada se mantém em contato com a família do líder religioso na Polônia e permanecerá atualizando os parentes quanto às investigações. “A família soube do acontecimento e agora solicita imagens. Estamos mantendo contato com eles. É algo muito triste para nós. Uma morte muito violenta”, afirmou.

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