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Relembre impactos que a pandemia causou na moda ao longo de 2020

Doações, eventos digitais, campanhas caseiras e investimento em tecnologia estão entre as ações necessárias durante a crise da Covid-19

atualizado

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Edward Berthelot/Getty Images
Mulheres usando máscaras faciais em Paris
1 de 1 Mulheres usando máscaras faciais em Paris - Foto: Edward Berthelot/Getty Images

Não há dúvidas: 2020 foi um ano histórico. Em uma pandemia sem precedentes, o novo coronavírus trouxe incertezas, dificuldades, preocupações e adaptações. Na moda, não foi diferente. Ao longo do ano, lojas fecharam, eventos foram cancelados, marcas se reinventaram e até as semanas de moda conheceram novas maneiras de sair do papel. Inevitavelmente, as consequências avassaladoras foram sentidas nas confecções e nas vendas.

Contudo, a tecnologia foi uma aliada na batalha, assim como a solidariedade e a empatia. No decorrer dos últimos meses, personalidades da indústria fashion e grifes de renome, como Armani, Valentino, Ralph Lauren, Pyer Moss e Versace, manifestaram-se em busca de conscientização e ajuda. Cuidaram da oferta de mantimentos a grupos vulneráveis, auxílio a tratamentos, e apoio a profissionais de saúde que atuam na linha de frente de cuidados.

A produção de equipamentos de proteção individual e álcool em gel, assim como as doações em prol de pesquisas para o combate da Covid-19, também foram essenciais. Entre as companhias que destinaram quantias significativas à causa, estão os conglomerados LVMH e Kering, que são os detentores das maiores grifes do mundo. Os grupos de luxo não mediram esforços. A corrente do bem envolveu nomes como Gucci, Saint Laurent, Bottega Veneta, Louis Vuitton e Dior.

Giphy/Alfieri/Getty Images

Campanhas caseiras e intimistas

Assim que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as marcas passaram a se questionar sobre novas formas de divulgar os próprios trabalhos. As campanhas caseiras foram uma solução prática, inovadora e extremamente interessante. Marcas como Zara e Amaro investiram na ideia.

Outro recurso a distância são os o aplicativos de chamadas de vídeo, como o FaceTime, o Zoom e o Skype. Na Jacquemus, por exemplo, Bella Hadid e Barbie Ferreira posaram a distância, sob direção do fotógrafo Pierre-Ange Carlotti.

Kendall Jenner estrelou uma ação tecnológica da Burberry, com fotos em casa. A campanha, que focou na coleção TB Summer Monogram, misturou cliques feitos pela própria modelo com realidade virtual. A equipe trabalhou a distância, passando orientações de ângulos, movimento e iluminação.

Na mesma vibe, a grife italiana Gucci convidou modelos parceiros para compartilharem momentos do dia a dia. A campanha, batizada de Gucci The Ritual, foi feita sem roteiro. Com direção de arte de Christopher Simmonds, a ideia foi deixar os modelos livres para usarem a imaginação.

Modelo posando com peças da Zara
Modelos clicaram fotos para as redes sociais da Zara diretamente de suas casas

 

Modelo posando com peças da Zara
Apesar de despretensioso, o resultado é tão cool quanto um shooting profissional

 

 

Modelo Jéssica Pauletto em lookbook da Amaro
A modelo Jéssica Pauletto, que tem um pequeno estúdio em casa, produziu imagens de lookbook para a Amaro

 

Bella Hadid posa para Jacquemus
Bella Hadid foi uma das convidadas para a campanha Jacquemus at Home

 

Barbie Ferreira posa para Jacquemus
A atriz e modelo Barbie Ferreira também se produziu e posou em casa

 

Modelo Kendall Jenner em campanha de moda
Kendall Jenner fez autorretratos para a Burberry

 

modelos em telhado
A campanha Gucci The Ritual também deu o que falar

 

Para completar o mood intimista, algumas etiquetas de luxo investiram em ações com seus próprios funcionários, em vez de modelos profissionais, artistas do show business ou influenciadores digitais. Para apresentar a coleção batizada de Epilogue (Epílogo), a Gucci convocou membros da própria equipe de design para serem os modelos do lookbook.

Para apresentar o trabalho de spring/summer 2021 pre-collection (ou resort 2021), a Burberry transformou colaboradores em estrelas. Na frente das próprias casas ou por ruas londrinas, profissionais de vários segmentos da marca posaram com peças da coleção. A ideia foi de Riccardo Tisci, diretor criativo da grife britânica.

Também há marcas que colocaram os próprios diretores criativos para estrelarem as fotos de catálogos. Foi o caso de Gabriela Hearst e Philipp Plein, para suas grifes homônimas.

Gucci - lookbook - coleção Epilogue
Para o lookbook da coleção Epilogue, que corresponde ao resort 2021, a Gucci transformou os membros da equipe de design da marca em modelos

 

Lookbook da Burberry de Resort 2021
Funcionários da Burberry também viraram estrelas de campanha da grife britânica

 

Lookbook de Resort 2021 da Gabriela Hearst
A estilista Gabriela Hearst aparece em fotos de seu próprio lookbook de resort 2021

 

Philipp Plein primavera/verão 2021 masculina
O estilista Philipp Plein apareceu no próprio lookbook da coleção primavera/verão 2021 masculina

 

Semanas de moda

Em meio ao distanciamento social, as semanas de moda precisaram se adaptar. Depois de cancelamentos e adiamentos de eventos, apresentações transmitidas on-line se tornaram uma mão na roda. Em junho, a primeira edição 100% virtual do London Fashion Week ofereceu uma plataforma com conteúdos referentes à cada marca, incluindo etiquetas emergentes que não participam do calendário oficial.

As experiências incluíram filmes curtos, exibições virtuais, lives e coleções apresentadas em diferentes formatos. Além disso, a programação foi unissex e não se prendeu a uma temporada específica. A estreia do Milão Fashion Week digital, em julho, também não deixou por menos. Os vídeos foram a principal estratégia adotada pelas labels para apresentarem novidades.

No início da pandemia, os eventos franceses destinados aos segmentos masculino e de alta-costura chegaram a ser cancelados. No entanto, posteriormente, a Federação de Alta-Costura e Moda decidiu investir no Whispers of Paris, primeira versão completamente digital do Paris Fashion Week, que aconteceu em julho.

Interface do site do London Fashion Week Digital
O site do London Fashion Week virou uma interface com conteúdos on demand, assim como a Netflix, para a primeira edição 100% digital da semana de moda londrina

 

Look de Resort 2021 da Alberta Ferretti
Em julho, o Milão Fashion Week também teve alternativas digitais

 

Mulher deitada no chão
A primeira semana 100% digital de alta-costura aconteceu em julho deste ano. Os vídeos e curtas-metragens foram opções de muitas marcas, como Iris van Herpen

 

A partir de setembro, as apresentações digitais continuaram uma realidade, apesar de algumas grifes terem gerado polêmica ao apostar em shows físicos. No principal circuito de fashion weeks, o phygital – junção de físico e digital – virou um marco.

Semana de Moda de Nova York fez uma redução significativa, com uma programação de apenas três dias, dois dias a menos que o habitual. No evento, a maior parte dos desfiles foi on-line, centralizada na plataforma Runway360, criada pelo Conselho de Designers de Moda da América (CFDA, na sigla original. O London Fashion Week também seguiu digitalmente. As propostas englobaram formatos multimídia, misturando fotos, vídeos, e lives.

Look de primavera/verão 2021 da Anna Sui
Como parte do NYFW, em setembro, diversas marcas apresentaram coleções por meio da plataforma Runway360

 

Modelos em desfile da Burberry na floresta
Para o London Fashion Week, em setembro,  foram previstos cerca de 50 shows digitais, 21 híbridos (físico-digitais) e sete transmissões ao vivo

 

Halpern - primavera-verão 2021
O momento atual também inspirou as criações. As “heroínas da linha de frente” inspiraram o trabalho de primavera/verão 2021 da Halpern, por exemplo

 

Desfile de primavera/verão 2021 da Dolce & Gabbana
Em outubro, na Semana de Moda de Paris, aconteceram tanto desfiles presenciais quanto apresentações digitais. Os shows físicos geraram críticas. Na passarela da D&G, por exemplo, as própria modelos ficaram muito perto umas das outras. Além disso, apenas os fundadores da marca, Domenico e Stefano, usaram proteção facial na passarela

 

Desfile da Isabel Marant, de primavera/verão 2021
Aglomeração de pessoas na passarela da grife Isabel Marant, em outubro

 

Expansão e apoio

No Brasil, apesar dos tempos difíceis, algumas empresas apostaram pesado na expansão. Além de investir no segmento de beleza e até em uma linha home, Amaro abriu o próprio e-commerce para outras marcas. Batizada de Amaro Collective, a iniciativa consiste em dar espaço e mais visibilidade a etiquetas brasileiras. Pantys, Framed, Allmost Vintage, Clemence, Zerezes, Linus e Haight estão entre as escolhidas.

“O projeto tem a finalidade de utilizar o alcance e a expertise de vendas on-line da empresa para apoiar outros empreendedores durante a Covid-19, além de oferecer uma experiência de compra ainda melhor para as clientes”, explicou a Amaro, em comunicado à imprensa.

Peças de decoração e casa
A pandemia não impediu a expansão da Amaro. A linha home foi uma das novidades da fashiontech

 

montagem com novas marcas disponíveis no site da Amaro
Novas marcas entraram para o e-commerce Amaro

 

mulheres usando calcinhas absorventes e brincando com bola
O Amaro Collective nasceu como um apoio a outros empreendedores e empresas, como a Pantys

 

Outro exemplo é a parceria entre os grupos Arezzo&Co e Reserva, anunciada em outubro. As duas companhias se juntaram para ser tornar um potente conglomerado fashion. Fruto da união, outra novidade é a AR&Co, uma vertente exclusiva de lifestyle. Anteriormente, em agosto, Alexandre Birman lançou o marketplace ZZ Mall, com intuito de reunir todas as marcas do grupo Arezzo&Co.

Além das marcas Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Fiever, Alme e Vans, o Arezzo & Co passou a contemplar as labels da Reserva, empresa carioca fundada por Rony Meisler e Fernando Sigal. São elas: a própria Reserva, Reserva Mini, Oficina Reserva, Reserva Go, Eva e Ink.

Campanha da Arezzo, com sandália de duas tiras
O Arezzo&Co, que incorporou as marcas do grupo Reserva, também se expandiu em meio à pandemia

 

Modelo em campanha da Arezzo levantando bolsa
Até então, o grupo Arezzo&Co se dedicava exclusivamente a sapatos e acessórios

 

Modelos, em campanha da Arezzo, jogando Twist
Com a união, o conglomerado também passou a vender itens de vestuário

 

Marina Ruy Barbosa
Marina Ruy Barbosa é a atual diretora de moda do marketplace ZZ Mall
Tecidos antivirais

Um dos grades marcos de 2020 é a popularização dos tecidos antivirais. Para intensificar as medidas que inibem o contágio da Covid-19, algumas empresas têxteis e marcas estão engajadas na produção de tecidos que oferecem proteção a mais contra o novo coronavírus.

Entre as etiquetas que passaram a comercializar itens com a tecnologia, estão Oriba, Lupo, C&A e Riachuelo, além da plataforma de causas sociais BeCauz. Por aqui, o material mais usado é o fio de poliamida Amni® Virus-Bac OFF, criado no Brasil pela Rhodia. Ele combate a proliferação de vírus e bactérias.

Roupas antivirais da Oriba
A marca paulistana Oriba lançou peças com proteção antiviral certificada que pode durar até 50 lavagens

 

Roupas antivirais da Oriba
A tecnologia usada por aqui é fio de poliamida Amni® Virus-Bac OFF, desenvolvido pela empresa Rhodia

 

Máscara antiviral da Lupo
A Lupo, especializada em moda íntima, também criou máscaras utilizando a tecnologia

 

A crise da Covid-19 trouxe mudanças relevantes para a indústria da moda. Algumas possivelmente ainda serão vistas por muito tempo, como o uso indispensável da máscara facial protetora. A tecnologia veio para ficar e a solidariedade sempre será indispensável. Vale enfatizar que a pandemia ainda não acabou e todo cuidado é pouco!


Colaborou Rebeca Ligabue

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