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Presidente do Podemos: “Com aliança, União Brasil terá vice de Moro”

Em entrevista, Renata Abreu defendeu aliança com União Brasil e disse que Moro se apresentará como um conservador “equilibrado”

atualizado

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Danilo Martins/Podemos
A deputada federal Renata Abreu, presidente do Podemos, discursa durante o evento de filiação de Sergio Moro
1 de 1 A deputada federal Renata Abreu, presidente do Podemos, discursa durante o evento de filiação de Sergio Moro - Foto: Danilo Martins/Podemos

A presidente do Podemos, Renata Abreu, afirmou nesta quinta-feira (30/12) que o vice de Sergio Moro na campanha presidencial será do União Brasil, caso os dois partidos fechem uma aliança. Em entrevista à coluna, Abreu disse que Moro busca o apoio evangélico e que ele se apresentará como um conservador “equilibrado” na eleição, sem “caça às bruxas”.

“Torço muito para dar certo e o União (União Brasil) estar junto no projeto. É natural que, se eles estiverem juntos, o vice também esteja lá. O vice é uma escolha deles”, disse Renata Abreu, após elogiar Luciano Bivar, futuro presidente do União Brasil, que nascerá da fusão de PSL e DEM. Bivar deu abrigo a Jair Bolsonaro em sua sigla em 2018.

Questionada sobre o governo Bolsonaro, a presidente da sigla de Moro admitiu que ficou “muito esperançosa” no início da gestão, mas disparou: “Para preservar os filhos, Bolsonaro passou por cima de seus princípios”. Contudo, mostrou que tratará o antibolsonarismo com muita cautela.

Leia os principais trechos da entrevista:

A campanha de Moro busca a contratação de um marqueteiro?

O Fernando Vieira (consultor de marketing do Podemos) está muito bem. Ele é o marqueteiro do partido e estará envolvido na campanha, mas temos a necessidade de ampliar toda a equipe de comunicação. O Fernando teve de assumir tudo porque não imaginávamos ter de montar uma estrutura de campanha tão ampla em novembro e dezembro, que costumam ser meses mortos para a política. Não teremos uma pessoa, mas um grupo de pessoas.

Existe um nome acertado para liderar o grupo?

Não. Estamos buscando outro estilo, e a ideia é funcionar como um conselho. Entendo que as campanhas mudaram muito. A campanha do Ciro Gomes está com o João Santana e não cresceu nada. Esse grupo de pessoas surgirá para não ficarmos presos ao marketing tradicional. Se concentrar, você só terá uma visão. Já temos alguns nomes na mesa para fazer parte desse conselho e vamos definir agora.

Como está a aproximação com os evangélicos, público vital à eleição de Bolsonaro em 2018?

Começamos a aproximação em dezembro. Percebo uma dúvida em relação ao que o Moro pensa sobre as pautas deles. O Moro não explora a religião politicamente, como faz o Bolsonaro. Ele é uma pessoa conservadora, que é a favor da lei atual do aborto, ou seja, é contra a flexibilização da prática do aborto, é casado com a mesma mulher há 22 anos, mas ele não fica usando disso misturado com a política. Por isso, a maioria dos líderes não sabe o que ele pensa sobre determinados temas.

Moro será um conservador reacionário como Bolsonaro, que ataca frontalmente direitos humanos e minorias?

O Moro é um perfil equilibrado que respeita absolutamente todas as opiniões e escolhas. Caça às bruxas de jeito nenhum, mas essa é minha visão. Eu nem gostaria de expor o que é um pensamento dele.

Como estão as negociações para o União Brasil assumir a vice na chapa?

Há uma sinergia muito grande da maioria dos parlamentares. Temos questões regionais que precisam ser discutidas. Eu penso que qualquer aliança é muito difícil de se concretizar antes de abril, embora muitos deputados do União estejam cobrando isso antes e, da nossa parte, seria muito bom. Mas sabemos que é mais difícil, porque o Brasil é muito diverso.

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Luciano Bivar, futuro presidente do União Brasil, seria o indicado para a vice caso a aliança com a sigla se concretize?

O Bivar é um grande amigo e um articulador excepcional. Ele fez um grande trabalho em transformar o PSL, que era um partido de um só deputado, no maior partido do país a partir da fusão com o DEM. Na minha visão, existe uma afinidade de ideias dele com o Moro em vários pontos, mas ele faz parte de um grupo político formado pelo ACM Neto, pelo Ronaldo Caiado, então essa é uma decisão do União. Torço muito para dar certo e o União estar junto no projeto. É natural, pelo tamanho do partido, que, se eles estiverem juntos, o vice também esteja lá. Isso é natural da política. O vice é uma escolha deles. Naturalmente com o nosso aval, mas quando você faz uma aliança, a indicação do vice é do partido aliado.

Em que pé está o diálogo com os outros pré-candidatos da terceira via, principalmente com João Doria?

Muito bom. Ontem falei com o Mandetta (Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde) e ele fará uma live com o Moro em janeiro. Existe muita afinidade de projetos entre eles. Eu também tenho uma relação muito boa com o Eduardo Leite e com o Doria. Existe uma conversa.

Chegará o momento em que a terceira via se unificará na eleição?

Eu acredito nisso.

Até com relação ao Doria?

Eu acho, até porque o Moro já se colocou nesse formato. Precisa ser um sentimento coletivo.

O mundo político desconfia de que Doria abrirá mão da candidatura ao Planalto.   

Eu também tinha essa visão, mas temos ouvido muita gente próxima a ele. Todos os outros cenários eram completamente diferentes para ele e para os outros candidatos. Agora, temos um cenário em que precisamos tomar decisões estratégicas. Nós sabemos que não existe espaço para mais de uma terceira via. Temos que ver juntos. O Doria fará a campanha dele, o Moro fará a campanha dele, a Simone e o Pacheco também. E vamos monitorando com pesquisas qual é o sentimento do eleitor, o que o eleitor busca para esse projeto de país e quem está falando melhor com ele. É o caminho mais óbvio e natural que esse centro tem que ter.

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Por que Moro tem atacado mais Lula do que Bolsonaro? Teme melindrar o eleitor bolsonarista?

O projeto nunca foi atacar nem um nem outro, mas montar um projeto de país. O Moro tem feito reuniões três vezes na semana com especialistas para definir o plano de governo. Nem temos time de ataque. Seria a primeira coisa a se fazer em uma campanha com o objetivo de atacar todo mundo. Estamos montando um time de defesa. Nossa ideia é colocar o Moro no segundo turno. Se será contra Lula ou Bolsonaro, tanto faz.

Para a família Bolsonaro, Moro é um traidor. Como responder à acusação?

Quem acabou com a Lava Jato foi o Bolsonaro. Desculpa, mas quem está traindo os brasileiros é Bolsonaro, que foi um grande defensor do combate à corrupção, mas foi o primeiro a acabar com os meios para enfrentá-la. Ele interferiu na PF, o que levou Moro a deixar o governo. Enquanto muitos ficaram para manter o cargo, Moro teve a decência de não abrir mão de seus princípios. Você não vê mais nenhuma autoridade sofrendo nenhum tipo de denúncia. Acabou a corrupção? Para preservar os filhos, Bolsonaro passou por cima de seus princípios.

A senhora se surpreendeu com o governo Bolsonaro?

Nunca fui apoiadora do Bolsonaro, mas quando ele colocou o Moro e o Mandetta, fiquei muito esperançosa. Eu falei: “Poxa, não imaginava que ele teria peito para fazer de fato um governo com os melhores, salvo em áreas como Educação e Cultura”. O problema é que Bolsonaro não aceita que ninguém seja maior do que ele. Ele lima as pessoas por serem boas, por medo de que tenham mais visibilidade do que ele. E aí troca pessoas muito boas por pessoas medíocres, que fazem tudo o que ele manda. Seria inteligente se ele cumprisse o que pregou na campanha, se deixasse o ministro da Saúde definir a política da saúde sem dizer para o cara que a vacina não funciona, sem ficar discutindo cloroquina. É triste ver o presidente se vangloriando de férias enquanto a Bahia está debaixo de chuva.

Três anos depois dessa esperança, que nota dá para o governo Bolsonaro hoje?

(Pausa de dez segundos). Tenho que parar para pensar para ver o que tem de positivo.

De zero a dez, qual nota?

Três. Sou muito boazinha (risos). Não me sinto representada. E não julgo quem acha que o governo é bom. Não julgo.

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