O texto foi incluído na lista do Observatório de Doutrina do Exército e foi escrito pelo coronel Marcelo Eduardo Anacleto, chefe da Divisão de Difusão do Centro de Doutrina do Exército, para o programa da Escola Superior Internacional de Estudos de Defesa da Universidade de Defesa Nacional da China. O artigo é de 2020.
Ao tratar do contexto do conflito na Crimeia, Anacleto diz que o Brasil “deve refutar qualquer pressão no sentido de reconhecer a autodeterminação de suas minorias indígenas, ou haverá o risco de no futuro uma potência apoiar um projeto de secessão em áreas de interesse geopolítico”.
“Pelas mesmas razões, deve também vetar iniciativas no sentido de “desmilitarizar as terras e territórios dos povos indígenas”, pois a ausência ou insuficiência da presença militar em uma determinada área pode encorajar iniciativas adversas aos interesses nacionais”, escreveu o coronel.
Anacleto aponta que “o Brasil deve ter especial atenção com Colômbia, Venezuela, Guiana e França, pois estão situados na faixa de fronteiras mais expostas à ação de potências globais e da OTAN”.
“A existência de vizinhos cobiçosos e poderosos, a presença de potências antagônicas ou rivais em países vizinhos ou a aliança destes com tais potências são ameaças, particularmente quando houver um choque de interesses importantes ou vitais. A presença militar em regiões geoestratégicas permite estabelecer bases avançadas para dissuadir, ameaçar ou iniciar um conflito armado a partir de uma posição vantajosa. Isso é manobra estratégica militar, portanto, preparação prévia para um eventual conflito armado”, afirmou o coronel.
Segundo postagem no LinkedIn de Guilherme Marques Almeida, oficial de Estado-Maior no Comando de Operações Terrestres, o Centro de Doutrina do Exército organizou o Observatório de Doutrina para acompanhar o conflito na Ucrânia com “mais de 50 especialistas, [o] que inclui militares da ativa, veteranos e Oficiais de Ligação de Doutrina no Exterior”.
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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra
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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
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A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
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Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
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Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
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Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
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A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro
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Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta
OTAN/Divulgação
Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território
AFP
Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território
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Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado
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O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles
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Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo
Vinícius Schmidt/Metrópoles
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