Deputado que avisou Bolsonaro de Covaxin teme ser assassinado; leia entrevista
Irmão que trabalha no ministério da Saúde suspeitou de “jogatina” no processo da Covaxin, diz Luis Miranda
atualizado

O deputado Luis Miranda, do DEM do Distrito Federal, afirmou nesta quinta-feira (24/06) que teme pela própria vida após as declarações de Onyx Lorenzoni. Em conversa com a coluna, Miranda disse que seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, suspeitou de uma “jogatina” no processo da vacina Covaxin.
Os Miranda falarão à CPI da Covid nesta sexta-feira (25/06). Pouco antes da entrevista, o parlamentar preparava uma apresentação de PowerPoint com o passo a passo do processo da Covaxin, também investigado pelo MPF.
“O Onyx incentiva o ódio e a violência. Imagina um cara maluco armado dando um tiro em você. Onyx criou um ambiente muito negativo, muito ruim. Realmente eu fico temeroso”, disse o deputado, sobre seu correligionário no DEM. Instado a definir seu depoimento à CPI, Miranda usou um versículo bíblico que Jair Bolsonaro carrega no braço e promete complicar o governo.
Leia os principais trechos da entrevista.
O que o senhor prepara para a CPI?
Vamos fazer um PowerPoint com uma linha do tempo de todos os acontecimentos envolvendo eu e meu irmão. O momento que começa a assinatura de contrato, todos os envolvimentos que rodeiam a vacina. Meu irmão estava lá: ‘Pô, essa Precisa não é a empresa que está envolvida na prisão do ex-secretário de Saúde do DF?’. Isso vai traçando um desconforto entre os técnicos, que ficam mais alertas. Não foi só meu irmão. O Ministério da Saúde inteiro ficou mais alerta. Os cargos políticos estão fazendo o que são mandados, mas os técnicos, não. Vamos contar esses momentos que estão em descompasso com a realidade documental. Temos um documento que comprova que a fábrica foi regularizada junto à Anvisa agora em junho. Era impossível ter feito qualquer tipo de negócio com a empresa, mas eles queriam fazer, queriam receber um pagamento à vista. Depois que eu fui ao Bolsonaro e denunciei, é que corrigiram o documento pelo pagamento depois da entrega. Por pouco não pagamos US$ 45 milhões.
O que seu irmão lhe relatou sobre a pressão do ministério?
Eu levo isso no dia 20 de março para o Bolsonaro. No dia 19, meu irmão recebeu uma ligação às 23h do coronel Pires (Marcelo Bento Pires, ex-assessor do Plano Nacional de Operacionalização de Vacinas contra a Covid-19 da pasta), dizendo que ele tinha de agilizar e ligar para os empresários. Meu irmão falou: ‘Eu não vou ligar para empresário, não vou fazer esse negócio’. Aí ele me procurou e me disse: ‘Chegou no nível máximo. Além de o cara me acelerar, quer que eu me envolva com empresário. Não sei se mandaram entrar em contato com empresário para poder fazer algum tipo de jogatina, não sei o que esses caras querem, mas não vou chamar’. Eu falei: ‘Vamos levar isso para a frente, vamos falar com o ministro’, e ele respondeu: ‘Luis, eu não confio em ninguém aqui nesse ministério. Se for para falar com alguém, é com você’. Aí eu me senti confortável em levar para o presidente.
Com o aval de Arthur Lira?
O Arthur Lira só me deu ok agora, depois que eu disse para ele: ‘Se eu me envolver com CPI vai explodir o holofote’.
O senhor teme pela própria segurança, depois da fala em tom de ameaça de Onyx Lorenzoni no Planalto?
É claro que o Onyx impulsiona as pessoas contra mim, é óbvio. E aí sempre pode ter um louco que queira fazer justiça, achar que você está tentando fazer mal ao governo ou ao presidente. O Onyx incentiva o ódio e violência, além de ter mentido sobre documentos. Se os documentos fossem falsos eu não teria levado para o presidente. Onyx criou um ambiente muito negativo, muito ruim. Realmente eu fico temeroso. Temo um maluco fanático que possa agir de uma forma impensada.
Teme pela própria vida?
Imagina um cara maluco armado dando um tiro em você por causa de uma paixão política, achando que você vai destruir tudo. Eu nunca falei que ia derrubar a República. Eu comentei com o ajudante do presidente, o Jonathas Diniz Vieira Coelho, como mostram os prints, que era importante que o presidente desse atenção a isso, porque poderia abalar a República. Eu não quero abalar nada, só proteger meu irmão, que teve coragem de denunciar o que ele acha que estava errado.
O senhor é o Roberto Jefferson do governo Bolsonaro?
Não, não. Só sou um cara cujo irmão teve a coragem de chamar a atenção para um procedimento que não estava regular e infelizmente, vendo meu irmão na CPI, tive de aparecer para ajudá-lo a esclarecer a verdade.
O que falará amanhã aos senadores?
Vou fazer meu papel cívico como cidadão e deputado de apresentar a verdade. Como o próprio presidente gosta de falar, ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’.