Com saída de pastor Milton Ribeiro do MEC, inquérito deve deixar a PGR
Ministro da Educação, Milton Ribeiro deve pedir licença do cargo em meio a suspeitas; inquérito foi autorizado na quinta-feira (24/3)
atualizado

A provável licença do pastor Milton Ribeiro do comando do Ministério da Educação deve fazer com que saia da PGR o inquérito que apura se Ribeiro e outros pastores integraram um gabinete paralelo com pedidos de propina na pasta. A investigação foi solicitada pela PGR na última quarta-feira (23/3) e autorizada pelo STF na quinta-feira (24/3).
Como Milton Ribeiro perderá o foro privilegiado com a saída do ministério de Jair Bolsonaro, a investigação deve descer de instância, segundo interlocutores da PGR. A tendência é que a apuração seja transferida para o MPF no Distrito Federal, junto à Justiça Federal.
Próximos a Milton Ribeiro, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura também são alvos da PGR, suspeitos de pedir propina para destravar acesso a recursos do ministério. Segundo prefeitos, os pedidos ilegais incluiriam compra de Bíblias e até entrega de ouro.
Neste fim de semana, o ministro discutiu com Bolsonaro sua licença da pasta, para tentar se defender das acusações de participação em propina. Nesse cenário, o número dois do ministério, Victor Godoy, deve assumir o MEC interinamente.


Antes de virar ministro, Milton Ribeiro já colecionava uma série de polêmicas. Em uma delas, postou no canal que tinha no YouTube palestra em uma Igreja Presbiteriana, em 2016. À época, afirmou apoiar o castigo físico em crianças Rafaela Felicciano/Metrópoles

“Essa ideia que muitos têm de que a criança é inocente é relativa. Um bom resultado não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves”, disse. Segundo ele, as crianças “devem sentir dor”. Um dia após tomar posse no Ministério da Educação, no entanto, retirou o vídeo da plataforma e, mais tarde, afirmou nunca ter falado sobre o assunto Reprodução/YouTube

Em 2018, o ex-ministro afirmou que universidades incentivavam alunos a fazerem “sexo sem limites”. “Para contribuir ainda mais, em termos negativos, para o sexo veio a questão do existencialismo. Não importa se é com homem ou mulher”, disse. “É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completou Reprodução/Redes Sociais

Além disso, Ribeiro afirmou que universidades devem ser para poucos e que reitores de federais não podem ser “esquerdistas” ou “lulistas”. “Eu acho que reitor tem que cuidar da educação e ponto final, e respeitar quem pensa diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político de um partido A, de direita, e muito menos de esquerda”, relatou Rafaela Felicciano/Metrópoles

Durante a pandemia, Milton também criticou professores que defendiam a vacinação de crianças para o retorno das aulas. “Infelizmente, alguns maus professores fomentam a vacinação deles, que foi conseguida. Agora, querem a imunização das crianças. Depois, com todo o respeito, para o cachorro, para o gato. Querem vacinação de todo jeito. O assunto é: querem manter escola fechada”, disse Isac Nóbrega/PR

No fim de 2020, Ribeiro alegou que a nota do Enem de 2021 não poderia ser utilizada para o Sisu, Prouni ou Fies. Segundo ele, para ter acesso aos programas, era necessário utilizar notas de exames anteriores. Após manifestações contrárias, o Ministério da Educação negou as falas do chefe Fábio Rodrigues/Agência Brasil

Durante uma entrevista, Milton Ribeiro relacionou a homossexualidade a “famílias desajeitadas”. “Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do 'homossexualismo' (SIC), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe”, afirmou Isac Nóbrega/PR

Em 2021, quando ainda era ministro, declarou que a inclusão de alunos com deficiências na mesma turma que alunos sem deficiências “atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tem equipe e não tem conhecimento para dar atenção especial”. Segundo ele, “existem crianças com um grau de deficiência que é impossível a convivência” Reprodução/Tv Brasil

No início de 2022, um áudio onde Milton Ribeiro afirma priorizar repasses da Educação a determinadas prefeituras e a pedidos do presidente Bolsonaro ganhou o noticiário. Apesar de, logo em seguida, negar a existência de irregularidades, bem como o envolvimento de Bolsonaro, Ribeiro passou a ser objeto de pedidos de investigação Vinícius Schmidt/Metrópoles

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, afirma Ribeiro em conversa gravada. “A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, declarou o então ministro Arthur Menescal/Especial Metrópoles
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