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Afinal, o que a princesa Diana falou de tão polêmico na entrevista de 1995?

Acompanhada por mais de 20 milhões de espectadores, a conversa de Lady Di com Martin Bashir foi crucial para seu divórcio com Charles

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Pool Photograph/Corbis/Corbis via Getty Images
Entrevista Lady Di e Martin Bashir
1 de 1 Entrevista Lady Di e Martin Bashir - Foto: Pool Photograph/Corbis/Corbis via Getty Images

Recentemente, o cirurgião cardíaco Hasnat Khan, namorado da princesa Diana entre 1995 e 1997, conversou com o jornal Daily Mail sobre seu ponto de vista em relação à polêmica entrevista que ela deu ao repórter Martin Bashir, da BBC, em 1995. Apesar da distância temporal, o veículo é investigado até hoje, sobretudo após as denúncias de que o profissional teria forjado documentos para ter certeza de que Diana não cancelaria o tão esperado e bombástico encontro, que ocorreu pouco tempo antes de sua morte.

Para Hasnat Khan, o entrevistador a manipulou, sabendo de suas vulnerabilidades. “Tinha algo nele que eu não gostava e eu pedi que ela tomasse cuidado”, disse ao veículo. “Era muito persuasivo. E tinha o fato de ele ser da BBC, profissional ser respeitado, piedoso. Mas ele encheu a cabeça dela de besteiras”, explicou.

A matéria que continha o depoimento da princesa causou muito alvoroço à época e, para muitos, foi crucial para o divórcio de Charles e Diana. O príncipe William, primogênito do casal, já anunciou que a investigação é um importante passo na busca pela verdade por trás do que a levou a realizar entrevista – e as consequências dela.

Martin Bashir
Jornalista Martin Bashir, que fez a polêmica entrevista com Lady Di

Afinal, por que a entrevista de Lady Di foi tão polêmica? O que ela revelou de tão importante ao ponto de ser considerada “a exclusiva do século”?

A coluna Claudia Meireles separou alguns tópicos da reportagem que mais surpreenderam o mundo na época da divulgação.

“Casamento de três”

Acompanhada por mais de 20 milhões de espectadores, a conversa da princesa de Gales com Bashir expôs seus medos, fragilidades e a grande necessidade de se abrir, além da infidelidade dela e de seu marido, Charles. Os dois se separaram em dezembro de 1992, mas só tiveram o divórcio oficializado em agosto de 1996.

“Éramos três neste matrimônio. Estava um pouco lotado”, disse Diana durante a entrevista. Essa, certamente, foi a frase mais impactante da princesa do povo, afirmação que estampou os tabloides da época e acabou com a esperança dos que acreditavam no amor eterno de Charles e Lady Di. O divórcio logo se concretizou e a relação da princesa com a família real se atravancou ainda mais.

A citação se referia ao envolvimento do príncipe de Gales com Camilla Parker-Bowles, atualmente casada com o filho da rainha Elizabeth. Diana admitiu que sabia desde o início que seu marido mantinha um romance com a ex-namorada. “Assumo alguma responsabilidade por nosso casamento ter sido como foi. Vou assumir a metade, mas eu não vou assumir mais do que isso, porque são necessários dois para entrar nessa situação”, falou.

Camilla Parker-Bowles
Camilla Parker-Bowles, atual mulher do príncipe Charles
Traições

Por outro lado, a princesa de Gales elogiou Charles por ter admitido o adultério em uma entrevista com Jonathan Dimbleby. “Eu mesma fiquei muito arrasada. Mas admirei a honestidade, porque é preciso muita para fazer isso”, comentou.

Contudo, Diana também revelou que era “mais do que amiga” do ex-oficial do exército James Hewitt, ex-instrutor de equitação dela e de seus filhos (há boatos de que ele é o verdadeiro pai de Harry). O suposto “amante” da princesa chegou a publicar o livro Princess In Love, que conta sobre o caso deles. A relação teria começado em 1987. Diana, entretanto, afirmou que ficou desapontada por ele ter lucrado com algo tão íntimo. “Eu o adorava. Sim, eu estava apaixonada por ele. Mas fiquei muito decepcionada”, destacou.

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Outra pessoa que foi apontada como flerte de Lady Di foi seu amigo James Gilbey. Na entrevista, Diana lamentou que ele tivesse sido envolvido após gravações de um telefonema de paquera vazado para o The Sun, em 1992. “Mas as implicações dessa conversa foram que tivemos um relacionamento adúltero, o que não era verdade”, assegurou.

Princesa excluída

Quanto à relação da princesa de Gales com o Palácio de Buckingham, ela também se manifestou. “Acredita que algum dia será rainha?”, perguntou Martin Bashir. “Não, não acredito. Gostava de ser rainha do coração das pessoas, mas não me vejo como rainha deste país”, respondeu. Para a princesa de Gales, ela não seria aceita na hierarquia por não ser adepta de um “livro de regras” e preferir “seguir o coração” nas decisões.

“Eles me veem como algum tipo de ameaça e eu estou aqui para fazer o bem. Não sou uma pessoa destrutiva”

Lady Di
Princesa Diana
Princesa Diana

Outro ponto comunicado pela falecida princesa foi o machismo presente na família real. “Creio que todas as mulheres fortes na história tiveram de percorrer um caminho semelhante. E acho que é a força que causa a confusão e o medo. Por que é que ela é forte? De onde vem essa força? Onde é que ela quer chegar? Por que é que o público continua a apoiá-la?”, disse.

Transtornos psicológicos

Diana revelou ter tido depressão após o nascimento de William, seu primogênito com Charles. Em vez de receber apoio da família, segundo ela, diziam que ela era “instável e mentalmente desequilibrada”. “Isso por si só foi um pouco difícil. Você acordava de manhã sentindo que não queria sair da cama, se sentia incompreendida e muito, muito deprimida”, afirmou.

De acordo com a princesa, ela chegou a receber tratamento, mas sabia que, na verdade, precisava de espaço e tempo para se adaptar a todos os diferentes papéis que surgiam no caminho. “Eu sabia que poderia fazer isso, mas eu precisava que as pessoas fossem pacientes e me dessem espaço”, explicou.

Automutilação

Os sogros de Diana, segundo ela contou na entrevista, não sabiam o que fazer com ela. “Bem, talvez eu tenha sido a primeira pessoa nesta família que teve uma depressão ou chorou abertamente”, frisou. “E obviamente isso foi assustador, porque se você nunca viu isso antes, como você presta apoio? Isso deu a todos um novo rótulo maravilhoso: Diana é instável e Diana é mentalmente desequilibrada. E, infelizmente, isso parece ter permanecido intermitente ao longo dos anos”, acrescentou.

Com tudo o que estava acontecendo, Diana admitiu que se automutilava. “Você tem tanta dor dentro de si que tenta se machucar externamente porque quer ajuda, mas é a ajuda errada que você está pedindo”, declarou. “As pessoas veem isso como um lobo chorando ou em busca de atenção, e acham que. por estar na mídia o tempo todo, você tem atenção suficiente. Mas eu estava realmente chorando porque queria melhorar para seguir em frente e continuar meu dever e meu papel como esposa, mãe, princesa de Gales”, concluiu.

Lady Di confessou que se feriu nos braços e nas pernas, não gostava de si mesma e tinha vergonha porque não conseguia suportar as pressões.

Princesa Diana
Diana
Doença alimentar

Outra luta enfrentada pela princesa do povo foi a bulimia, problema que ganhou destaque, inclusive, na série da Netflix The Crown. “Você inflige isso a si mesma porque sua autoestima está baixa e você não se acha digna ou de valor”, contou.

“Era um sintoma do que estava acontecendo em meu casamento. Eu estava gritando por ajuda, mas dando os sinais errados, e as pessoas estavam usando minha bulimia como um casaco em um cabide: eles decidiram que esse era o problema. Mais uma vez, Diana era instável”, refletiu a princesa, que enxergava o consolo na comida.

The Crown
Imagem da série The Crown
No centro dos holofotes

Para Lady Di, o aspecto mais assustador de sua jornada foi a atenção da mídia. “Meu marido e eu, quando ficamos noivos, fomos informados que a mídia iria trabalhar em silêncio, e não foi assim. Ao nos casamos, eles disseram que ia ser tranquilo e não foi; e então começou a se concentrar muito em mim, e eu parecia estar na capa de um jornal todos os dias, o que é uma experiência de isolamento. Quanto mais alto a mídia te coloca, maior será a queda. E eu estava muito ciente disso”, pronunciou.

Desde o momento em que o mundo descobriu que o príncipe de Gales tinha um romance com Diana, em 1980, a vida dos dois nunca mais foi a mesma. Por onde iam, eles eram seguidos pelos paparazzi e raramente conseguiam um minuto de privacidade. “Você se vê como um bom produto que fica na prateleira e vende bem, e as pessoas ganham muito dinheiro com você”, comentou a princesa na entrevista.

Lady Di usando Lady Dior
Diana era alvo dos paparazzi

Ciente de toda a atenção que recebia da mídia, a princesa confessou que não se sentia lisonjeada devido ao ciúmes de Charles de ficar em “segundo lugar”. Em razão disso, segundo Diana, muitas situações complicadas surgiram e o príncipe de Gales chegou a decidir que eles fariam menos compromissos juntos para que ele recebesse mais atenção por conta própria.

Novo rei da Inglaterra?

Sobre o futuro do trono britânico, Diana defendeu que toda vez que tocava no assunto com Charles, um conflito se instalava entre eles. “E eu entendi esse conflito, porque é um papel muito exigente, ser príncipe de Gales, mas é igualmente mais exigente o papel de ser rei”, frisou.

A possibilidade de William pular um degrau e se tornar o próximo monarca não passava pela cabeça da princesa Diana. “Você tem que ver que William é muito jovem no momento, então, você quer que um fardo como esse seja colocado em seus ombros com essa idade?”, disse. “Meu desejo é que meu marido encontre paz de espírito, e daí decorrem outras coisas, sim”, complementou.

william e charles
William e Charles
A princesa do povo

Uma das memórias mais marcantes de Diana é a do serviço público que ela prestou em suas visitas humanitárias e defesas de causas. “Eu me vi cada vez mais envolvida com pessoas que foram rejeitadas pela sociedade—eu diria, viciados em drogas, alcoolismo, feridos por isso e por aquilo— e eu encontrei uma afinidade ali”, afirmou a Martin Bashir.

“Eu respeitei muito a honestidade que encontrei nesse nível com as pessoas que conheci, porque nos hospícios, por exemplo, quando as pessoas estão morrendo, elas são muito mais abertas e mais vulneráveis, e muito mais reais do que as outras pessoas. E eu apreciei isso”

Princesa Diana
20 anos sem Diana: Morte da princesa deixou mundo de luto e abalou a monarquia
Diana era a princesa do povo

De acordo com Diana, ela teve sorte de ter encontrado seu papel. “Estou muito consciente disso e adoro estar com as pessoas”, defendeu.

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