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Televisão se reinventa com roteiristas de humor de sucesso na internet

Fenômenos como Porta dos Fundos e Choque de Cultura já estão consagrados, mas há uma nova geração de roteiristas de humor para conhecer

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Humoristas da internet: Rodolpho Rodrigo, Guilherme Sousa, Thiago Tonkiel e André Brandt
1 de 1 Humoristas da internet: Rodolpho Rodrigo, Guilherme Sousa, Thiago Tonkiel e André Brandt - Foto: Reprodução/Instagram

A televisão está sempre se reinventando e não é de hoje que vai buscar na internet novidades da arte da comédia. Mas se os fenômenos Porta dos Fundos e Choque de Cultura, que saíram do YouTube diretamente para a TV, já estão mais do que consagrados, há toda uma nova geração de roteiristas de humor que merece ser conhecida e reconhecida. No Twitter, eles já estão fazendo sucesso.

Foi por causa do Twitter que Rodolpho Rodrigo começou a trabalhar como roteirista. “Foi por conta do tipo de humor que eu fazia na internet que eu fui convidado a trabalhar escrevendo humor, profissionalmente. Hoje a internet serve como um amplificador do meu trabalho e também como uma vitrine, e o público é uma parte fundamental nesse processo”, comenta ele, que atualmente faz parte da equipe de redação do programa Sterblitch Não Tem Um Talk Show, da Globoplay, e tem mais de 166 mil seguidores no @rodpocket.

Assim como Rodrigo, André Brandt também já recebeu propostas de emprego por seus comentários na rede social. “Eu fui contratado para o Adnight Show, em 2016, por causa do meu Twitter. O Marcelo Adnet estava montando um time de redação para o programa e a Dani Calabresa mostrou três tweets meus para ele. No dia seguinte a gente já estava trabalhando junto e hoje somos muito amigos. Acho que cada vez mais, principalmente com a internet, onde todo mundo é produtor de conteúdo, a personalidade de um autor é um diferencial na hora de chamar para um determinado trabalho”, afirma o roteirista.

Já para Guilherme Sousa, o caminho foi inverso. O roteirista já trabalhava na Rede Globo quando viralizou com o quadro Dona Silvana, no qual interpreta áudios de sua própria mãe com uma animação 3D no @guilhermesousa, que tem mais de 138 mil seguidores no Twitter. “Minha mãe sempre foi de mandar muitos áudios e eu achava eles engraçados e postava na internet. Teve um dia que resolvi interpretar ela e usei a bonequinha 3D para exemplificar que de fato ela é uma figura. Acabou dando certo, as pessoas gostaram e pediram novos episódios”, diz ele.

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Apesar de abrir portas, os números em redes sociais não garantem nada. O mais importante é ter talento e competência, como comenta Thiago Tonkiel. “O mercado é pequeno, e às vezes se faz necessário trazer sangue novo para as produções e um perfil bombado na internet serve como portfólio. Mas escrever roteiro é um trabalho tão criativo quanto braçal. Existem fórmulas e atalhos que o roteirista só vai aprendendo com o tempo. A grande diferença entre profissionais de roteiro e de quem bomba nas redes sociais é que na internet você acaba criando um conteúdo feito quase que sob medida para o seu público; numa sala de roteiro você precisa se adaptar a cada projeto”, diz.

Mas a exposição na internet não deixa de ser um diferencial para quem trabalha por trás das câmeras. “O engajamento e o carinho das pessoas acabam sendo um termômetro do que elas gostam, então, acho que isso ajuda bastante. A internet acabou sendo uma vitrine para todo mundo expor suas ideias”, comenta Guilherme. Ao que Rodolpho concorda: “Eu sou cria da internet, do humor rápido, ácido, crítico e que viraliza. Poder fazer isso nas mídias tradicionais traz para o autor uma validação que a gente não precisa, mas que é muito gostosa. Minha personalidade e o tipo de humor que eu escrevo têm me colocado em projetos que eu amo, com pessoas que eu admiro e sempre fui fã”.

O isolamento social fez com que a TV precisasse aprender algo que a internet já estava mais do que acostumada a fazer: produzir conteúdo diretamente de casa, como o programa Desprogramado, no GShow, apresentado por Guilherme. “A ideia para o Desprogramado já existia desde o ano passado, mas acho que a Dona Silvana ajudou. Durante a quarentena fiquei sabendo que a Globo estava em busca de novos projetos de humor feitos em casa e o Desprogramado se encaixou perfeitamente no que a empresa estava buscando. É um programa feito 100% por mim, desde o roteiro até a edição. Tenho muito orgulho desse projeto e de ver ele acontecendo”, diz ele.

“A situação que vivemos durante a pandemia pode indicar uma mudança futura. Hoje ficou normal você conversar com outra pessoa por uma tela. Antigamente esse tipo de interação na TV era impensável, quase um sinal de ‘pobreza’ de produção. Hoje esse tipo de interação é realidade mundial e virou até mais uma ferramenta para a retomada segura das produções. As lives também podem ditar o futuro, já que antes de termos uma vacina vai ser quase improvável que algum artista faça um show num estádio, por exemplo”, comenta Thiago, que tem 52 mil seguidores no @tonkiel e atualmente desenvolve um novo formato de humor para o canal Multishow.

E assim como a internet influencia a TV, a TV também tem influenciado a internet a produzir conteúdos de mais qualidade. “Fui percebendo que o amador tinha ficado para trás e foi aí que tive a ideia de trazer o profissionalismo da TV para a internet. A facilidade de se fazer as coisas sem milhões de aprovações e burocracias é um atrativo para gente que quer ver as ideias saindo do papel. Eu acho que os programas de internet estão se profissionalizando principalmente para mostrar para a TV que não precisa ser uma emissora para ser seu próprio veículo”, garante André, roteirista do programa Boca a Boca, de Bianca Andrade, no canal do YouTube Boca Rosa, e que tem mais de 24 mil seguidores no Twitter @andrebrandt.

Os roteiristas garantem que, se produzido com qualidade, o conteúdo pode estar tanto na TV quanto na internet. “Uma das minhas missões como ator e roteirista é desmitificar o que a gente entende como ‘conteúdo para internet’ e ‘conteúdo para TV’. Eu acho que a partir do momento que ele é um conteúdo diferente e interessante vale para qualquer lugar, independente da plataforma. A pandemia está aí para provar que é possível fazer um programa com auditório ou em casa e isso não interfere no resultado final”, afirma Guilherme.

“Antigamente, você consumia audiovisual feito para a internet em telas muito pequenas: notebook, tablets e smartphones. Atualmente a maioria das TVs já conta com essa integração com a internet, ou seja, o tamanho das telas aumentou muito. Quem busca ganhar dinheiro com produções para a internet sabe que tem que investir em tecnologia para chegar perto da qualidade da TV. O brasileiro é acostumado a assistir TV e acho que esse hábito ainda vai durar algum tempo”, comenta Thiago.

“Eu acho que a televisão e a internet finalmente parecem estar se entendendo. Hoje essa relação parece estar mais balanceada e tanto a televisão quanto a internet parecem ter entendido que são muito melhores aliadas que inimigas”, comenta Rodolpho. “A Farra Filmes, minha produtora, nesses 6 últimos meses, já fez quatro trabalhos com talentos da internet, entre programas e web-séries, com qualidade equiparável às produções de TV. As coisas saem do papel mais rápido. A gente faz uma reunião numa semana e na outra está gravando”, complementa André.

E a conversa entre TV e internet também impacta o que é criado. “O humor vive se reinventando e acho isso ótimo porque nos força a sair da zona de conforto. Hoje o mundo é cheio de informação e não podemos mais ficar em cima do muro. É necessário se posicionar, seja no trabalho ou na sua vida pessoal. É importante que as conversas ou o humor gerem debates para que as pessoas busquem informação o tempo todo, acho que só assim vamos aos poucos mudar o mundo”, afirma Guilherme.

“Se pautar pelo que acontece na internet é uma forma de abordar um assunto com uma mínima certeza de que um grande número de pessoas já esteja por dentro desse assunto e que isso vá gerar alguma repercussão. A TV sempre está buscando público, seja quem trocou a TV pela internet, seja quem está assistindo a emissora concorrente. Essa briga pela audiência sempre vai existir. A internet pode ajudar a alavancar essa audiência muito com a publicidade espontânea que é gerada nas redes sociais a cada assunto que gera buzz”, comenta Thiago.

“Acho que o mundo mudou demais, né? E o humor sempre vai seguindo essa onda. Acho que toda piada é crítica, cada uma na sua escala. Até as piadas mais óbvias têm a sua carga de crítica, um alvo estabelecido. Outra coisa importante é a renovação das redações de programas. Tem que ter gente jovem, tem que ter gente que vive o mundo real, tem que ter representatividade, tem que ter gente que não se acomoda por medo de perder emprego. E a galera que é nativa da internet tem todo esse potencial para quebrar essas panelinhas”, afirma André.

“Eu acho que o humor sempre mudou. O drama é um sentimento universal. Já a comédia é uma experiência completamente singular. A piada que eu li no Twitter e ri muito naquele momento, pode não ser engraçada para você. Poderia nem ter sido engraçada para mim mesmo, caso eu estivesse num dia ruim. Não acho que a forma de se fazer humor mudou, mas a forma de rir vem mudando desde sempre e esse é o desafio”, garante Rodolpho

Um dos nichos de mercado para os roteiristas no momento é o de podcasts, que André conhece bem. Ao lado da namorada, a youtuber Foquinha, ele apresenta o Donos da Razão, que em apenas um ano de existência já bateu 2 milhões de plays e tem média de 200 mil ouvintes por mês. “O projeto nasceu porque eu e a Foquinha queríamos fazer algo juntos, de casal, porque a gente tem um humor e uma cabeça muito parecida. Mas a gente queria fugir desse romantismo exagerado e criamos um canal para mostrar um relacionamento real, sem estereótipos”, diz ele.

“O podcast me trouxe a possibilidade de falar com muita gente que nem imaginava o que fazia um roteirista. Eu brinco que eu estou levando a palavra do roteirista para a podosfera, porque existe muita curiosidade sobre os bastidores da TV e eu vivi muita coisa nos programas em que trabalhei. E graças ao Donos da Razão, fui chamado para roteirizar outros podcasts e criar formatos novos para produtoras. É um novo mercado e com certeza vai ter muita gente que escreve para TV e internet sendo chamado. Está viva a profissão do roteirista!”, conclui André.

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