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Movimento antivacinas cresce na internet e assusta o governo

Pesquisas mostram que 13% dos brasileiros desconfiam em algum grau da imunização. Redes sociais viraram terreno fértil para boatos

atualizado

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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1 de 1 vacina3 - Foto: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em um esforço que conta com o apoio das maiores redes sociais, de universidades e de entidades sem fins lucrativos, o governo brasileiro tem buscado combater notícias falsas e boatos relacionados a vacinas, mas enfrenta um desafio do tamanho da internet – que já está acessível a 70% dos cidadãos do país (cerca de 127 milhões de pessoas) segundo as últimas pesquisas.

Apesar do empenho, os movimentos que estimulam a resistência à vacinação estão crescendo e têm responsabilidade na queda gradual nos índices de imunização no país na última década e no ressurgimento de males que pareciam coisa do passado, como o sarampo, que bateu recordes de contágio no ano passado.

A desconfiança sobre as vacinas, explica a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, sempre existiu. A diferença agora é o crescimento dessa visão. “Pesquisas sempre encontraram cerca de 4% a 5% da população que realmente não confia nas vacinas. Com a ferramenta da internet, essas pessoas conseguiram achar umas às outras e estão espalhando as teorias da conspiração”, afirma ela.

Pesquisa divulgada no fim do ano passado pela SBIm em conjunto com o site Avaaz mostrou que o problema é grande. Segundo o levantamento, feito pelo Ibope, a maioria dos brasileiros (67%) acredita em ao menos uma informação imprecisa sobre vacinação. Apesar disso, 87% garantem nunca ter deixado de se vacinar ou vacinar uma criança sob sua responsabilidade.

“Só que o nosso país é muito grande. Os 13% que eventualmente deixaram de se vacinar representam um pouco mais de 20 milhões de pessoas”, alerta a doutora Isabella.

Perigo virtual
Apesar de sites como Twitter, Facebook e YouTube direcionarem quem busca termos como “perigos da vacina” e “movimento antivacinas” para uma página informativa do Ministério da Saúde (veja na imagem abaixo), é possível – e fácil – ter acesso a material com informações falsas nessas redes. São textos, vídeos e apresentações de slides que defendem boatos como o de que o bilionário americano Bill Gates investe em vacinas num plano maligno para reduzir a população mundial.

Reprodução/Twitter

Em serviços virtuais com os quais o governo brasileiro não tem convênio para combater fake news, como o aplicativo de mensagens Telegram, o terreno é ainda mais fértil para a difusão dos boatos sobre vacinas. Em uma busca por palavras-chave no aplicativo é possível encontrar grupos onde dezenas de pessoas trocam informações sem fontes confiáveis, pedem ajuda para burlar o controle governamental e dão dicas de produtos naturais que seriam alternativas às vacinas (não são).

Veja exemplos:

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Boataria patrocinada
De acordo com o diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Júlio Croda, o lobby de entidades que produzem esses compostos vendidos como naturais ajuda a patrocinar os sites que divulgam informações falsas sobre as vacinas. “O fato é que estamos enfrentando uma queda importante na cobertura vacinal desde 2013, principalmente, e um componente importante nesse cenário é o movimento antivacinas, que a gente luta para combater”, afirma.

“Desde 2009, o Estado brasileiro tem investido muitos recursos em campanhas publicitárias, mas é fato que o público está tendo muito acesso a desinformação, a mentiras. E isso atrapalha demais”, completa o gestor público.

A pesquisa do SBIm apurou que, entre os 13% “não vacinantes” da população brasileira, mais da metade (57%) justificou a decisão com base em motivos considerados desinformação pela entidade.

Os motivos mais apontados foram: “não achei a vacina necessária (31%)”; “medo de ter efeitos colaterais graves após tomar uma vacina (24%)”; “medo de contrair a doença que estava tentando prevenir com a vacina (18%)”; “por causa das notícias, histórias ou alertas que li on-line (9%) e “por causa dos alertas, notícias e histórias de líderes religiosos” (4%).

Todos esses aspectos ficam claros no grupo acompanhado pela reportagem no aplicativo Telegram. Veja:

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A pesquisa, que rendeu um estudo chamado “As Fake News estão nos deixando doentes?”, apurou ainda que 48% dos entrevistados buscava informações (em geral e sobre saúde e vacinas) em redes sociais e aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram. E 38% disseram receber mensagens negativas sobre vacinação com alguma regularidade.

Guia de informações confiáveis
O Ministério da Saúde tem uma página dedicada a desmentir boatos e divulgar informações sobre vacinas. Acesse aqui. A pasta mantém ainda um serviço de resposta de dúvidas pelo WhatsApp. Para utilizar esse serviço é só adicionar o número (61) 99289-4640 na agenda e enviar mensagens. “O serviço foi lançado há um ano, em janeiro de 2019, e já respondeu 20 mil questionamentos”, afirma o diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

A Sociedade Brasileira de Imunizações também tem uma página na internet voltada para informar sobre calendário vacinal, importância da imunização e desmentido de boatos. O site é validado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e faz parte de uma estratégia global da entidade para combater as notícias falsas relacionadas à vacina.

A Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto mantém uma iniciativa chamada União Pró-Vacina, que criou uma ferramenta para descobrir que amigos do Facebook de cada usuário curtiram ou seguem páginas na rede social que são focos de divulgação de notícias falsas em várias áreas, incluindo vacinas. Veja aqui.

Crescimento assustador do sarampo
O Brasil foi um orgulhoso detentor de um certificado de erradicação do sarampo, mas essa alegria é coisa do passado. Em 2019, foram confirmados 15.914 casos da doença no Brasil.

O Ministério da Saúde considera ideal a taxa de ao menos 95% das crianças de até um ano vacinadas para conseguir interromper a transmissão. No entanto, um quarto das cidades brasileiras não atingiu essa meta.

A capital federal está entre as cidades que não atingiu os 95%. O índice ficou em 93,7%, maior apenas que o Pará (85,4%), Roraima (87,9%), Bahia (88,9%), Maranhão (90%), Acre (91,4%) e Piauí (91,9%). São Paulo (93,9%) e Amapá (94,9%) também não alcançaram a meta.

Medidas judiciais
Casos de famílias que não vacinam os filhos têm chegado à Justiça, que passou a determinar imunização das crianças. Nos últimos seis meses, houve ao menos três episódios no país. Especialistas explicam que a vacinação é um direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e que a falta de proteção contra doenças põe a vida das crianças em risco. Nesses casos, os pais podem ser multados e até perder a guarda da criança.

O mais recente foi no início de janeiro, quando a Justiça de Minas determinou que um casal vacinasse os dois filhos. Os pais diziam que tinham se baseado em artigos científicos e informaram que se converteram a uma religião que proíbe a “contaminação por vacina”. Após perder a ação em 1ª instância, a família recorreu, mas perdeu.

Para fundamentar sua decisão, o desembargador Dárcio Lopardi Mendes citou a Constituição, que “proclama a saúde como direito social” e “preconiza que a saúde é direito de todos e constitui dever do Estado assegurá-la, de forma a resguardar um bem maior: a vida”.

Também foi com base na Constituição que Carlos Roberto da Silva, desembargador da 7ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), determinou que um casal de Rio do Sul, região do Alto Vale catarinense, atualizasse a carteira de vacinação dos três filhos em julho de 2019.

Em São Paulo, o Ministério Público Estadual (MPE) resolveu intervir no caso de uma família de Paulínia, que não queria vacinar o filho de 2 anos. “O casal informou que optou por um crescimento de ‘intervenções mínimas’, que o filho estava saudável e que ele não ia à escola, portanto, estaria ‘longe de riscos de infecções'”, informou a assessoria do órgão.

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