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Versão de Pazuello sobre oxigênio em Manaus revolta senadores

Ex-ministro declarou que estoque negativo do produto hospitalar durou três dias na capital amazonense. Senadores dizem que é mentira

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Eduardo Pazuello_CPI da Covid
1 de 1 Eduardo Pazuello_CPI da Covid - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Ao tentar se explicar sobre a falta de oxigênio hospitalar em Manaus, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou, nesta quinta-feira (19/5), que o estoque ficou negativo durante três dias em janeiro. A declaração gerou revolta nos senadores da comissão. Os parlamentares amazonenses Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD), presidente da CPI da Covid, reagiram.

“Quando a gente observa aqui os mapas, a gente vê que a White Martins começa a consumir o seu estoque já no fim de dezembro. Então, ela tem um consumo, uma demanda e um consumo obviamente dito e começa a entrar no negativo. E esse estoque vai se encerrar no dia 13 [de janeiro]. É quando acontece – de 13 para 14, e de 14 para 15 – uma queda de mais ou menos 20% da demanda e do consumo do estado”, declarou Pazuello.

Incomodado, Braga disse que os dados revelados pelo ex-ministro estavam incorretos. “É preciso dizer ao povo brasileiro, sob pena de nós estarmos aqui sendo coniventes com uma informação errada, desculpe a expressão, mentirosa: não faltou oxigênio no Amazonas apenas três dias, pelo amor de Deus. Faltou oxigênio na cidade de Manaus mais de 20 dias. É só ver o número de mortos. É só ver o desespero das pessoas tentando chegar ao oxigênio”, afirmou.

“Não são os dados que estão comigo”, rebateu Pazuello. O ex-ministro presta depoimento, nesta quarta-feira, na CPI da Covid-19.

Braga ressaltou, então, que houve pico de morte no Amazonas, inclusive no dia 30 de janeiro. “E, antes, nós ficávamos dependendo da ajuda do Gusttavo Lima, do Paulo Gustavo e do Tirulipa”, pontuou.

“Ministro, pelo amor de Deus, vamos deixar clara a responsabilidade do governo do estado, da prefeitura e do governo federal, porque amazonenses morreram, brasileiros morreram. E vamos parar de ficar dizendo que foram três dias de falta de oxigênio”, acrescentou.

Aziz destacou que a fala do ex-ministro continha “uma série de equívocos e erros”. “Ministro, tem uma série de equívocos e erros nesse processo – tanto por parte do governo do estado, como por parte também do Ministério das Relações Exteriores, que foi incapaz de dar um telefonema para trazer de avião o oxigênio da Venezuela, um ponto. Segundo ponto, foi de conhecimento do Brasil todo que os Estados Unidos colocaram aeronaves à disposição, através da ONU”, assinalou.

“Que houve o problema, nós sabemos. Que é de competência do estado, sabemos também. Sabemos também que a planta da White Martins não está projetada acima daquilo para produzir de oxigênio. Correto? Não dá para você dobrar a capacidade de produção do dia para a noite. Por que não trazer oxigênio da Venezuela? Por que não aceitar os aviões americanos, que já estavam preparados para trazer?”, questionou Aziz.

“Eu só quero complementar que, de 10 a 20 de janeiro, quando chegou a primeira carga da Venezuela, passaram-se 10 dias morrendo, em média, 200 pessoas por dia, no Amazonas. Foram 2 mil amazonenses que morreram. Nós poderíamos ter colocado aquele oxigênio”, concluiu Braga.

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Pazuello é o oitavo depoente do colegiado. Antes deles, os senadores ouviram os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e o atual chefe da Saúde, Marcelo Queiroga.

O ex-chanceler Ernesto Araújo, o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, também prestaram depoimento.

A CPI da Covid-19 tem o objetivo de investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio, além de apurar possíveis irregularidades em repasses federais a estados e municípios.

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