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Lula na China: pragmático, petista contempla opositores e faz contraponto a Bolsonaro

Bolsonaro também visitou o país asiático no 1º ano de mandato, mas Lula leva mais gente na comitiva e buscará pauta menos ideológica

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
Lula assina termo de posse de ministros
1 de 1 Lula assina termo de posse de ministros - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Com viagem marcada para a China a partir deste sábado (25/3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta marcar posição em relação à política externa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também visitou o país asiático em seu primeiro ano de mandato, em 2019.

O petista, no entanto, pretende adotar um tom mais pragmático e menos ideológico. Contemplou opositores em sua comitiva e preparou uma pauta mais focada no comércio bilateral com o país de Xi Jinping. O objetivo é elaborar uma nova fase no relacionamento sino-brasileiro.

Lula prioriza a China ainda no primeiro semestre de mandato, quase dois meses depois de encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que mantém uma relação tensionada com os asiáticos. Em 2019, Bolsonaro só visitou o país em outubro, dias depois de conquistar sua primeira grande vitória no Congresso, com a aprovação da reforma da Previdência. Ele também só viajou a nação asiática após priorizar os EUA.

Naquela época, o bolsonarismo já mostrava indisposição com o regime chinês, mas buscava minimizar divergências político-ideológicas: “Não vim falar sobre questão política da China”, disse Bolsonaro ao desembarcar no país.

A China é estratégica para a política internacional brasileira há mais de uma década, desde 2009, quando se tornou a principal parceira comercial do Brasil.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), dentre as 27 unidades da Federação, 14 têm o país asiático como seu principal destino das exportações.

No ano passado, as trocas comerciais entre os dois países tiveram recordes. A China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume comercializado, US$ 150,4 bilhões, cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004.

Pragmatismo

A viagem de Bolsonaro serviu para o anúncio de isenção de vistos chineses para entrar no Brasil. Também foram assinados acordos sobre a cooperação em energias renováveis e eficiência elétrica entre os dois países; reconhecimento mútuo de operadores econômicos autorizados; relações comerciais de produtos agrícolas, exportação de carnes bovinas processadas e intercâmbio de jovens cientistas.

Ele ainda quis manter uma distância entre a briga econômica envolvendo os Estados Unidos e a China. “Não é briga nossa. Queremos inserir [o Brasil], sem qualquer viés ideológico, nas economias do mundo”, emendou.

Essa questão, inclusive, segue na agenda e preocupa o Itamaraty. De 2019 para cá, a disputa comercial entre EUA e China escalou e o governo americano demonstra preocupação com a relação Brasil-China.

Na pauta atual, há alguns temas novos, como a guerra na Ucrânia. O Brasil tenta se colocar como mediador do conflito, que tem a China como uma espécie de apoiador do governo russo, responsável pelas invasões.

Questionado em entrevista na última terça-feira (21/3) se o tema da paz mundial iria entrar na pauta das discussões, Lula respondeu: “Se depender de mim, vai”. Ele ainda classificou como positiva a visita de Xi Jinping a Moscou no início da semana.

“Esse é um assunto que vou conversar com o presidente chinês. E eu acho que já é uma grande novidade a China ter ido à Rússia, muito boa novidade. É preciso que a gente pare todo mundo e fale: ‘Vamos voltar a conversar’. E eu estou convencido de que o Brasil pode dar uma contribuição extraordinária para colocar fim à guerra e voltar a paz”, disse Lula.

Nesta semana, o Brasil volta a vender carne bovina para o país asiático, após o fim da suspensão da compra por razões fitossanitárias.

Está prevista ainda a assinatura de pelo menos 20 acordos bilaterais.

Comitiva

Foram a Pequim com Bolsonaro 21 pessoas convidadas pelo ex-presidente, entre ministros, parlamentares e governadores, além dos 13 integrantes da comitiva técnica e de apoio a Bolsonaro, informou a assessoria de imprensa do Itamaraty.

Bolsonaro levou seis ministros: Tereza Cristina (Agricultura); Onyx Lorenzoni (Casa Civil); Ernesto Araújo (Relações Exteriores); Osmar Terra (Cidadania); Bento Albuquerque (Minas e Energia); e Augusto Heleno (GSI). Entre os deputados, estava o deputado Marco Feliciano.

Já em 2023, Lula ampliou o número de convidados. Além de secretários, governadores e parlamentares, há centenas de empresários, a maioria deles ligada ao agronegócio (veja a lista completa dos ligados à área aqui).

Entre os empresários, estão os irmãos Joesley e Wesley Batista, empresários do grupo J&F, da JBS. Também há empreendedores que, em 2022, apoiaram financeiramente as campanhas de bolsonaristas.

Um deles é Hugo Leonardo Bongiorno, da Avenorte, um grupo de fabricação de alimentos e bebidas do Paraná. Em 2022, Bongiorno doou R$ 25 mil a Bolsonaro, além de R$ 62,5 mil ao governador candidato à reeleição Ratinho Jr. (PSD), aliado do ex-presidente.

Há ainda parlamentares críticos ao PT e aliados do ex-presidente. Entre eles, deputados que votaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016, como Fausto Pinato (PP-AL), Luiz Fernando Faria (PSD-MG), Eduardo da Fonte (PP-PE), Julio Cesar (PSD-PI), Alex Manente (Cidadania-SP) e Luís Tibé (Avante-MG).

Entre os ministros de Estado que acompanharão com Lula, estão: Fernando Haddad (Fazenda); Marina Silva (Meio Ambiente); Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação); Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária); e Mauro Vieira (Relações Exteriores); além do assessor internacional Celso Amorim.

Lula convidou os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas apenas Pacheco aceitou o convite. Lira alegou que vai continuar no Brasil para tocar as discussões em torno do novo arcabouço fiscal, medida que substituirá o teto de gastos.

A negativa de Lira pode respingar no governo, uma vez que sinaliza que o diálogo com o governo não está na melhor forma. A distância entre os chefes da Câmara e do Senado se insere no contexto de embate em torno da tramitação das medidas provisórias (MPs).

Após rejeitar decisão de Pacheco sobre MPs, Lira diz “buscar entendimento”

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