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Governo abre torneira e paga R$ 5,6 bi via orçamento secreto em junho

Quantias empenhadas superaram R$ 3,2 bilhões dias após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro pela PF

atualizado

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Vinicius Santa Rosa/Metrópoles
Palácio do Planalto
1 de 1 Palácio do Planalto - Foto: Vinicius Santa Rosa/Metrópoles

O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) pagou, em junho deste ano, o maior valor mensal em emendas de relator, que fazem parte do chamado orçamento paralelo (ou orçamento secreto), desde janeiro de 2020 – quando os recursos passaram a ser bancados. Foram transferidos cerca de R$ 5,678 bilhões até quinta-feira (30/6), último dia do mês.

Antes disso, o maior valor liberado em um único mês havia sido em dezembro de 2021, quando foram pagos R$ 3,112 milhões em emendas de relator.

Confira:

Os dados são do Sistema Integrado de Finanças Públicas (Siaf), compilados pela ONG Contas Abertas e repassados ao Metrópoles. O orçamento paralelo tem sido usado pela gestão Bolsonaro para “acalmar” parlamentares, nas palavras do próprio presidente. E recebeu a alcunha de secreto porque não se sabia, até 2021, qual parlamentar indicou a utilização dos recursos, nem a justificativa.

Chama a atenção o notável aumento nos valores empenhados no fim da semana passada. Na quinta-feira (23/6), R$ 1,7 bilhão foi reservado. Já na sexta (24/6), R$ 1,5 bilhão.

Essa movimentação ocorreu logo após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, investigado pela Polícia Federal (PF) por suposto envolvimento em esquema de favorecimento indevido operado por pastores sem cargo no Ministério da Educação.

CPI do MEC

A torneira aberta joga luz à tentativa do governo de frear a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o suposto esquema de corrupção no MEC. O pedido de protocolização foi entregue pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), líder da oposição no Senado, no início da tarde de terça-feira (28/6).

Apesar dos altos números, o valor empenhado foi ainda maior em 15 de junho e chegou a R$ 1,8 bilhão, dia em que a Câmara dos Deputados concluiu a votação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, que fixa em 17% o teto do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, transporte coletivo e telecomunicações.

A medida, que envolveu alinhamento de Bolsonaro com o presidente do parlamento, Arthur Lira (PP-AL), foi considerada importante para tentar estancar o aumento dos combustíveis e, consequentemente, ajudar a avaliação do ocupante do Palácio do Planalto em ano eleitoral, com pesquisas desfavoráveis até o momento.

O aumento nos valores também pode ser justificado porque, de acordo com a lei eleitoral, o prazo máximo para indicação de emendas é atingido neste sábado (2/7).

Valor por ministério

De janeiro a junho deste ano, o Ministério da Saúde foi a pasta com o maior valor destinado por meio das emendas de relator: R$ 6,745 milhões, incluindo restos a pagar pagos. Na segunda colocação, está o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), com R$ 1,264 milhão, que figurou no centro do escândalo do tratoraço, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ao aprovar com ressalvas as contas do presidente da República, o Tribunal de Contas da União (TCU) afirmou que a distribuição de emendas de relator para as áreas de Saúde e Assistência Social não atende critérios objetivos previstos constitucional e legalmente para alocação dos recursos da União nessas áreas.

“Não há evidência de observância de critérios objetivos nas escolhas alocativas e dos pressupostos que orientam o planejamento governamental, fatores críticos que comprometem a governança orçamentária, com risco potencial de afetar, em razão de disfunções do processo orçamentário, a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais”, assinalou o TCU.

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