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Ex-assessor de Flávio Bolsonaro fez 16 saques que somam R$ 260 mil

Husdon cursou a Academia Militar das Agulhas Negras no mesmo período em que o presidente Jair Bolsonaro

atualizado

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Guilherme Henrique dos Santos Hudson, coronel da reserva do Exército e também ex-assessor de Flávio Bolsonaro, sacou da conta bancária pessoal, em dinheiro vivo, um total de R$ 260 mil em 16 oportunidades, nos anos de 2009 e 2016. As informações foram obtidas pelo O Globo.

No âmbito das investigação sobre suposta prática de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foi descoberto que as retiradas feitas pelo coronel da reserva eram superiores a R$ 10 mil em cada ocasião. Também foram identificadas pelo banco com uma observação: “procedimento indica saque em espécie”. O registro é obrigatório nas instituições financeiras em operações desse tipo.

Os documentos mostram também que Hudson, que teve parentes lotados nos gabinetes de Flávio e Carlos Bolsonaro, fez as declarações de imposto de renda de investigados nos últimos anos.

Os saques

De acordo com as investigações, a maior parte dos saques ocorreu em 2016, quando foram feitas 11 retiradas de dinheiro. Os dados indicam que as operações ocorreram por mês, normalmente no mesmo valor, que variou entre R$ 10 mil e R$ 12,1 mil.

Já no dia 25 de março de 2009, houve a maior das operações de saque, quando o coronel retirou R$ 50 mil em espécie da conta corrente no Banco do Brasil, restando apenas R$ 818,44.

É obrigação das instituições financeiras registrar saques superiores a R$ 10 mil e informar transações consideradas atípicas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Os saques feitos por Hudson contabilizaram, ao todo, R$ 1,29 milhão entre 2007 e 2018. Quando não retirava o dinheiro em alta quantia, ele dividia em várias operações ao longo do mesmo dia.

As investigações registaram ao menos 431 oportunidades em que isso ocorreu, o equivalente a 25% de todos os saques feitos entre 2007 e 2018.

Investigações

O coronel da reserva tem relação tanto na investigação sobre Flávio como no procedimento que apura funcionários fantasmas e “rachadinha” no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro.

Husdon cursou a Academia Militar das Agulhas Negras no mesmo período em que o presidente Jair Bolsonaro, de 1973 a 1977. Os dois também têm parentesco.

O militar é casado com a dona de casa Ana Maria de Siqueira Hudson, tia de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do presidente Jair Bolsonaro. Eles têm três filhos e apenas um integrante dos Hudson nunca constou como assessor da família Bolsonaro.

Nomeações

De acordo com a investigação, Hudson entrou para a reserva em 1998 e seu último posto foi no Comando da 7ª Região Militar/7ª Divisão de Exército, em Recife (PE). Depois disso, o casal retornou para Resende, no sul do estado do Rio de Janeiro. Tempos depois, quando Bolsonaro já vivia com Ana Cristina, a mulher do militar foi nomeada no gabinete de Flávio, de agosto de 2005 a junho de 2018.

O filho dele e duas noras ocuparam cargos no gabinete de Carlos Bolsonaro. De acordo com uma matéria da revista Época no ano passado, Guilherme de Siqueira Hudson, ainda estudante de direito, foi transformado em chefe de gabinete em 2008, mas vivia em Resende e sequer teve crachá até o fim de 2017.

Durante um período de dois meses, em 2018, Hudson constou como nomeado no gabinete de Flávio, mas tinha um outro papel importante. Era ele quem fazia as declarações de imposto de renda de alguns integrantes da família Siqueira, agora investigada pelo MP.

Os documentos da fisiculturista Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina, foram entregues para a Receita Federal com um endereço na rua Erick Nordskog, no bairro Jardim Brasília 2, em Resende, local onde mora o coronel e a mulher. As declarações de 2013 a 2018 foram todas submetidas com esse endereço e o telefone do militar. Andrea nunca morou nesse endereço.

Com a publicação da investigação da “rachadinha”, em 2019, os documentos submetidos à Receita Federal tinham outro endereço: a casa onde moram os pais de Andrea e na qual ela vivia também durante esses anos. A fisiculturista, no entanto, estava vivendo em Guarapari, no Espírito Santo, e trabalhava como faxineira.

Família investigada

Ao todo, cinco pessoas são investigadas na família Hudson. O coronel e a mulher são alvo do MP nas investigações sobre Flávio e Fabrício Queiroz.

Hudson e a mulher tiveram o sigilo quebrado e receberam mandado de busca e apreensão em dezembro do ano passado. Já no caso de Carlos, estão o filho Guilherme, Ananda e Monique, as duas noras.

No dia 30 de outubro de 2019, o coronel e o filho estiveram no gabinete de Carlos. Por meio dos registros da Câmara dos Vereadores, o Globo verificou que os dois chegaram às 15h05m e indicaram na portaria que ficaram no local até as 17h45m. No dia 9 de novembro, pouco mais de uma semana depois, Guilherme prestou depoimento aos promotores do MP.

Procurado, o advogado Magno Cardoso, que defende que a família Siqueira, afirmou que não vai se pronunciar.

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