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Entidades e políticos criticam ameaça de Bolsonaro a repórter: “Lamentável”

Mais cedo, presidente disse que daria uma “porrada” em jornalista que o questionou sobre depósitos na conta da primeira-dama

atualizado

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GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
Bolsonaro diz a reporter: 'Vontade que tenho È encher sua boca de porrada'
1 de 1 Bolsonaro diz a reporter: 'Vontade que tenho È encher sua boca de porrada' - Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO

Entidades e políticos criticaram a ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a um repórter do jornal O Globo neste domingo (23/8).

Bolsonaro estava visitando a Catedral de Brasília quando foi questionado pelo jornalista sobre os depósitos feitos pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz, na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro (entenda mais abaixo).

“Minha vontade é encher tua boca na porrada, tá?”, respondeu o presidente.

Após a reação de Bolsonaro, outros repórteres que estavam no local perguntaram ao chefe do Executivo se aquilo se tratava de uma ameaça. O presidente não respondeu aos questionamentos e deixou o local logo em seguida.

Repercussão

Em nota, o jornal O Globo repudiou a atitude do presidente da República e afirmou que Bolsonaro “desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população”.

“O GLOBO repudia a agressão do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal que apenas exercia sua função, de forma totalmente profissional, neste domingo. […] Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos”, disse o jornal.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras emitiram uma nota conjunta.

O texto diz que “um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias”. “Tal comportamento inadmissível por parte de um presidente da República deveria ser condenado por todas as instituições e cidadãos comprometidos com a estabilidade e o progresso do Brasil.”

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) disse que “e lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma agressiva e destemperada a uma pergunta de jornalista”.

“Essa atitude em nada contribui com o ambiente democrático e de liberdade de imprensa previstos pela Constituição”, afirmou a associação em nota divulgada pelo O Globo.

A Associação Brasileira de Imprensa afirmou que “mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro choca o país com seu comportamento grosseiro”.

“Tal comportamento mostra não apenas uma inaceitável falta de educação. É, também, uma tentativa de intimidação da imprensa, buscando impedir questionamentos incômodos”, declarou a ABI, em nota.

“Por fim, [a associação] lembra, ao primeiro mandatário do país que o cargo que ocupa exige maior decoro. Tenha compostura, senhor presidente”, continuou.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) cobraram o impeachment do presidente Jair Bolsonaro.

“Ameaça é crime previsto no artigo 147 do Código Penal. Vindo de um presidente da República, que recebeu a incumbência e ainda fez o juramento de zelar pelo respeito à Constituição e às leis do país, torna-se um crime ainda mais grave. Até quando as instituições do país vão seguir fazendo vista grossa para um sem número de barbaridades e violações legais cometidas por este sujeito? Além de autoritário, Bolsonaro não sabe conviver com as regras mais básicas de uma sociedade civilizada e ainda demonstra um completo desequilíbrio emocional para estar à frente do cargo mais importante do país”, afirmou.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasi (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou ser “lamentável ver a volta do perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas”.

Deputados, senadores e partidos também se manifestaram contra a postura do presidente Jair Bolsonaro e em solidariedade ao jornalista.

Senador Humberto Costa (PT-PE)

“ABSURDO – Bolsonaro disse há pouco a um repórter que estava com vontade de “encher a boca” dele de porrada,depois de perguntado sobre os depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama.O presidente estava em frente à Catedral de Brasília quando fez a ameaça.

A absurda ameaça feita por @JairBolsonaro a um repórter do Globo que perguntou sobre os depósitos suspeitos de Queiroz na conta da primeira-dama mostra o desespero do presidente. Até hoje, ele não deu qualquer explicação sobre o assunto. Por quê? Cadê a resposta, falastrão?”

Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do partido no Senado

“Ao ser perguntado sobre os depósitos de Queiroz p/ a primeira-dama, Bolsonaro ameaçou um jornalista de agressão física. O medo de responder é tão grande que Bolsonaro quer silenciar quem o fiscaliza de toda forma… Ele vai dizer o mesmo à justiça?”

Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido no Senado

“‘A vontade que eu tenho é de encher sua boca de porrada’. É assim que o Bolsonaro responde a um jornalista por perguntar a ele sobre uma suspeita de corrupção. Acabou o tempo do Bolsonaro paz e amor! #forabolsonaro”

Deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder do partido na Câmara

“O que se espera de um presidente é que ele se comporte à altura do cargo que ocupa. Ameaças à imprensa são ameaças à própria democracia. Além disso, Bolsonaro tenta esconder o que aos poucos está vindo à tona: seu envolvimento num esquema criminoso.”

Deputado José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria na Câmara

“Veja o vídeo em que Bolsonaro diz querer encher a boca do repórter de porrada. Quando perguntado sobre Queiroz, Bolsonaro partiu pra agressão verbal contra o jornalista. Que fique registrado na história como um tirano trata a imprensa e também o seu medo em falar sobre Queiroz.

Que fique marcada na história a tirania de quem nos governa. Bolsonaro não mudou. Continua autoritário e vai continuar se irritando quando o assunto é Queiroz. Ele sabe que sua família deve explicações.”

Deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), vice-líder do partido na Câmara

“Bolsonaro mostra total desequilibro quando o assunto é a relação dele e familiares com Queiroz e milicianos. Uma espécie de confissão de culpa! Não é a boca da repórter do Globo que Bolsonaro quer encher de porrada; mas de toda a imprensa, de quem o incomode. Um ser violento, psicopata e covarde, eis quem hoje ocupa a Presidência. Nunca a Presidência da República foi tão humilhada por quem a ocupa.”

PSDB

“O presidente volta a mostrar apreço por posturas agressivas e antidemocráticas. Desrespeita a liberdade de imprensa, em atitude que não condiz com o cargo que ocupa. Agindo assim, não nega apenas uma resposta ao jornalista; nega também a informação transparente aos brasileiros.”

MDB

“O MDB defende a liberdade de imprensa e o respeito aos jornalistas profissionais. O presidente da República precisa se retratar pelo que disse ao repórter do jornal O Globo neste domingo. #PontoDeEquilíbrio”

Depósitos na conta da primeira-dama

A informação sobre depósitos feitos por Fabrício Queiroz e a esposa, Marcia Aguiar, foram revelados pela revista Crusoé. De acordo com o veículo, foi repassado um total de R$ 89 mil à primeira-dama Michelle Bolsonaro.

A reportagem teve acesso à quebra de sigilo bancário do ex-assessor, autorizado pela Justiça. Extratos bancários de Queiroz mostram que foram depositados 21 cheques na conta de Michelle, entre 2011 e 2016, totalizando R$ 72 mil.

Em dezembro de 2018, o Ministério Público do Rio de Janeiro, afirmou que, com base em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz havia depositado cheques no valor de R$ 24 mil na conta da primeira-dama.

Na época, o presidente Jair Bolsonaro disse que o valor fazia parte de um empréstimo feito ao ex-assessor, que os depósitos eram parte do pagamento dessa dívida e que o valor total chegava a R$ 40 mil.

“Não foi por uma, foi por duas vezes que o Queiroz teve dívida comigo e me pagou com cheques. E não veio para a minha conta esse cheque, porque simplesmente eu deixei no Rio de Janeiro. Não estaria na minha conta. E não foram R$ 24 mil. Foram R$ 40 mil”, explicou o presidente.

Os documentos obtidos pela Crusoé divergem da versão do presidente, uma vez que não constam depósitos em nome de Jair Bolsonaro na conta de Queiroz.

Rachadinha

O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga Flávio Bolsonaro, suspeito de chefiar um suposto esquema conhecido por rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

No esquema, funcionários do então deputado estadual Flávio devolviam parte do salário para que o dinheiro fosse lavado por meio de uma loja de chocolate e investimento em imóveis.

De acordo com as investigações, Fabrício Queiroz era o operador financeiro do esquema, sendo responsável por receber o dinheiro e fazer pagamentos a fim de cobrir despesas de Flávio.

Segundo a Crusoé, entre 2007 e 2018, os créditos na conta de Queiroz totalizaram R$ 6,2 milhões.

O ex-assessor foi preso no dia 18 de junho, em Atibaia, interior de São Paulo. Ele e a esposa cumprem prisão domiciliar em razão da pandemia do coronavírus.

Os dois têm de usar tornozeleiras eletrônicas e não podem ir além da varanda do apartamento.

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