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Bolsonaristas mudam narrativa sobre direitos humanos após prisões por 8/1

Publicações antigas de deputados bolsonaristas mostram mudança de discurso sobre direitos humanos depois que golpistas de 8/1 foram presos

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Carla Zambelli Omagem colorida mostra deputada federal Carla Zambelli, representante do grupo dos bolsonaristas - Metrópoles
1 de 1 Carla Zambelli Omagem colorida mostra deputada federal Carla Zambelli, representante do grupo dos bolsonaristas - Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Com o retorno das atividades no Congresso Nacional, deputados bolsonaristas, em discurso alinhado, têm recorrido às falas em plenário para endossar a versão de que os golpistas presos na invasão às sedes dos Poderes, em 8 de janeiro, são mantidos em condições insalubres nas celas do Complexo Penitenciário da Papuda e da Penitenciária Federal Feminina, a Colmeia.

Chama atenção, porém, a contradição dos discursos dos congressistas que, hoje, assumem a oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso porque a defesa dos direitos humanos aos presos e críticas à precariedade estrutural do sistema penitenciário brasileiro nunca foram verdadeiras pautas da ala mais conservadora do Parlamento, até as prisões em massa dos golpistas.

Recentemente, inclusive, um batalhão de deputados alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recorreu à Defensoria Pública da União e ao Ministério dos Direitos Humanos sob alegação de que os detidos eram mantidos “tolhidos de condições básicas”. Contudo, vários dos quase 20 signatários das representações criticavam, até pouco tempo, a defesa dos direitos humanos por parlamentares alinhados à esquerda e pautas progressistas.

Um exemplo da mudança de narrativa bolsonarista parte da própria autora da peça, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que encabeça o clamor pelos direitos humanos dos presos na tentativa de golpe de Estado.

Em publicações de 2019 nas redes sociais, Zambelli, ironicamente, critica a possibilidade, segundo ela, de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) “propor soltar um bandido da cadeia valendo-se de um crime cometido contra juiz e procuradores”. Anos depois, porém, a parlamentar fez críticas às prisões de eleitores de Bolsonaro que ameaçaram ministros da Corte, dizendo que a decisão dos magistrados feria o direito à liberdade de expressão.

Em rápida busca pelas redes da deputada, é possível observar outras contradições. Também em 2019, por exemplo, a deputada elogiava fala do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, defendendo “retirar criminosos de circulação”. Na oportunidade, Zambelli é enfática: “Só rechaçando o coitadismo criminal voltaremos a ter segurança pública neste país”.

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“Falácia dos direitos humanos”

Outra signatária que também tinha posturas contrárias às manifestações em defesa dos direitos humanos é a deputada federal Bia Kicis (PL-DF). Em pleno início de campanha eleitoral, em 2018, a parlamentar elogiava as falas do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, e chamava de “falácia” a “política de direitos humanos no Brasil”.

Um ano depois, em 2019, Kicis mirava o ex-senador Cristovam Buarque pelas críticas à flexibilização do posse e porte de armas de fogo, uma das pautas prioritárias do governo que se iniciava. Na ocasião, a deputada referiu-se às “políticas de direitos humanos” como algo exclusivo da “esquerda”.

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Em postagem mais recente, a bolsonarista ironiza o pedido de um réu em julgamento. “Em audiência, juiz pede pra retirar as algemas do coitadinho do réu. Uma vez livre, ele ataca o policial e vejam o que acontece e como reagem os doutos defensores dos direitos humanos dos bandidos”, publicou, acrescentando que “como parlamentar, continuarei lutando para mudar essas leis pró-criminosos”.

Inversão de narrativa

Um dos bolsonaristas até então mais ativos e engajados na pauta crítica aos direitos humanos é o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ). O carioca criticou, em diversas oportunidades, a leniência do sistema penal brasileiro.

Por exemplo, na morte do maníaco Lázaro Barbosa, Jordy publica: “Lázaro foi morto. Se fosse num país sério, com um sistema processual penal rígido, eu torceria pela prisão dele, para que apodrecesse na cadeia, mas, como aqui é o Brasil, e ele cumpriria apenas 2/5 da pena, fico satisfeito com o resultado”.

As postagens também trazem manifestações do deputado em busca do endurecimento do regime penal. “Como relator da Subcomissão Penal [da Câmara], farei o máximo para que consigamos efetivar mudanças reais na legislação penal e fazer com que vagabundos como esse apodreçam na cadeia”, publicou.

“Bandido bom é bandido morto”

Entre os mais contraditórios dos congressistas alinhados à extrema direita, está o deputado federal José Medeiros (PL-RN). Nas redes sociais, o parlamentar reproduzia frases clássicas dos conservadores, como “bandido bom é bandido morto” e “direitos humanos para humanos direitos”.

Há quatro anos, Medeiros defendia “revisitar direitos humanos” de “inimigos do Estado” e, no início do mandato de Bolsonaro, criticava as manifestações de esquerda contra a eleição do então presidente. “Não permita que seu filho ou filha sejam usados por grupos políticos que não aceitam a decisão democrática da maioria do povo brasileiro que elegeu Bolsonaro. Espalhe a hashtag #MeuFilhoNãoVai porque lugar de criminoso é na cadeia”, publicava. 

As máximas reproduzidas por Medeiros ecoam em colegas de bancada do deputado do PL, que assinaram o pedido feito à DPU pelo respeito aos direitos humanos dos bolsonaristas detidos.

“A Justiça precisa valer para todos. Ninguém está acima da lei”, dizia o deputado General Girão, em 2019. “Não podemos aceitar a existência de bandidos favoritos. Cadeia foi feita para eles, independente da origem”. “Cadeia para todos os envolvidos em esquemas espúrios”, enfatizou em outra mensagem aos seguidores.

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