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Artigo: nem mítico nem apocalíptico, o desafio agora é político

O discurso do novo presidente continua inflamado, mas o caminho para o sucesso na condução do país não é outro senão a política

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1 de 1 WhatsApp Image 2018-12-28 at 18.44.46 - Foto: Arte/Metrópoles

Ao longo das eleições presidenciais de 2018, o vencedor, Jair Messias Bolsonaro (PSL), dividiu opiniões. De um lado, apoiadores invocaram um mantra, chamando o então candidato – e a partir desta terça-feira (1º/1) presidente da República – de “mito”. Eles viram em Bolsonaro a representação contra “tudo aquilo que estava lá” e passaram a ter no candidato a solução para os problemas brasileiros. Afinal de contas, com o mundo político em boa parte envolvido em escândalos de corrupção, o fato de Bolsonaro não ter sido mencionado em nenhuma das investigações já era uma vantagem inicial incontestável.

Por outro lado, opositores do presidente eleito narravam um cenário de apocalipse democrático com a sua possível vitória. Discursos inflamados de Bolsonaro foram resgatados. Causou desconforto ver o agora presidente pregando, entre outras coisas, o “fuzilamento” de um dos seus antecessores – Fernando Henrique Cardoso, no caso, durante entrevista concedida pelo ex-militar há mais de 20 anos – ou vê-lo esbravejando contra homossexuais, por exemplo.

O prognóstico, em caso de vitória, seria o pior possível: eleições poderiam ser suspensas, direitos políticos cassados, censura prévia em jornais.

Antes mesmo do término das eleições, Bolsonaro começou a traçar um caminho para o centro político. Nada de muito novo. Luiz Inácio Lula da Silva, considerado um extremo até 2002, encarnou a versão “paz e amor” de si mesmo e ganhou o pleito naquele ano. Mesmo negando o lema “paz e amor”, Bolsonaro mudou o discurso. Falas mais inflamadas de aliados, ou até mesmo de seus filhos, foram publicamente condenadas.

Ele foi contra, por exemplo, quando seu vice, general Hamilton Mourão, criticou a existência do 13º salário e chegou a recomendar um “psiquiatra” quando um de seus filhos, o deputado federal Eduardo, disse que bastariam “um soldado e um cabo” para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Abertas as urnas, foram os eleitores “míticos” que tiveram motivo para comemorar. Quebrando uma hegemonia da centro-esquerda no poder que durava desde a redemocratização do Brasil (em 1985), o direitista Jair Bolsonaro venceu democraticamente as eleições. A direita, agora, vai assumir o poder.

O discurso continua inflamado e as bandeiras de direita estão presentes na sua fala. A posse de armas e o freio na ampliação de direitos individuais focados em minorias são pautas que provavelmente serão discutidas no próximo governo. E que sejam debatidas como foram o fim da possibilidade de as pessoas terem acesso a armas e a ampliação dos direitos: no Congresso, com a cobertura da mídia e o acompanhamento da população.

A retórica ideológica, tão criticada por Bolsonaro e aliados quando falavam dos governos petistas, porém, se manteve presente. Exemplos são o rompimento com o programa Mais Médicos, que trouxe milhares de clínicos cubanos para regiões inóspitas do Brasil e que foi descontinuado antes mesmo de Bolsonaro assumir, ou a aproximação com os governos de direita de Donald Trump, dos Estados Unidos, e Benjamin Netanyahu, de Israel. Ambos atraíram o presidente que toma posse nesta terça-feira apenas pelo aspecto ideológico. O fato de estarem, tanto um quanto outro, enfrentando denúncias de mal uso da máquina pública – algo tão contestado por Bolsonaro e aliados no Brasil – não pesou tanto quanto o posicionamento ideológico.

Bolsonaro tem uma série de desafios a serem vencidos e para os quais ele foi eleito. Retomar o crescimento econômico e melhorar a segurança pública são os mais evidentes

Se o caminho para o centro desmontou parte do discurso de apocalipse e igualmente pode ter frustrado as expectativas daqueles que consideravam o presidente “mito”, o caminho para resolver os problemas do Brasil continua o mesmo: a política.

O contrapeso tanto do Congresso quanto das instituições coloca alguns freios em qualquer presidente eleito democraticamente. Até o momento, não há razões para crer que a democracia brasileira esteja sob ataque. Chegou a hora de os problemas serem enfrentados em um esforço que vai envolver toda a nação. É a hora da política.

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