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Análise: irrelevante, Coronel Tadeu ganha fama com ataque racista

Ao rasgar obra de arte, deputado de primeiro mandato se torna conhecido dos brasileiros, mas afronta garantias individuais da Constituição

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Não reeleito em 2022, ex-deputado Coronel Tadeu (PL-SP) ganhou cargo no Congresso
1 de 1 Não reeleito em 2022, ex-deputado Coronel Tadeu (PL-SP) ganhou cargo no Congresso - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Parlamentar de primeiro mandato e pouca expressão, o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) conseguiu um dia de fama nessa terça-feira (19/11/2019). Ao rasgar um cartaz com obra de arte crítica à violência policial contra negros, o congressista de São Paulo tornou-se conhecido pelos brasileiros por um gesto de intolerância racial.

Produzida pelo artista Carlos Latuff, a imagem danificada por Tadeu mostra uma cena representativa da violência da polícia contra a população negra. Ao rasgar a obra, o deputado ignorou direitos fundamentais assegurados pela Constituição de 1988. Afrontou preceitos relacionados a racismo e à liberdade de expressão.

Integrante da “bancada da bala”, Tadeu era ignorado na Câmara até mesmo por integrantes de seu partido, conforme revelou o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Ao fazer um discurso em defesa do colega, o político fluminense revelou não saber de quem se tratava: “Quero até saber quem é esse deputado, quero apertar a mão dele”.

Silveira também se tornou popular por uma agressão com a marca do preconceito. Em 2018, Silveira impulsionou a candidatura à Câmara ao ganhar atenção da mídia e das redes sociais por quebrar uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco (PSol), militante de causas do movimento negro, assassinada em março do mesmo ano.

Cometido na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra – motivo da exposição na Câmara –, o gesto de Tadeu ganha ainda mais relevância política. Para a “bancada da bala”, a mostra presta um desserviço à população ao atribuir às polícias a responsabilidade pelo extermínio de afrodescendentes.

Deve-se ressaltar que, de fato, não se pode acusar genericamente as polícias militares pelo genocídio dos negros. As PMs têm a missão de combater crimes e os bons profissionais devem ser valorizados pela população.

Porém, torna-se obrigatório mencionar também que, além de protegida pela liberdade de expressão, a arte de Latuff encontra respaldo na realidade brasileira. A alta incidência de mortes de inocentes provocadas por agentes – ou ex-agentes – de segurança merece reflexão da sociedade e uma obra de arte se mostra um meio adequado para essa discussão.

Entre os casos de repercussão nacional, podemos lembrar das mortes da menina Ágatha Félix, em setembro, do músico Evaldo Rosa dos Santos, em abril, e do pedreiro Amarildo Dias de Souza, em 2013. São fatos graves que revelam o despreparo de policiais que deveriam zelar pela segurança da população.

Por fim, vale observar que o ataque racista de Tadeu reforça a postura agressiva contra direitos individuais adotada por boa parte dos congressistas eleitos na onda que levou o presidente Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Nesse movimento, destaca-se principalmente a “bancada BBB (bala, boi e bíblia)”.

A maioria dessa turma continua desconhecida. Coronel Tadeu já teve seus 15 minutos de notoriedade.

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