metropoles.com

Petróleo e acordo econômico ofuscam agenda ambiental de Lula na COP28

Lula chegou à COP28 munido de avanços sociais e ambientais, mas teve liderança verde prejudicada por adesão à Opep+ e críticas de Macron

atualizado

Compartilhar notícia

Chris Jackson/Getty Images
Imagem colorida mostra O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, faz um discurso na cerimônia de abertura da Cúpula Mundial de Ação Climática durante a COP28, em Dubai ONU - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, faz um discurso na cerimônia de abertura da Cúpula Mundial de Ação Climática durante a COP28, em Dubai ONU - Metrópoles - Foto: Chris Jackson/Getty Images

Enviada especial a Dubai* – A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de reposicionar a liderança do Brasil na agenda ambiental durante a passagem dele pela COP28, nesse fim de semana, acabou ofuscada pelo anúncio de adesão do país à Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) e, também, por críticas do presidente francês, Emannuel Macron, sobre o acordo Mercosul-União Europeia (UE).

O presidente Lula retornou à conferência do clima como chefe de Estado em posição de destaque, devido à redução significativa dos índices de desmatamento e ao alinhamento em defesa dos povos indígenas e de outras comunidades tradicionais.

Anfitrião da COP30, na Amazônia, ele foi convidado a discursar na abertura da cúpula de líderes e tomou o palco logo após o secretário-geral da ONU, António Guterres.

0

No entanto, a adesão à Opep+ e a consequente aproximação com exportadores de petróleo, em uma conferência marcada por críticas ao uso de combustíveis fósseis, acentuam as contradições da política ambiental brasileira.

No ano passado, Lula viajou para a conferência do clima no Egito, como presidente eleito, a convite do governo egípcio. Neste ano, o mandatário retorna como chefe de Estado para uma programação intensa. Na sexta-feira (1º/12) e no sábado (2/12), o presidente brasileiro fez uma série de discursos e teve sete agendas bilaterais.

Durante os pronunciamentos, o petista reforçou o compromisso do país com metas ambiciosas, mirando a COP30 em Belém (PA). Ele cobrou que as demais nações também estabeleçam como prioridade a redução de combustíveis fósseis, a agenda relativa à justiça climática e o cumprimento efetivo das metas às quais se comprometeram.

Críticas a Lula

Em reunião com a sociedade civil na COP, o mandatário brasileiro confirmou que o país passará a integrar a rede de aliados da Opep+, com a proposta de “convencer os países exportadores a investirem em fontes de energia renováveis”. A medida foi considerada um “retrocesso” por ambientalistas.

“A questão da Opep é um ponto totalmente fora da curva, que provocou um estrago que não foi pequeno em toda a narrativa montada pelo governo brasileiro e em todos os números que o governo trouxe para cá. O governo veio preparado para, enfim, mostrar resultados contundentes, mas esse anúncio da Opep é um absurdo, em todos os sentidos”, avalia o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

Na avaliação do especialista, a medida representa uma contradição, em momento inoportuno. “O Brasil precisa se decidir: ou ele fica com a Opep ou ele fica com a liderança do clima. Não dá para ter as duas coisas ao mesmo tempo”.

Combustíveis fósseis na mira

A escolha de Dubai, nos Emirados Árabes, para sediar a COP28 colocou em foco a exploração de petróleo e o uso de combustíveis fósseis — a principal causa das mudanças climáticas. Realizar uma conferência ambiental naquele país, que é um dos 10 maiores produtores de petróleo no mundo, evidenciou o alerta para a urgência da transição para fontes de energia renováveis.

Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, avalia que a decisão “é um tiro no pé”. Segundo o especialista, a escolha de anunciá-la justamente na volta à COP28, após quatro anos de gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, frustra as projeções favoráveis.

“Aqui é um fórum global, o que você faz aqui importa. É uma disputa de espaço como liderança global. Para ficar na esquina de casa, estamos disputando com a Colômbia a liderança em nome da Amazônia. Então, no mesmo dia que o Lula fala que vai se juntar à Opep+, [Gustavo] Petro diz que vai se juntar ao Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.”

No último sábado (2/12), o líder colombiano anunciou, em painel da COP, que não irá assinar novos contratos de exploração de petróleo, carvão e gás. A Colômbia é o quarto país que mais produz petróleo em território sul-americano.

“São sinais muito fortes, exatamente contrários. É uma disputa de espaço que o Brasil sempre dominou. Nunca se discutiu floresta aqui [na COP] até 2019 sem ter o Brasil como liderança. Quatro anos fora dos espaços de debate, durante a gestão do Bolsonaro; quando você volta para a mesa, não existe espaço que não é ocupado, outros países estão ocupando. Será necessário lutar para ganhar de volta esse espaço”, avalia.

Protecionismo e meio ambiente

Além da continuidade à exploração de petróleo, Lula também teve de responder às críticas do presidente da França, Emmanuel Macron, sobre as condições ambientais impostas ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia.

O líder francês criticou o tratado, ao chamar a proposta de “antiquada” e “contraditória” com as agendas ambientais defendidas por ele e pelo presidente brasileiro.

Após a declaração do europeu, Lula admitiu que as negociações podem não ser concluídas na próxima semana, conforme sugere o projeto brasileiro. No entanto, frisou que não seria “por falta de esforço” do lado brasileiro.

“Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil, da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão”, declarou o petista em coletiva de imprensa.

“Eu tive uma grande conversa com a Ursula von der Leyen, que é a presidenta da Comissão Europeia. Vamos ver como é que vai acontecer na sexta-feira. Se não tiver acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo”, prosseguiu Lula, transparecendo o pessimismo com um resultado positivo nas negociações.

Mercosul e União Europeia tentam concluir um acordo de livre comércio desde 1999. Caso seja ratificado por todos os países-membros de ambos os lados, o tratado será responsável por criar a maior zona de livre comércio do mundo. No entanto, as negociações esbarram em políticas ambientais e protecionismo de países europeus.

Antes de chegar à cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, o chefe do Executivo brasileiro cumpre, nesta segunda-feira (4/12), viagem de três dias a Berlim, na Alemanha, na expectativa de avançar em pautas especialmente econômicas, incluindo a cooperação europeia com o Mercosul.

*Repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?