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Onda de calor mundial impulsiona mudanças na produção de energia

Economistas indicam que essa possível crise pode impulsionar o mercado de pesquisa e investimento em energias renováveis e sustentáveis

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
Linhas de transmissão de energia elétrica no pôr do sol calor - Metrópoles
1 de 1 Linhas de transmissão de energia elétrica no pôr do sol calor - Metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A onda de calor que segue afetando o planeta, em especial, o Hemisfério Norte, liga o alerta no setor de produção de energia. O Metrópoles conversou com especialistas que enxergam o problema como uma forma de impulsionar o investimento e desenvolvimento de fontes energéticas renováveis.

No mês passado, de acordo com o observatório europeu Copernicus, o planeta Terra registrou uma marca negativa histórica: o julho mais quente. Esse recorde levantou muitas preocupações nas pautas ambiental, social e econômica.

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Conforme estudo publicado de 2022 publicado pela Science Advances, entre 1992 e 2013, a economia global perdeu em torno de US$ 5 bilhões e US$ 29,3 bilhões (cerca de R$ 24,3 bilhões e R$ 142,7 bilhões) com o calor antropogênico extremo — causado pelo excesso de gases de efeito estufa lançados na atmosfera pela ação humana.

A pesquisa também indica que o aumento das ondas de calor provocadas pelo homem “deprimiu” a produção econômica, principalmente, nas regiões tropicais mais pobres, “menos culpadas pelo aquecimento” global.

Oferta e demanda de energia

Buscando conter prejuízos provocados pelo aumento da temperatura, pessoas e empresas usam equipamentos de refrigeração térmica (ar-condicionado, ventiladores etc.) e, consequentemente, essa prática aumenta o consumo de energia elétrica.

Dessa forma, o professor doutor do Departamento de Economia, da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Ariaster Baumgratz Chimeli acredita que expandir a oferta de eletricidade com outras fontes, especialmente as renováveis, é uma “excelente estratégia” para suprir a demanda de energia elétrica.

Para ele, o Brasil precisa se preparar para essa demanda no sistema de produção energética nacional. Mesmo sem relação com a crise climática, o país sofreu, nos últimos dias, um apagão, que oscilou a distribuição de energia em 25 estados e no Distrito Federal.

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Ariaster enxerga impactos diretos na renda e no desenvolvimento a longo prazo em países subdesenvolvidos, uma vez que muitos não têm tecnologias disponíveis para reduzir os efeitos da onda de calor. “O aumento de mortalidade, de morbidade e de desconforto tem um impacto direto no dia a dia, principalmente em países mais pobres”, explicou.

Ao citar um estudo que conseguiu atribuir a queda do índice de mortalidade causadas pelo calor nos Estados Unidos (EUA), desde 1970, ao uso do ar-condicionado, o especialista lembra que, mesmo sendo capaz de salvar muitas vidas, a fonte de energia elétrica dos equipamentos era, majoritariamente, dependente de recursos fósseis. “A longo prazo, essa solução acabou alimentando um grande problema”, critica.

Com a mesma percepção de Ariaster, a professora de MBAs Marta Camilo Carneiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), relembra que o país vive uma transição energética. “Esse aumento de temperatura provoca um consumo maior de energia, que leva o Brasil a pensar cada vez mais em alternativas. O país e o mundo têm investido muito no processo de transição energética”, detalhou.

Segundo ela, esse impacto climático eleva o interesse de empresas a participar da transição energética, entrando no mercado de carbono e mitigando os riscos de não ter energia disponível para exercer processos industriais.

“É necessário que empresas e governos se adequem cada vez mais à não emissão de gases e à adaptação às mudanças climáticas. A gente já parou de pensar apenas em mitigar, é preciso se adaptar”, argumentou Marta.

Setores que também podem ser impactados

Mas não é somente o setor de energia elétrica que sofre com os impactos da crise climática. Os especialistas também listaram outros mercados que podem sentir mudanças pontuais.

Para os dois, no momento, ainda é difícil quantificar o prejuízo econômico dessa onda de calor de julho. Mas é possível observar e prever quais mercados estão sendo impactados. “Com certeza, vai ter um impacto econômico essa onda de calor, mas isso também depende de alguns fatores”, ressaltou a professora.

Veja alguns setores afetados:

  • Saúde e bem-estar: sociedade propensa a certos tipos de doenças;
  • Educação: queda de rendimento dos alunos no processo de aprendizagem;
  • Mão de obra: queda de produtividade laboral;
  • Agricultura e pecuária: queda de produção e qualidade de produtos, gasto com água e fertilizantes, aumento de pragas e mortalidade de animais;
  • Alimentos e bebidas: queda na qualidade de produção;
  • Turismo: mudança no destino de turistas e das paisagens naturais;
  • Seguros: reajuste de valor, revisão de contratos e área de atuação*;
  • Energia e água: aumento do consumo de energia de água e luz e, consequentemente, contas mais altas;
  • Estratégico: perda de biodiversidade que, além dos danos ambientais, pode causar uma redução do mercado de bioeconomia; e
  • Infraestrutura: perda de materiais que não resistem a altas temperaturas, crise hídrica, planejamento de construção.

* Nesses casos, empresas e companhias de seguro podem interromper serviços em áreas em que existe o chamado “risco correlacionado” — quando uma região é afetada simultaneamente por desastres.

Lado positivo: investimento maior na economia verde

O professor Ariaster Baumgratz Chimeli alerta como a perda de biodiversidade pode estimular o investimento na economia verde. “A biodiversidade é vista hoje como uma oportunidade para transformação da economia, a famosa bioeconomia”, afirmou.

Marta Camilo Carneiro acredita que investir em economia verde pode ser um caminho para reduzir os impactos financeiros causados pelos eventos climáticos extremos. “A gente tem que, cada vez mais, reconhecer a crescente importância de adotar essas práticas econômicas ambientalmente conscientes e pessoalmente responsáveis”, declarou.

“Já passou da hora de a gente parar de pensar em ter uma economia linear, focada no lucro pelo lucro, e pensar em um desenvolvimento de forma sustentável, ou seja, trazendo instrumentos e comportamentos sustentáveis”, defendeu Carneiro.

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