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Calor extremo no hemisfério norte afeta principalmente os mais pobres

Ondas de calor tem atingido os países do norte do globo, a expectativa de especialistas é que temperaturas atinja novos recordes

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Foto colorida mostra horizonte avermelhado no fim do dia - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida mostra horizonte avermelhado no fim do dia - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

As mudanças climáticas estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas e a expectativa de especialistas ouvidos pelo Metrópoles é de que fiquem cada vez mais extremas. As altas temperaturas registradas nos países do hemisfério norte são uma demonstração dos efeitos causados pelo aquecimento global e afetam, segundo estudiosos, principalmente as pessoas em maior vulnerabilidade social

O diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, Gavin Schmidt, alertou, na semana passada, que 2023 poderá se tornar o ano mais quente da história. Segundo a própria agência espacial norte-americana, essa alteração climática é causada pela ação humana.

Morgana Silva, chefe do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), vai na mesma linha. “O que tem causado as ondas de calor é um efeito das mudanças climáticas. Na verdade tem ocorrido o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera, isso faz com que a atmosfera fique mais aquecida”, explica Morgana.

A pesquisadora Letícia Cotrim, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca ainda que, além do aquecimento global, as altas temperaturas são influenciadas pelo evento climático El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico.

“Não é só a atmosfera que está mais quente, o oceano está muito mais quente que o normal. No hemisfério norte, justamente na parte do Oceano Atlântico mais perto da Europa, o oceano está em média 3ºC mais quente que o normal para época”, explica Letícia Cotrim.

Nas últimas semanas, o mundo registrou 17,18°C, um novo recorde de temperatura média global, segundo os Centros Nacionais de Previsão Ambiental dos Estados Unidos. O índice é baseado em dados observacionais de estações meteorológicas, balões e satélites.

As pesquisadoras ouvidas pelo Metrópoles ressaltam que as mudanças climáticas já começaram e a expectativa é que nos próximos anos se intensifiquem. “A gente já está 1,1ºC, indo para 1,2ºC [acima do período pré-industrial]. A gente já mudou o clima. Estamos vendo aí os resultados”, afirma a professora da UERJ.

Calor nos Estados Unidos

Natural de Campinas, São Paulo, a assistente social Debora Carmona vive nos Estados Unidos há 14 anos. Atualmente, ela mora com toda sua família em Manteca, no estado da Califórnia. Em entrevista ao Metrópoles, ela afirmou que nos últimos dois anos tem sentido mudanças no clima da região. “Cada ano está pior. Ano passado era 2ºC a menos, no ano anterior um pouquinho a menos. Todo ano a gente nota que a temperatura está aumentando. O impacto está sendo grande”, ressalta a assistente social.

“Hoje [21/7] está previsto fazer 42ºC no termômetro, porque a sensação térmica é mais do que isso. Não dá para ficar saindo o tempo todo de casa, fazer realmente o que é necessário e voltar. É insuportável abrir uma janela, não tem vento, não tem nada”, conta Debora. Para tentar conviver com as altas temperaturas, Debora afirma que a única saída é manter o ar-condicionado ligado, principalmente na parte de fim de tarde, e a ingestão de muito líquido.

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Em relação ao calor, ela afirma que nos últimos anos percebeu que as temperaturas estão cada vez mais quentes
Para tentar amenizar a situação, ela e a família estão sempre hidratados
Debora não tem vontade de voltar para o Brasil, mas as altas temperaturas na Califórnia tem preocupado a assistente social
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Debora e a sua família vivem nos Estados Unidos há 14 anos

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Em relação ao calor, ela afirma que nos últimos anos percebeu que as temperaturas estão cada vez mais quentes

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Para tentar amenizar a situação, ela e a família estão sempre hidratados

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Debora não tem vontade de voltar para o Brasil, mas as altas temperaturas na Califórnia tem preocupado a assistente social

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Calor na Espanha

A nutricionista Sandra Regina Franco de Gauto nasceu em São Paulo, mas decidiu se mudar para Sevilha na Espanha em agosto de 2018. Ela sempre gostou do calor, mas as altas temperaturas que encontrou na capital de Andaluzia surpreenderam a paulista.

“Eu sempre soube que aqui é muito quente, mas eu não poderia imaginar que as temperaturas na época do verão chegariam muito mais do que 40ºC. Eu percebi que ao longo desses cinco anos que em cada verão essa temperatura estava aumentando e esticando, não era dois ou três dias, era uma semana inteira”, afirma Sandra.

A nutricionista conta que, por conta das altas temperaturas, não consegue sair de casa, principalmente porque o seu principal meio de locomoção é a bicicleta. Ela afirma que muitas vezes até no período da noite não consegue passear pela cidade.

“A minha preocupação é para onde a gente vai? Porque Sevilha foi a cidade que eu escolhi para morar, gostei muito do lugar e decidi ficar. Mas hoje, depois desses quase cinco anos, pela primeira vez, este ano eu pensei, não vou conseguir ficar muito tempo nessa cidade [em decorrência do calor]”, declara.

Consequências

As ondas de calor extremas trazem consequências para o cotidiano das pessoas e também para a saúde. O Ministério da Saúde da Itália, por exemplo, abriu um novo protocolo sobre as altas temperaturas para salas de emergência chamado de “vamos nos proteger do calor”. As autoridades italianas solicitaram que a população local evite a exposição direta ao sol, utilize bloqueadores solares, beba ao menos 1,5 litros de água por dia e faça refeições leves.

Na Califórnia, Debora Carmona afirma que percebe que as pessoas mais afetadas pelas altas temperaturas são as pessoas em situação de rua. Segundo ela, as autoridades locais durante o inverno colocam esses cidadãos em abrigos e fornecem cobertores, mas durante o verão não conseguem proteger essa população dos riscos das ondas de calor.

Morgana Vaz afirma que além das pessoas em situação de rua, a população do hemisfério norte que vive em casas sem uma boa infraestrutura também sofrem com as altas temperaturas e correm risco até de morrer.

Confira:

Ações governamentais

As pesquisadoras Letícia Cotrim e Morgana Silva ressaltam que os governos devem abandonar a economia responsável pela emissão de gases de efeito estufa e se adaptarem à nova realidade climática.

“Gerar essas emissões de gases de efeito estufa, principalmente pela queima de combustível fóssil, a previsão é de que fique cada vez mais frequente esses eventos extremos, calor, frio, seca, queimada, e com mais intensidade”, enfatiza Cotrim.

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