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Leia a íntegra do documento da Conitec sobre remédios contra Covid que irritou Bolsonaro

Documento seria votado pela Conitec na manhã desta quinta-feira (7/10), mas foi retirado de pauta a pedido do Ministério da Saúde

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
bolsonaro e cloroquina
1 de 1 bolsonaro e cloroquina - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O documento elaborado por técnicos da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no Sistema Único de Saúde (SUS) atesta que nenhum dos medicamentos do chamado kit Covid devem ser utilizados para tratar pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19.

O relatório, intitulado de Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do Paciente com Covid-19, seria votado pelo plenário da Conitec na manhã desta quinta-feira (7/10). No entanto, o documento foi retirado de pauta a pedido do Ministério da Saúde.

Metrópoles teve acesso ao estudo. O documento analisou 10 grupos de medicamentos: anticoagulantes, azitromicina, anticorpos monoclonais, budesonida, colchicina, corticosteroides sistêmicos, cloroquina/hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida e plasma convalescente.

A conclusão dos técnicos responsáveis pela análise é de que “não foi recomendado ou sugerido o uso de nenhum dos medicamentos avaliados em pacientes com suspeita ou diagnóstico de covid-19 em tratamento ambulatorial”.

De acordo com o documento, a maior parte dos medicamentos analisados não possui evidências científicas suficientes para comprovar os benefícios do uso em pacientes com Covid-19. A comissão recomendou o “abandono” do uso de fármacos como azitromicina e hidroxicloroquina, fortemente defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Segundo o grupo de técnicos, o governo federal deve priorizar a alocação de recursos para compras de remédios e produtos com “maior certeza de benefício”, como equipamentos de proteção individual e vacinas.

“Como aspecto positivo, diversas terapias ineficazes foram descartadas, de forma a promover a economia de recursos com o abandono de seu uso, como o caso da azitromicina e da hidroxicloroquina. Sobre a questão de custos, em termos de saúde pública, é importante salientar que, em um cenário de epidemia, a alocação de recursos deve ser priorizada para intervenções com maior certeza de benefício, como o caso de equipamentos de proteção individual, vacinas, intervenções para o suporte ventilatório dos pacientes e terapias medicamentosas com efetividade comprovada”, pontuaram os técnicos.

Leia o documento na íntegra

Diretrizes Brasileiras Para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial Do Paciente Com Covid-19_Plenario by Rebeca Borges on Scribd

Apoio de entidades médicas

Além de membros da Conitec, especialistas de diversas entidades médicas participaram da elaboração das diretrizes. O grupo foi coordenado pelo Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias e Inovação em Saúde, vinculado ao próprio Ministério da Saúde.

O painel de especialistas contou com profissionais das seguintes especialidades: medicina intensiva, clínica médica, medicina de urgência e emergência, cirurgia vascular e endovascular, infectologia, pneumologia, endocrinologia e medicina de família e comunidade.

Além disso, foram ouvidos membros do próprio Ministério da Saúde, de universidades, hospitais de excelência e dos seguintes grupos:

  • Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE);
  • Associação Médica Brasileira (AMB);
  • Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV);
  • Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI);
  • Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC);
  • Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

“Entre junho e setembro de 2021, o Comitê Gestor organizou oito encontros virtuais por videoconferência com os especialistas para elaborar e discutir as orientações, até a obtenção de um consenso”, consta no documento.

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Análise dos medicamentos

A Conitec identificou incertezas sobre o uso de anticoagulantes, budesonida, colchicina, ivermectina, nitazoxanida e plasma convalescente em pacientes em tratamento ambulatorial.

Além disso, não foram identificados benefício clínico do uso de azitromicina e hidroxicloroquina. Veja a análise de cada um dos fármacos.

  • Anticoagulantes:

“O painel de recomendações considerou que não há benefício demonstrado com o uso de anticoagulantes em pacientes com covid-19; adicionalmente, a anticoagulação está associada a aumento do risco de eventos hemorrágicos. Isso pode ser ainda mais desafiador no contexto ambulatorial, no qual por vezes não é factível um acompanhamento mais próximo para minimizar riscos da anticoagulação.”

  • Azitromicina

“Recomendamos não utilizar azitromicina em pacientes com suspeita ou diagnóstico de covid19, em tratamento ambulatorial (recomendação forte, certeza da evidência moderada). A azitromicina pode ser utilizada na presença ou suspeita de infecção bacteriana, de acordo protocolos institucionais ou locais de uso de antimicrobianos.”

  • Budesonida

“O painel de recomendações considerou que, apesar de não poder descartar benefício e o medicamento ser relativamente seguro, no momento não há evidência suficiente para indicar o seu uso de rotina em pacientes ambulatoriais com covid-19.”

  • Colchicina

“O painel de recomendações considerou que, apesar de não poder descartar benefício e o medicamento ser relativamente seguro, no momento não há evidência suficiente para indicar o seu uso de rotina.”

  • Corticosteroides sistêmicos

“Não foram identificados estudos randomizados avaliando a efetividade de corticoesteroides sistêmicos em pacientes ambulatorias com covid-19. Evidência indireta proveniente de pacientes hospitalizados sem necessidade de uso de oxigênio suplementar mostrou ausência de benefício, com potencial aumento de risco de mortalidade com o uso de corticoesteroides nessa população.”

  • Cloroquina/hidroxicloroquina

“A cloroquina e a hidroxicloroquina não devem ser utilizadas, independentemente da via de administração (oral, inalatória ou outras).”

  • Ivermectina

“O painel de recomendações considerou que, apesar de não poder descartar benefício e o medicamento ser relativamente seguro, no momento não há evidência suficiente para indicar o seu uso de rotina.”

  • Nitazoxanida

“O painel de recomendações considerou que, apesar de não poder descartar benefício e o medicamento ser relativamente seguro, no momento não há evidência suficiente para indicar o seu uso de rotina.”

  • Plasma Convalescente

“É importante o desenvolvimento de estudos em populações específicas, de alto risco, como o caso de pacientes imunossuprimidos e transplantados, havendo ainda incertezas nessas populações.”

Anticorpos monoclonais

Os únicos fármacos com eficácia comprovada cientificamente em pessoas diagnosticadas com coronavírus são os anticorpos monoclonais, cujo uso emergencial já havia sido autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

No entanto, a Conitec identificou diversas limitações para o uso dos remédios, como o alto custo dos fármacos e a falta de experiência na utilização dos medicamentos no Brasil.

“Primeiro, os estudos avaliaram apenas pacientes não vacinados para Covid-19; assim, seu uso passa a ser bastante limitado em um contexto no qual a maioria da população de alto risco já se encontra atualmente vacinada. Segundo, seu custo é elevado, havendo limitações quanto à disponibilidade e implementação, com o medicamento sendo autorizado apenas para o uso hospitalar, representando desafio logístico e aumentando barreiras de adesão e acesso”, pontuaram os técnicos.

A análise continuou: “Terceiro, os estudos clínicos foram realizados em localidades com diferentes perfis de variantes do novo coronavírus, sendo incerto seu benefício no Brasil, em que há diferentes variantes circulantes”.

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