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Justiça permite que presos sejam ouvidos após motim em GO

Defensores públicos estiveram no Complexo Prisional neste sábado (20/2) e ouviram 11 detentos

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
rebelião Goiás
1 de 1 rebelião Goiás - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Goiânia – Por meio de decisão liminar da Justiça goiana, a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) conseguiu entrar na Penitenciária Odenir Guimarães, no Complexo Prisional, em Aparecida de Goiânia, após o motim no local. Neste sábado (20/2), três defensores públicos estiveram no presídio e conversaram com 11 internos escolhidos aleatoriamente.

De acordo com a DPE-GO, os detentos foram recebidos pelos defensores na sala do órgão, todos uniformizados e descalços. Segundo relato dos presos, eles teriam passado a noite ao relento, na Ala C da unidade prisional, que está em reformas, sem colchões e passando frio.

Segundo o relato dos detentos, não há mortos no local, mas algumas pessoas estão feridas. A DPE-GO deve protocolar pedido para que dois internos sejam submetidos a exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).

Os defensores também devem se encontrar com algumas famílias dos detentos ainda neste domingo (21/2) para colaborar no trabalho e apuração dos fatos.

A DPE-GO afirma ter enviado um ofício à Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) no dia do motim, solicitando informações sobre a situação na penitenciária e dos internos após o tumulto. Na ocasião, quatro defensores públicos estiveram no Complexo Prisional, mas não houve resposta da entidade penal.

Ainda segundo a DPE-GO, a entrada dos defensores na Penitenciária foi impedida por policiais penais e, por isso, o órgão buscou autorização judicial.

“Foi determinado que fosse garantido o respeito às prerrogativas funcionais dos membros da Defensoria Pública do Estado de Goiás e da Defensoria Pública da União, em todas as unidades prisionais sob administração da DGAP, permitindo o ingresso de seus membros, atendidas as cautelas de segurança pertinentes, para fins de inspeção, vistoria, com todos os recursos  necessários, independentemente de prévio agendamento ou comunicação formal, e garantido, ainda, a comunicação pessoal e reservada dos Defensores Públicos com os internos, se assim solicitada, sob pena de responsabilização individual dos envolvidos e fixação de multa”, diz a defensoria.

Denúncias

Familiares que estavam na porta do Complexo Prisional na manhã de sábado (20/2), denunciaram o recolhimento dos alimentos enviados pelas famílias dos presos, bem como os materiais de higiene pessoa (cobal).

Na noite de sexta-feira (19), após o controle do motim na Penitenciária Odenir Guimarães, localizada no Complexo, a Polícia Penal de Goiás divulgou imagens das apreensões feitas nas celas, entre elas, fotos de comidas que teriam sido fornecidas pelo Governo de Goiás e descartadas pelos detentos.

Segundos os familiares, os alimentos apreendidos foram entregues pelas famílias e não pelo Governo. “2 kg de bolacha sem recheio e 1 kg de biscoito de polvilho (peta), aquilo lá quem comprou foi a família. O governo dá marmita azeda e pão murcho de manhã”, disse uma familiar que preferiu não se identificar.

Ao Metrópoles, a assessoria de Imprensa da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária de Goiás (DGAP) informou que houve um equívoco em relação as fotos e a informação divulgada. Os alimentos que aparecem nas imagens não foram fornecidos pelo Estado, por isso, as imagens foram retiradas do ar e notícia atualizada.

Motim

Cerca de 450 detentos se amotinaram na última sexta-feira (19/2), na Penitenciária Odenir Guimarães, no Complexo Prisional, em Aparecida de Goiânia. Os detentos chegaram a fazer uma live no Facebook. No vídeo, os presos criticam a alimentação recebida e a forma de tratamento recebida.

“Isso aqui aconteceu por causa do diretor, ele quer oprimir ‘nóis’, ‘tamo’ dando a resposta. Quis dar sabão pra gente comer. Tão dando tiro de verdade em nós. Também temos família. Cadê os direitos humanos? Só passam pano para estuprador, que como o filho dos outros. Estamos reivindicando os nossos direitos”, afirma um dos presos no vídeo.

“Nossa cobal chegou quarta-feira (18/2), diretor veio dar sabão pra ‘nóis’ comer. ‘Tamo’ sem banho de sol, nós ‘quer’ só o direito, comida digna, banho de sol, sabonete, pasta de dente”, diz outro detento.

Veja o vídeo:

A transmissão ao vivo de dentro do presídio chegou a ter quase 10 mil pessoas e foi derrubada pela plataforma quando o vídeo tinha quase uma hora.

Ainda na noite de sexta, o preso responsável pela live fez um novo vídeo pedindo desculpas.

Duplo homicídio

O motim ocorreu após o assassinato do vigilante penitenciário temporário Elias de Souza Silva, de 38 anos, e da mulher dele, nas proximidades do Complexo Prisional na quinta-feira (18/2). O casal foi morto a tiros, quando o servidor saía de um plantão de 24 horas.

Dois suspeitos envolvidos na morte do vigilante foram mortos em confronto, um homem foi presos e outras pessoas continuam foragidas.

 

 

 

 

 

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