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Família constrói tenda no meio de lavoura para filho ter aulas remotas

Com sinal mais potente em meio ao plantio, os agricultores Odilésio e Dejanira Somavilla adaptaram uma sala de aula para o garoto

atualizado

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Arquivo pessoal
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1 de 1 alan 3 - Foto: Arquivo pessoal

Durante este momento de isolamento e aulas remotas, a criatividade de um casal, preocupado com a educação do filho, emocionou a internet. O motivo: com sinal mais potente na lavoura de soja, os agricultores Odilésio Somavilla, 54 anos, e Dejanira Somavilla, 35 anos, adaptaram uma sala de aula particular em meio ao plantio de soja. O caso aconteceu no interior de Estrela Velha (RS). As informações são da Gauchazh.

“O sinal lá é bom e assim ele não pega frio nem chuva. A lavoura é um trabalho muito duro e a gente quer que ele siga adiante. Eu não tive estudo e hoje me faz falta” disse Dejanira.

Alan Somavilla, de 11 anos, cursa o 6 ° ano na Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Itaúba, no distrito que tem o mesmo nome da instituição.

O garoto passa a semana dentro da sua sala de aula particular, construída com galhos de árvores pregados do solo ao teto, e uma lona estendida sobre as toras. No chão, uma espécie de colcha cobre a terra. Na ponta da mesa, um suporte de madeira apoia o smartphone, comprado exclusivamente para as atividades curriculares.

O aluno se diz muito feliz: “Tenho orgulho de eles terem feito isso pra mim. Eu consigo acompanhar tudo, estou conseguindo aprender mesmo. De tarde, fica um pouco quente lá dentro, mas se chove, não molha nada e eu fico lá. É bem legal”.

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Parabéns e parabéns

A salinha de aula foi montada em julho deste ano, após os pais terem observado Alan tentando captar o melhor ponto para acompanhar as aulas. A residência da família, no topo da propriedade, fica a poucos metros da tenda, localizada logo abaixo.

“É só elogio que a gente ganha depois de fazer isso. Parabéns e parabéns. Nos deixa muito emocionados”, afirma a mãe do garoto.

Com fala simples e sotaque carregado, o pai de Alan explica: “A gente ajuda como pode”.

Problemas recorrentes

A diretora da EEEF Itaúba, Giovana Carvalho Dalcin, 46 anos, afirma que os problemas com a internet são recorrentes entre as turmas. “Tem aluno que escala árvore, outro que sobe o morro ou que pega wi fi emprestado do vizinho. Na escola em si, pega, mas sai um pouco para o interior e já não tem”, relata.

Há 27 anos na instituição, Giovana foi aluna, professora, inclusive de Alan, e hoje comanda os 117 matriculados das turmas de primeiro a nono anos. Ela vê na atitude dos agricultores um exemplo que vai moldar o caráter do estudante.

“Esses pais poderiam dizer que não têm internet e que ele não poderia acompanhar. Mas foram atrás e criaram isso pra ele. Certamente será um guerreiro na vida”, diz a docente.

De acordo com dados do IBGE, no interior de Estrela Velha, pequeno município da região central do Rio Grande do Sul, com 3.655 habitantes, parte dos alunos da rede pública não consegue assistir às aulas remotas em casa.

Com internet precária, especialmente na área rural, o primeiro desafio é encontrar a velocidade mínima para realizar o download das tarefas enviadas pelos professores.

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