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Em três anos, contas dos estados saem do azul para rombo de R$ 60 bi

Por causa da crise e uma folha de pagamento “mais cara”, governadores não conseguiram fechar as contas e acumularam déficit no fim de 2017

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RICARDO ARAÚJO/ ESTADÃO
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1 de 1 1513816340230 - Foto: RICARDO ARAÚJO/ ESTADÃO

Em um período de três anos, os estados saíram de um resultado positivo de R$ 16 bilhões em suas contas para um déficit de R$ 60 bilhões no fim de 2017. Isso significa que os governadores assumiram seus postos, em 2015, com o caixa no azul e, se não tomarem medidas drásticas até o fim deste ano, vão entregar um rombo bilionário para seus sucessores.

O levantamento feito a pedido do jornal O Estado de S.Paulo pelo especialista em contas públicas Raul Velloso mostra o resultado de uma equação que os governos não conseguiram resolver: uma folha de pagamento crescente associada a uma queda na arrecadação de impostos por causa da crise econômica. “É o mandato maldito”, diz Velloso. “Diante da pior recessão do país, os estados saíram de um resultado positivo para um déficit histórico”.

O Rio Grande do Norte foi o estado cuja deterioração fiscal se deu mais rapidamente nesse período. Depois de ter acumulado um superávit de R$ 4 bilhões entre 2011 e 2014, entrou numa trajetória negativa até acumular um déficit de R$ 2,8 bilhões de 2015 a outubro de 2017.

Esse descompasso fiscal pode ser visto nas ruas. Com salários atrasados, a polícia civil entrou em greve e uma onda de violência tomou o estado no fim do ano. Os policiais encerraram a paralisação, ao contrário dos servidores da saúde.

Mais dois casos de desajuste fiscal que ficaram conhecidos foram os do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. E outros estados seguem o mesmo caminho, como Goiás, Pernambuco e Sergipe. Eles estão entre os mais mal avaliados pelo Tesouro Nacional sob o ponto de vista de capacidade de pagamentos. “Há uma fila de estados prontos para passarem por uma crise aguda (como a do Rio Grande do Norte)”, diz o economista Leonardo Rolim, consultor de orçamentos da Câmara.

Para o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, o grande vilão do déficit estadual é o aumento da folha de pagamento dos estados, que precisa, a cada ano, arcar com um número maior de aposentados. “O envelhecimento da população é muito rápido e, por isso, o aumento dos gastos também”.

De acordo com o levantamento de Velloso, as despesas e receitas anuais dos estados empataram em 2014, atingindo R$ 929 bilhões cada uma. Desde então, as receitas recuaram de forma mais abrupta: atingiram R$ 690 bilhões nos dez primeiros meses de 2017, enquanto as despesas somaram R$ 715 bilhões.

Do lado das receitas, além de a crise reduzir a arrecadação com impostos, o corte de repasses do governo federal acentuou a dificuldade dos estados. “Até 2014, o governo dava empréstimos que mascaravam a situação”, afirma a economista Ana Carla Abrão Costa, que foi secretária da Fazenda de Goiás até 2016.

Se, nos últimos anos, o desajuste fiscal já obrigou a maioria dos estados a reduzir investimentos, em 2018 o corte deve ser ainda maior. Isso porque, considerando o fim do mandato, os governadores não podem deixar restos a pagar para os que assumirem em 2019. Tarefa que, para Velloso, é impossível. “Não tem a menor condição de eles zerarem esses déficits”.

Já Rolim diz que os governadores poderão recorrer a manobras, como o cancelamento de restos a pagar. “É uma espécie de calote. Despesas com obras não concluídas, por exemplo, não tem problema, mas fornecedores poderão ficar sem receber”.

Para Ana Carla, as contas vão acabar fechando porque o ano é de eleição. “Como não podem deixar restos a pagar, os estados vão buscar recursos extraordinários como nunca”, sugere.

O superintendente do Tesouro de Goiás, Oldair da Fonseca, disse que o governo trabalha com austeridade para não deixar restos a pagar para 2019. Ele destacou que o déficit de 2017 ficará em R$ 900 bilhões. Em 2015, havia sido o dobro. O secretário das Finanças do Rio Grande do Norte, Gustavo Nogueira, entende que a raiz do problema é o déficit previdenciário. O governo de Pernambuco pontuou que não considera como despesa total as despesas empenhadas (autorizadas), como foi feito no levantamento, e que fechou o ano com receita para cobrir seus gastos. O de Sergipe não retornou.

Segundo o governo local, o Rio de Janeiro foi muito prejudicado pela crise, já que a economia do estado é dependente da indústria do petróleo. O de Minas Gerais informou que já recebeu o estado em situação delicada e que a folha de pagamento tem deteriorado as contas ainda mais.

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