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Banco Central diz que pressão sobre inflação é “temporária”

Os aumentos de preços foram provocados pela depreciação do real, pela alta dos produtos básicos com cotação internacional e auxílio social

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Prédio do Banco Central no Setor de Autarquias Sul – Brasília – DF 04/11/2015
1 de 1 Prédio do Banco Central no Setor de Autarquias Sul – Brasília – DF 04/11/2015 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avalia que a “redução provisória na oferta” com um “aumento ocasional na demanda” provocou a alta nos preços de alguns produtos e a pressão sobre a inflação no país nos últimos meses.

A avaliação foi divulgada nesta terça-feira (3/11), na ata da mais recente reunião do Copom, realizada na semana passada, quando o BC manteve os juros básicos da economia (Selic) em 2% ao ano.

“Dessa forma, apesar de a pressão inflacionária ter sido mais forte que a esperada, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção”, diz a ata.

Para o colegiado que calibra a taxa básica de juros com o intuito de controlar a inflação, as pressões de aumento de preços de alimentos e produtos industriais foram provocadas por três fatores: a depreciação do real, a elevação de preços de produtos básicos com cotação internacional, conhecidos como commodities, e os programas de transferência de renda, como o auxílio emergencial, criado pelo governo para o enfrentamento à Covid-19.

“Por um lado, a normalização parcial dos preços ainda deprimidos deve continuar, em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade”, diz o documento. O BC afirmou ainda que, por outro lado, “espera-se a reversão na elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda”.

Em 2021

O Copom fixa a taxa básica de juros com base no sistema de metas de inflação. Para 2021, ano no qual o BC já passou a mirar as decisões, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.

A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia.

Segundo o Banco Central, no cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focuse dólar partindo de R$ 5,60, as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 3,1% para 2020, 3,1% para 2021 e 3,3% para 2022.

Esse cenário, ainda segundo o Comitê de Política Monetária, supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2% ao ano, se eleva até 2,75% ao ano em 2021 e para 4,50% ao ano em 2022.

Sobre o balanço de riscos para a taxa básica de juros, o Copom ponderou que a pressão de alta, por causa dos “riscos fiscais” (falta de uma clareza maior sobre a política de controle de gastos públicos) é suficiente para compensar o fato de seu cenário básico projetar inflação abaixo da meta no horizonte relevante (nos próximos meses).

“O Copom assim concluiu que o atual nível de estímulo monetário, produzido pela manutenção da taxa básica de juros em 2% a.a. e pelo “forward guidance” (indicações sobre o futuro), está adequado, independentemente das restrições de natureza prudencial”, concluiu.

Crescimento da economia

O Banco Central manteve, na ata do Copom, a avaliação de que os dados recentes sugerem uma recuperação desigual da atividade econômica. “Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento. Contudo, várias atividades do setor de serviços, sobretudo aquelas mais diretamente afetadas pelo distanciamento social, permanecem bastante deprimidas”, informou.

Os integrantes do Copom avaliaram, ainda, que a “pouca previsibilidade” associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica.

“O Comitê ponderou que essa imprevisibilidade e os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual da economia”, concluiu o Banco Central.

Teto de gastos

O Banco Central reafirmou na ata do Copom que o teto de gastos é importante, mas não é o único pré-requisito para a Selic seguir em níveis baixos. O colegiado indicou que está de olho na dívida pública e na âncora fiscal.

Ao detalhar as indicações sobre o futuro, o BC deu ênfase à “cláusula fiscal”, que condiciona a não elevação da Selic, hoje em 2% ao ano, à manutenção do atual regime fiscal.

Nesse ponto, a instituição pontuou que “alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido”. Com isso, o BC revela preocupação com a área fiscal ainda que, oficialmente, o teto de gastos continue sendo cumprido.

Esses comentários da autarquia surgem em um momento em que governo e Congresso discutem alternativas para viabilizar, em 2021, um novo programa social, o Renda Cidadã. Ele serviria de substituto do auxílio emergencial lançado durante a pandemia e que se encerra em dezembro deste ano.

A dificuldade está em viabilizar o programa, que pode atender 20 milhões de brasileiros, e ao mesmo tempo manter o teto de gastos. Oficialmente, tanto o governo quanto o Congresso defendem a manutenção do teto. Isso seria uma sinalização fundamental, para o resto do mundo, de que o Brasil segue comprometido com o equilíbrio fiscal.

Na ata, porém, o BC sinaliza que não é suficiente manter o teto no papel. Se a dívida pública acelerar, nem mesmo o teto evitaria uma reavaliação sobre a Selic.

A preocupação do BC faz sentido. Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o país terminará 2020 com uma dívida bruta superior a 101,4% do PIB. O porcentual é recorde e está entre os maiores dos países emergentes, abaixo apenas de Angola.

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