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Nadine Gasman: “Conquistas das mulheres brasileiras são irreversíveis”

Ela coordenou a ONU Mulheres no Brasil por cinco anos e meio e agora assumiu o Ministério das Mulheres, no México

atualizado

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1 de 1 nadine - Foto: Reprodução/Facebook

Durante cinco anos, a mexicana Nadine Gasman coordenou os trabalhos da ONU Mulheres no Brasil. Há duas semanas, ela retornou ao seu país a convite do presidente Andrés Manuel López Obrador para assumir o Instituto Instituto Nacional das Mulheres do México (Inmujeres), o equivalente à ministra das Mulheres no país.

Ao deixar o Brasil, Nadine se disse confiante que as conquistas das mulheres nos últimos anos se consolidaram e, apesar de algumas ameaças de retrocessos, o país conseguiu produzir um movimento de mulheres capaz de identificar e resistir às ideias que podem significar perda de direitos. “As conquistas das mulheres no Brasil são irreversíveis”, considerou, em entrevista ao Metrópoles.

“Existe hoje no Brasil um movimento de mulheres que tem tido uma capacidade muito grande de mostrar as possibilidades de retrocesso, sair para rua e barrar leis que seriam contra os direitos das mulheres. Eu acho que uma das coisas mais importantes seria esta fortaleza das organizações”, destacou Nadine.

“O Brasil tem um movimento de mulheres muito forte, de mulheres urbanas, feministas, negras indígenas, camponesas, ribeirinhas e da floresta, com pautas muito claras”, observou.

Bancada
Nadine destacou o aumento da bancada feminina na Câmara como um exemplo positivo da luta das mulheres, embora ressalte que o país precisa ainda caminhar muito para chegar a níveis de igualdade semelhantes aos demais países da América Latina.

“Embora o Brasil não esteja entre os primeiros na América Latina em participação política das mulheres, nesta Legislatura, houve 51% a mais de deputadas federais que na legislatura passada”, destacou. “Este é um avanço importante”, observou.

A bancada feminina na Câmara subiu de 51 para 77 deputadas. No entanto, esse número representa apenas 15% do total de deputados. Entre as eleitas, 43 exercem o mandato pela primeira vez.

Mestre em Saúde Pública pela Universidade Harvard e doutora em Gerenciamento e Políticas da Saúde pela Universidade Johns Hopkins, ambas nos Estados Unidos, Gasman tem nacionalidade mexicana e francesa e está na ONU desde 2005. Além de ter sido representante no Brasil, ela já dirigiu campanhas pelo fim da violência contra as mulheres para a América Latina e o Caribe.

Ranking
O último ranking divulgado União Interparlamentar Internacional (UIP) aponta o Brasil em 133º lugar em participação feminina no Parlamento, em um universo de 193 países. Os dados consideram ainda a legislatura passada.

Ruanda é o país com a maior porcentagem de mulheres em cargos políticos – 49 dos 80 lugares da Câmara são ocupados por elas. Na sequência, aparecem Bolívia, Cuba, Nicarágua (que subiu 9 lugares no ranking desde 2016), Suécia e México. Na lanterna do ranking vêm Omã, com 85 parlamentares e uma única mulher, a Confederação de Estados da Micronésia (14 representantes, 0 mulheres). Papua Nova Guiné e Vanuatu também não têm mulheres no parlamento.

Feminicídio
O desafio de reduzir o feminicídio é grande em sua opinião e passa por uma mudança de comportamento. Apesar dos índices de violência no Brasil serem alarmantes, Nadine considera um avanço que o país atualmente trate o crime com a gravidade que, na sua visão, ele merece e que tenha leis como a Maria da Penha, que pune com rigor a violência contra a mulher.

“Tivemos avanço no tema do enfrentamento à violência contra a mulher, tanto por manter a lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio. Os índices de violência ainda são muito grandes mas, pelo menos, estamos entendendo melhor o fenômeno, a mídia vem dando e criando uma maior consciência pública. A gente espera que se traduza em mudanças importantes nos comportamentos”, observou.

A pesquisa Visível e Invisível – A Vitimização de Mulheres no Brasil, realizada pelo Datafolha e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, traz números sobre as diversas violências sofridas por mulheres em 2018 e seus contextos. De acordo o levantamento, a cada minuto, 9 mulheres foram vítimas de algum tipo de agressão no Brasil no ano de 2018.

A pesquisa apontou que 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora em 2018. As mulheres que foram tocadas ou agredidas fisicamente por motivos sexuais totalizaram 4,6 milhões.

Premiação 
Em novembro do ano passado, Nadine foi premiada no Women’s Entrepreneurship Day Organization (WEDO) na categoria trabalho com alcance nacional. Na mesma ocasião, representando o Grupo Metrópoles de Comunicação, a diretora-executiva, Lilian Tahan, recebeu o troféu da categoria Jornalismo e Distribuição de Informação..

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