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Crise no barracão: a luta na Cidade do Samba pelo Carnaval do Rio

Após paralisação na Cidade do Samba, escolas do Rio enfrentam falta de recursos e pessoas para produzir desfile do carnaval de 2022

atualizado

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Aline Massuca / Metrópoles
Escolas de Samba22 (1)
1 de 1 Escolas de Samba22 (1) - Foto: Aline Massuca / Metrópoles

Rio de Janeiro – A colombina esculpida em isopor teve os pés arrancados. Engrenagens cenográficas usadas na decoração estão espalhadas pelo chão de concreto. No barracão da Imperatriz Leopoldinense na Cidade do Samba, o ambiente ainda remete aos restos do Carnaval de 2020 no Rio de Janeiro.

Os poucos operários presentes trabalham ainda na limpeza desta fábrica do carnaval carioca, que esteve completamente fechada por 1 ano e 6 meses.

Carros alegóricos permaneceram trancados por ali desde o último desfile. Recentemente, eles finalmente começaram a ser desmontados.

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Em outros tempos, sem pandemia, o barracão de uma escola na Cidade do Samba já estaria tomado por dezenas de profissionais, trabalhando em ritmo acelerado, a seis meses do Carnaval.

Mas, no momento atual, o desafio de buscar um título na Marquês de Sapucaí parece estar em segundo plano. A conquista a ser alcançada é o Carnaval em si. É viabilizar o desfile.

“A Rosa Magalhães (carnavalesca da Imperatriz) vai planejar seu desfile a partir do que temos”, explica Junior Schall, diretor de carnaval da escola, ao mencionar a reciclagem de itens e estruturas do Carnaval de 2020. “O plano dela é ter um feijão com arroz bem feito.”

Todas as limitações mencionadas pelo representante da Imperatriz são as mesmas enfrentadas pelas demais escolas na Cidade do Samba.

“O pouco dinheiro que entra vem dos ensaios e de eventos organizados na quadra da escola, que só pode receber 40% do público”, conta Dudu Azevedo, diretor de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis.

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Emprego fora do Carnaval

A indústria do carnaval foi desmobilizada por mais de um ano. Alguns profissionais simplesmente mudaram de profissão para buscar sustento em outras áreas.

Mesmo o retorno às atividades segue lento. A variante Delta se alastrou no Rio de Janeiro e contribuiu para manter restrições, apesar do avanço da vacinação.

O Metrópoles visitou três barracões na Cidade do Samba – o complexo do carnaval carioca que concentra num só espaço a produção para o desfile no sambódromo do Rio.

Prioridade para reciclagem

Cada escola opera atualmente com apenas 11 profissionais por dia. Ana Ceres, 60 anos, está entre o grupo. Ela é a chefe de almoxarifado da Imperatriz. Desempenha função crucial na atual fase: catalogar tudo o que pode ser reutilizado na produção do próximo desfile.

Escolas de Samba
Ana Ceres é chefe de almoxarifado da Imperatriz

Também auxilia na compra de materiais e produtos para substituir aqueles que, eventualmente, deixaram de ser produzidos durante a pandemia.

“Essa fase de protótipos, de criação de modelos das fantasias e adereços, é fundamental pra definir como poderemos trabalhar melhor”, assinala Ana, que chora ao falar sobre a dificuldade da vida longe da Cidade do Samba. “Aqui é minha casa, minha família.”

Chapeleiro da Imperatriz

Com uma vida inteira dedicada ao Carnaval, Amílcar Augusto de Souza, 67, o chapeleiro Rivelino, como é conhecido, está há 40 anos na Imperatriz. “Recomeçar é maravilhoso pra todos: pra nós que dependemos desse trabalho para sobreviver e pra quem gosta do espetáculo”, comemora Souza, que já recebeu as duas doses da vacina contra a Covid-19. “Nós temos que seguir novas regras. É bom demais voltar ao trabalho”.

Escolas de Samba
Rivelino, o chapeleiro, está há 40 anos na Imperatriz
Baiano da Beija-Flor

José Jorge Soares, o Baiano, trabalha no barracão da Beija-Flor há 31 anos. “Uso fibra de vidro na produção de peças para fantasias e carros alegóricos. Já comecei a produzir vasos, jarros, bonecos, máscaras e símbolos africanos que vão compor as criações do próximo desfile”, conta o profissional, que também não esconde a satisfação pela volta à Cidade do Samba.

Escolas de Samba
“Baiano” produz peças para desfile da Beija-Flor

O diretor de carnaval da Beija-Flor revela que nem todos aceitaram retornar à Cidade do Samba. “As escolas tentam recuperar seus profissionais. Muitos se recolocaram no mercado de trabalho e têm medo de voltar pro samba. Não querem correr o risco de enfrentar um outro fechamento dos barracões se aparecer uma nova onda da doença”, frisa Dudu Azevedo. “Aqui vai ser mesmo um dia de cada vez.”

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