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Cidade de Tatuí (SP) enfrenta surto de dengue em meio à pandemia

No primeiro trimestre de 2021, casos de dengue já ultrapassam o total de Covid-19 desde o início da pandemia, diz a prefeitura

atualizado

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Ações de combate à dengue na cidade de Tatuí, no interior de São Paulo
1 de 1 Ações de combate à dengue na cidade de Tatuí, no interior de São Paulo - Foto: Divulgação

São Paulo – Na tarde de 9 de março Márcia Donata, 61 anos, estava indisposta. A aposentada, que mora em Tatuí, cidade a 125 km de São Paulo, sentia dores no corpo, nos olhos e tinha febre. De início, pensou ter sido infectada com o novo coronavírus, mas o diagnóstico foi outro.

Ela fez um exame de sangue em um laboratório e descobriu que havia testado positivo para dengue. O marido, que apresentava os mesmos sintomas, também recebeu a confirmação da doença. A suspeita de Covid-19 foi descartada, mas as dores do casal não foram diminuídas nas semanas seguintes.

“Eu vivi pelo menos oito dias horríveis, horríveis. A cabeça dói tanto que parece que tem um trem em movimento dentro dela. Emagreci quatro quilos nesse período e ainda não estou 100%. Mal sinto o gosto bom das coisas”, afirma ela.

Em 2021, Tatuí vive um surto de dengue dentro da pandemia de Covid-19. No primeiro trimestre, a prefeitura computou 10.764 casos da doença transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. Para efeito de comparação, 32 casos foram confirmados de janeiro a março do ano passado.

Casos em alta

A cidade interiorana é o epicentro da dengue no estado de São Paulo, com mais da metade dos casos positivos. O governo estadual calculou 23,2 mil confirmações de dengue, com 9 mortes. Contudo, nenhum dos óbitos foi em Tatuí.

De acordo com a administração municipal, 9.707 pessoas testaram positivo para Covid-19 desde o início da pandemia, isto é, 10% a menos em relação às contaminações por dengue em três meses.

Nos 117 bairros de Tatuí há pelo menos um caso de infecção pelo Aedes aegypti. Até o momento, todos os casos da doença são do tipo 1 (são quatro no total), que causa epidemias mais rapidamente, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Márcia afirma que o serviço de nebulização, o chamado fumacê, em que um carro dispara veneno com um canhão industrial, só chegou à sua rua há cerca de 15 dias. “Tem muita gente pedindo, mas ainda não há resposta da prefeitura”.

Somente em abril, o município confirmou mais dois mil novos casos, chegando a 12.796 até segunda-feira (5/4).

Prefeitura pede ajuda da população

A coordenadora do departamento de Combate à Dengue de Tatuí, Juliana Camargo da Costa, avalia que a população tem deixado a desejar nos cuidados para evitar que a doença se alastre pela cidade.

Ela conta que a eliminação de criadouros tem 100% de eficácia no combate à dengue. Enquanto o fumacê tem 30% de sucesso e a nebulização costal, em que um agente da prefeitura dispara o veneno em lugares de foco com uma espécie de mochila, reduz em 50% a possibilidade de novos casos.

“Ainda assim tem moradores que não abrem a porta para o funcionário fazer a visita ao imóvel”, critica.

Segundo Juliana, os serviços de fumacê são oferecidos pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), um órgão ligado ao governo de São Paulo. A autarquia analisa quais regiões de Tatuí têm mais casos e envia os agentes para os bairros em questão.

Atualmente, a Prefeitura de Tatuí tem 18 agentes de prevenção contra a dengue. Além da água parada em vasos e pneus, outro foco para o Aedes aegypti procriar são entulhos despejados em terrenos baldios e matas. Outra recomendação é o uso de repelente contra mosquitos, que pode ser usado em spray e pomada.

“É possível dizer que não há uma pessoa em Tatuí que não conheça alguém que já tenha pegado dengue. E também registramos casos de duplos de dengue e Covid-19. É uma coisa surreal, totalmente fora do que a gente imaginou para 2021”, desabafa a coordenadora.

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Cidade arrasada

O investidor de imóveis Giuliano di Franco, 48 anos, contraiu a doença na sexta-feira (2/4). Ele mora sozinho e se locomove, mesmo sem disposição, para fazer exames de plaquetas. Se as ruas de Tatuí estão vazias por conta da pandemia, o mesmo não se pode dizer dos hospitais.

Di Franco se recupera aos poucos e passa praticamente 24 horas na cama. “O negócio aqui está feio, feio mesmo. Eu virei estatística, né? Se você sai para a rua, tem que usar máscara. Se fica em casa, é picado por um mosquito. A pandemia já abala psicologicamente as pessoas por causa do isolamento e o surto de dengue veio junto para ‘arregaçar’ a nossa cidade”.

Sem colapso

Mesmo com o caos duplicado, Juliana acredita que o sistema de saúde de Tatuí não irá colapsar. Uma pessoa infectada pelo Aedes aegypti só é internada se sofrer de desidratação profunda ou se o quadro evoluir para dengue hemorrágica, que pode levar à morte.

“A demanda é grande, sim, mas acredito que não vai causar uma pane no sistema”, ela opina, para em seguida pedir novamente colaboração de cada morador da cidade.

A coordenadora do Combate à Dengue avalia que o número de casos deve cair a partir de junho, quando as temperaturas ficam mais frias. O surto da doença poderia ser evitado se a vacina contra dengue, a Butantan-DV, desenvolvida pelo Instituto Butantan, fosse aprovada para uso.

Desenvolvido há cerca de 10 anos, o imunizante será usado nos quatro tipos e está na última fase de teste clínico, que deve terminar somente em 2024. O Metrópoles entrou em contato com o Butantan, mas aguarda uma resposta sobre a atualização do fármaco.

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