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Centro, coração financeiro do Rio, agoniza em meio à pandemia de Covid-19

Só no ano passado, quase 800 empresas fecharam, e houve queda de 50% do número de usuários do VLT, modal que liga as ruas da região

atualizado

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Aline Massuca/Metrópoles
Comércio fechado e ruas desertas pelo centro do Rio
1 de 1 Comércio fechado e ruas desertas pelo centro do Rio - Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Rio de Janeiro – A cidade do Rio de Janeiro não enfrenta somente a pandemia do novo coronavírus, mas também trava guerra para renascer e devolver à população o orgulho de ser carioca. Um dos mais precisos retratos das derrotas que a capital tem sofrido nos últimos anos é o estado de abandono e degradação enfrentado pelo centro do Rio.

Com baixíssima circulação e serviços restritos em função da Covid-19, o centro contabilizou, só no ano passado, 798 empresas que encerraram suas atividades. De acordo com o levantamento da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro, foram 6.901 baixas em toda a cidade em 2020.

Parte dos problemas registrados no centro se deve não só à pandemia, mas também à falta de serviços públicos na região, que sofre com a desordem urbana, com a falta de segurança e com o grande número de moradores em situação de rua que ocupam espaços públicos.

Dona de um escritório no Centro, a advogada Vania Sampaio revela que só vai ao local quando tem de atender clientes ou precisa ir ao Tribunal de Justiça. “Antes do recesso do Judiciário, em dezembro, tiver de ir ao fórum. Saí com o dia claro ainda, era uma sexta-feira, as ruas estavam desertas, andei à beça com medo, pela falta de segurança, para conseguir um táxi. Fiquei com muito medo”, conta.

Queda no faturamento

Pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ), feita com empresários do comércio de bens e serviços da região do Centro, mostra que 80,3% dos entrevistados registraram queda acima de 25% no faturamento de 2020, no comparativo com 2019. Para 10,6%, a redução variou de 16% a 25%, seguidos por 4,6% que apresentaram queda de 6% a 15%. Por fim, 4,6% afirmam que o faturamento diminuiu em até 5%.

Levantamento feito pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio, com apoio do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Rio de Janeiro – Sindilojas Rio) mostra que nos nove meses do ano em que as lojas abriram – o comércio ficou fechado da segunda semana de março até a primeira semana de junho devido à pandemia – o movimento de vendas foi negativo, variando de menos 6,9%, se considerados os bens não duráveis, a menos 9,2% para os bens duráveis.

Para os empresários e as pessoas que responderam às pesquisas, os principais problemas do Centro são: segurança, vacina e pessoas em situação de rua.

Se em cada quarteirão ou esquina do velho Centro é possível observar lojas e salas comerciais com placas de “aluga-se”, “vende-se” ou “passo o ponto”, também faltam pedestres e pessoas circulando no principal meio de transporte da região, o VLT. O modal considerado “pendular”, que tem por objetivo ligar as dezenas de ruas do centro, foi inaugurado para garantir a mobilidade e agilidade nos deslocamentos no coração econômico da cidade.

No entanto, a pandemia eliminou mais de 50% dos usuários do VLT, segundo dados da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp). Os números absolutos, no entanto, não foram respondidos pelo consórcio que administra o serviço. A prefeitura também não forneceu os dados de passageiros que utilizam o sistema.

Prefeitura lança Plano Reviver Centro

Além de viver a queda da sua vocação comercial, o Centro reforça a baixa vocação para lugar de moradia. É para reverter esse quadro de degradação que a Secretaria de Planejamento Urbano já colocou o plano de revitalização em prática. A ideia é aumentar a baixa taxa de população residente: a região tem apenas 41.102 moradores.

“Esse abandono do Centro gera um efeito dominó. A loja fecha, o funcionário perde o emprego, a família perde o sustento e toda a região metropolitana sofre. Abandonar o centro é abandonar o estado, seja econômica, cultural ou urbanisticamente”, avalia o secretário Washington Fajardo.

O Reviver Centro é um plano holístico, com estímulo fiscal e para interessados em promover retrofit (reformas dos espaços). “Haverá isenção para quem adquirir imóveis e ‘retrofitar’. Vamos requalificar e permitir que possam ser feitas reformas sem entraves. Também vamos investir em iluminação, conservação, ordenamento das bancas de jornal, promover incentivo à arte urbana. Enfim, o centro está no nosso foco”, garante Fajardo.

Ainda dentro do pacote habitacional, a Prefeitura do Rio vai fomentar residências para todas as faixas de renda. “Vamos fazer isso com criação de piloto habitacional, de forma inclusiva, beneficiando servidores públicos e estudantes universitários, por exemplo. Também vamos fazer a revisão de monumentos históricos”, completa.

Os interessados em saber mais sobre o projeto podem acessar o painel de consulta pública no site http://prefeitura.rio/revivercentro.

Moradores de rua

Em relação à população em situação de rua, a Secretaria Municipal de Assistência Social informou que segue a Política Nacional de Assistência Social, baseada na reinserção social dessas pessoas mais vulneráveis. O centro é uma das regiões da cidade que mais concentra essa população, e desde o dia 1º de janeiro vem recebendo ações integradas de acolhimento, realizadas com apoio de outros órgãos da prefeitura, em especial no que diz respeito à prevenção à Covid-19.

Este ano, até o dia 4 de fevereiro, a secretaria realizou 2.541 atendimentos, 482 encaminhamentos de casos e 384 acolhimentos de pessoas em situação de rua. Foram distribuídas 874 máscaras, 1.268 lanches e 904 garrafas de água na região.

Enfatizou ainda que a legislação só permite o acolhimento daqueles que aceitam.

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