Os servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltaram a ser alvo de ameaças e ofensas após a aprovação da vacina Coronavac contra a Covid-19 para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos.
E-mails enviados aos técnicos da agência afirmam que os servidores pagarão “preço terrível” por liberar o uso do imunizante. O conteúdo das mensagens foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pelo Metrópoles, que teve acesso aos documentos.
O uso da Coronavac no público infantil foi aprovado no início da tarde dessa quinta-feira (20/1). Por volta das 11h51, quando a deliberação sobre o tema ainda ocorria, servidores da 5ª diretoria da Anvisa receberam a primeira ameaça.
“Com vergonha expresso minha indignação pela Anvisa, onde o aparelhamento e o ativismo se tornaram notórios, onde o profissionalismo e a ética deram lugar à ganância e às atitudes criminosas, que de forma cruel e covarde estão colocando a vida de inocentes em uma grande roleta russa”, consta na mensagem.
Em seguida, o texto pontua que os servidores da agência terão “dor e sofrimento” por aprovarem o uso das vacinas. “Mas lembre-se: lá em cima Deus contempla a todos, e quando Deus tocar nos seus trazendo dor e sofrimento lembre-se: essa maldição foi você mesmo que trouxe para dentro da sua família. E o preço a ser pago será terrível, não quero estar na sua pele”, consta no e-mail.
Mais tarde, por volta das 14:13, outra ameaça foi enviada por e-mail. “Deus pode tocar nos seus, não se esqueçam. Arrependam-se senão o preço que você vai pagar será altíssimo. Estarei orando a Deus em desfavor de todo corrupto e opressor, e você será lembrada”, finaliza o criminoso.
Veja o conteúdo das ameaças enviadas à Anvisa:

Ameaças recebidas por servidores da Anvisa após aprovação da Coronavac em criançasMaterial cedido ao Metrópoles

Ameaças recebidas por servidores da Anvisa após aprovação da Coronavac em criançasMaterial cedido ao Metrópoles
Investigações
Desde o início da discussão sobre a imunização infantil contra a Covid, técnicos, diretores e outros funcionários do órgão receberam mais de 300 ameaças. De acordo com a Anvisa, o conteúdo das mensagens foi enviado à Polícia Federal (PF), que investiga o caso, e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
As primeiras ameaças foram enviadas ao órgão em novembro de 2021, quando a Pfizer anunciou que pediria autorização para o uso da vacina pediátrica contra Covid em crianças de 5 a 11 anos de idade.
Depois, em dezembro, os técnicos e diretores voltaram a receber intimidações. A agência solicitou proteção policial e comunicou o caso ao Gabinete de Segurança Institucional da Segurança da República (GSI), à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Covid-19: o que se sabe até agora sobre a vacinação de crianças

A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnatybaona/Getty Images

A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anosIgo Estrela/ Metrópoles

A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármacoAline Massuca/Metrópoles

Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no BrasilER Productions Limited/ Getty Images

Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizaçõesGetty Images

De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenosVinícius Schmidt/Metrópoles

Contudo, desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a Anvisa vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de apoiadores do presidente e de grupos antivacinaHUGO BARRETO/ Metrópoles

Para discutir imunização infantil, o Ministério da Saúde abriu consulta pública e anunciou que a vacinação pediátrica teria início em 14 de janeiro. Além disso, a apresentação de prescrição médica não será obrigatóriaIgo Estrela/ Metrópoles

Inicialmente, a intenção do governo era exigir prescrição. No entanto, após a audiência pública realizada com médicos e pesquisadores, o ministério decidiu recuar Divulgação/ Saúde Goiânia

De acordo com a pasta, o imunizante usado será o da farmacêutica Pfizer e o intervalo sugerido entre cada dose será de oito semanas. Caso o menor não esteja acompanhado dos pais, ele deverá apresentar termo por escrito assinado pelo responsável Hugo Barreto/ Metrópoles

Além disso, apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacinaAline Massuca/ Metrópoles

Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi graveIgo Estrela/Metrópoles

Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Cuba, e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em criançasGetty Images

Nos Estados Unidos, a imunização infantil teve início em 3 de novembro. Até o momento, mais de 5 milhões de crianças já receberam a vacina contra Covid-19. Nenhuma morte foi registrada e eventos adversos graves foram raros baona/Getty Images

A decisão do Ministério da Saúde de prolongar o intervalo das doses do imunizante contraria a orientação da Anvisa, que defende uma pausa de três semanas entre uma aplicação e outra para crianças de 5 a 11 anosRafaela Felicciano/Metrópoles