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Prisioneiro do Centrão, Bolsonaro sofre abusos, mas tira vantagens

Por que o presidente da República não convoca uma cadeia nacional de rádio e televisão para responder às acusações que lhe fazem?

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Ricardo Barros, líder do governo na Câmara
1 de 1 Ricardo Barros, líder do governo na Câmara - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Se não sabia, se nada tinha a ver com isso, por que o presidente Jair Bolsonaro não acionou a Polícia Federal, como prometeu que faria, para apurar a denúncia dos irmãos Miranda sobre o processo de compra repleto de irregularidades da vacina indiana Covaxin?

Se não sabia, se nada tinha a ver com o negócio de R$ 1,6 bilhão, por que respondeu assim aos irmãos Miranda: “Vocês sabem quem que é, né? Puta merda, se mexer vai ferrar…”. E, de pronto, citou quem era: Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.

Se no encontro com os irmãos Miranda, em 20 de março último, Bolsonaro foi capaz de avaliar de imediato o tamanho da encrenca que teria pela frente, por que menos de dois meses depois nomeou a mulher de Barros conselheira de administração da usina Itaipu?

Não teria sido o caso de afastar-se de Barros, o homem-bomba, ao invés de aproximar-se mais e de deixá-lo explodir no seu colo? Ou então de ter aconselhado Barros a largar a função de líder pelo menos enquanto estivesse sendo investigado pela CPI da Covid?

No curto governo do presidente Itamar Franco, que sucedeu o de Fernando Collor, Henrique Hargreaves, seu amigo de longa data e chefe da Casa Civil, foi acusado de corrupção. Itamar demitiu-o sem hesitar. E o readmitiu tão logo a acusação revelou-se falsa.

Sorte de Bolsonaro que não será ouvido pela CPI, e constrangido a responder a essas e outras perguntas.  Por que ele não convoca uma rede nacional de rádio e televisão e tira todas as dúvidas a respeito? Ou não deve satisfação ao país que o elegeu?

Em 1992, ameaçado de cair, o presidente Collor, pelo menos duas vezes, convocou rede nacional de rádio e televisão para explicar-se. Na segunda vez, pediu que o povo fosse às ruas em sua defesa vestindo verde e amarelo. A maioria vestiu-se de preto.

No segundo semestre de 2005, atingido pelo escândalo do mensalão do PT (pagamento com dinheiro sujo feito a deputados para que votassem como queria o governo), o presidente Lula foi à televisão e admitiu ter sido traído. Não disse por quem.

Mais tarde, reeleito, ele passou a negar que o mensalão existiu. Negou mesmo depois de o Supremo Tribunal Federal condenar os principais envolvidos no escândalo. Nega até hoje. É por esse caminho que Bolsonaro, um mau aprendiz, deverá ir.

Barros só renunciará à função de líder do governo na Câmara se quiser, se lhe for conveniente, porque Bolsonaro é refém do que Barros sabe, e ele sabe muito, e do Centrão, grupo do qual o partido de Barros faz parte e simplesmente é o mais robusto.

No passado, Bolsonaro foi soldado raso de meia dúzia dos partidos que hoje o têm como prisioneiro. Fala grosso para o público externo, mia para seus algozes. É abusado por eles, mas também extrai vantagens sonantes disso. É a sua turma, afinal de contas.

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