Digamos que Lula ou Dilma fosse o presidente da República. E que a menos de um ano da eleição, ante o risco de uma derrota, contra a vontade do seu ministro da Economia e em desrespeito à lei, decidisse criar um programa temporário de auxílio aos brasileiros mais pobres que resultará em mais inflação, juros altos e desemprego. Como reagiriam os donos do dinheiro no país?
Da mesma forma como estão reagindo ao que tenta fazer agora o presidente Jair Bolsonaro para se reeleger ano que vem. Com a diferença que talvez nunca mais votassem em Lula ou Dilma. Em outubro próximo, se o segundo turno for disputado por Lula e Bolsonaro, renovarão seu voto em Bolsonaro. Ruim com ele, pior sem. Foi ruim com Paulo Guedes, sem ele poderia ser pior.
Para negar o voto a Lula, eles dirão que o governo Dilma foi um desastre, esquecendo por conveniência que suplicaram pela volta de Lula em 2014 de modo a evitar a reeleição de Dilma. A ex-presidente, hoje, é carta fora do baralho. Surfou na onda do impeachment para ganhar uma vaga no Senado em 2018 e não conseguiu. Mesmo assim tornou-se um fardo para Lula.
Ao render-se à vontade do alto que contraria tudo o que ele sempre defendeu, Guedes deixa claro que não será um fardo para Bolsonaro. Pesou o amor pelo cargo com todos os badulaques a que tem direito. A amargura também teve seu papel. Guedes seria capaz de doar parte de sua fortuna aos que passam fome em troca apenas do reconhecimento dos seus pares.
O homem é o homem e as suas circunstâncias. Guedes perdeu a oportunidade de riscar um traço no chão e dizer: daqui não passo. Sua vaidade é sem limite. O compromisso com suas ideias tem limite, sim. Quem tratou os pobres como um estorvo, estranhou que empregadas domésticas visitassem a Disney e filho de porteiro fizesse vestibular, agora os invoca para justificar as fraquezas.
Virou ministro decorativo, uma triste figura! A voz do dono e não o dono da própria voz.