Se acontecer, ainda se arrastará por mais algumas semanas ou  meses o entendimento entre o PT de Lula e o PSD de Gilberto Kassab para as eleições de outubro próximo em Minas Gerais.

Kassab, que ali já conta com três senadores, a princípio prefere mantê-los a eleger governador o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD). O PT insiste em lançar candidato a uma das vagas de senador.

Lula precisa de Kalil para contar com um palanque forte em Minas. Kalil precisa do apoio de Lula para derrotar o governador Romeu Zema (Partido Novo), candidato à reeleição.

Quem mais precisa de quem para vencer no segundo maior colégio eleitoral do país? Kalil, que está careca de saber disso. Lula lidera com folga todas as pesquisas de intenção de voto em Minas.

O problema tem nome: Alexandre Silveira, presidente do PSD estadual, que assumiu a vaga de senador depois que Antonio Anastasia foi nomeado ministro do Tribunal de Contas da União.

Silveira quer se reeleger. Os outros dois senadores, um deles Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, ainda terão mais 4 anos de mandato. Silveira é dono de grande fortuna e do cofre do PSD.

Para Kassab, como para os donos de partidos em geral, é mais importante eleger senadores e deputados federais do que governadores. O Congresso está cada vez mais poderoso.

O presidente eleito em outubro dependerá do Congresso para governar, seja ele Lula, Bolsonaro ou qualquer outro. Bolsonaro dependerá menos porque não se preocupa em governar bem.

Uma vez reeleito, poderá dar um chute na bunda do Centrão porque já conseguiu o que queria. Medo de impeachment? Se o derrubarem, assumirá o vice, general Walter Souza Braga Netto.

Quem se arriscaria? Braga Netto não é apenas um militar como seu colega Hamilton Mourão, o atual vice e agora candidato a senador. Braga Netto é mais alinhado com Bolsonaro do que Mourão.

Há pouco mais de um mês, em São Paulo, Lula disse a Kalil: “Eu posso muito, mas não posso tudo”. Não poderia empurrar goela abaixo do PT o apoio a Kalil e a Silveira em troca de nada.

Sugeriu a Kalil que se filiasse ao PSB como fez Geraldo Alckmin. Assim, o PT abriria mão da candidatura ao Senado por Minas do deputado federal Reginaldo Lopes, líder das pesquisas.

Kalil hesitou. Lula disse-lhe então que, se fosse o caso, Kassab escolheria eleger Silveira ao Senado a eleger Kalil ao governo. Kalil duvidou. Kassab foi consultado e confirmou que Lula tinha razão.

Lula está em Minas e visitará várias regiões do Estado a partir de hoje acompanhado de Lopes. Silveira ameaça levar o PSD mineiro a apoiar Bolsonaro se Lopes for seu concorrente ao Senado.

Silveira blefa, e Lula sabe. Kassab está rouco de repetir que entre Lula e Bolsonaro em um eventual segundo turno, apoiará Lula. E segue o baile sem que o nó mineiro seja desatado por ora.

O tempo é o senhor da razão. O prazo para registro de candidaturas termina no dia 15 de agosto.

Correção: O PSD de Kassab não conta com três senadores em Minas, mas com dois: Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira, que tentará se reeleger. Carlos Viana, o terceiro senador, é do PL. Pretende ser candidato ao governo com o apoio de Bolsonaro.