Sabe o que vai acontecer se Bolsonaro, hoje, não reconhecer sua derrota? Nada. Simplesmente nada. Bolsonaro não vale mais nada. O cafezinho que tomará lhe será servido frio – não por Bolsonaro ser quem é, mas porque o presidente de saída bebe café frio.
Dei-me muito bem com o coronel Jarbas Passarinho, um dos condestáveis da ditadura militar de 64, a quem conheci no Recife quando ele era ministro da Educação. Era uma fonte preciosa de informações. Ao reencontrá-lo em Brasília em 1982, ele me disse:
“Sabe aquela bebida que lhe vi tomando no almoço no Recife? Aquela bebida vermelha? Fiquei viciado nela”.
Não era uma alegoria. Passarinho tinha uma memória formidável. Só assim lembrei que já bebera Campari, a tal bebida vermelha. Ao visitá-lo em sua casa, no Lago Norte, quando ele já estava longe do poder, Passarinho chamou minha atenção:
“Viu a altura da grama lá fora?”
Não vira.
“A grama fica sempre alta no jardim de políticos sem poder”.
Falta quem pise a grama. Bolsonaro aprenderá a lição em breve.
Nos 580 dias em que esteve preso em Curitiba, Lula deve ter aprendido um monte de lições – entre elas, a de ser mais humilde e menos estourado. É assim que parece desde que saiu de lá e mesmo depois de se eleger presidente pela terceira vez.
Em 2002, ao se eleger pela primeira vez, ele foi logo avisando ao primeiro escalão de sua campanha:
“Aqui, somente eu e José de Alencar tivemos votos”.
O empresário mineiro José de Alencar era seu vice.
Ontem, primeiro no hotel onde concedeu entrevista à imprensa, depois na Avenida Paulista entupida de gente, ele fez questão de agradecer aos que o ajudaram a ganhar – Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva, Fernando Haddad e outros tantos.
Dedicou a vitória aos que resistiram em defesa da democracia ameaçada por Bolsonaro, e prometeu governar para todos os brasileiros, os que votaram nele e os que não votaram. Dir-se-á que isso é de praxe. É, sim. Até Bolsonaro o disse ao se eleger.
Mas, no caso de Lula, não é mera formalidade. Pelo simples fato de que ele precisará das forças que reuniu para governar um país partido. A biografia de Lula foi bastante enlameada pelos que tentaram destruí-lo. Ele tem quatro anos para deixá-la brilhando.
Apenas quatro anos, como disse. Não tem tempo a perder, portanto. Daí a pressa em começar a trabalhar logo. Foi sincero ao agradecer a Deus a oportunidade de se redimir de eventuais pecados e de lhe permitir fazer o bem aos mais carentes
Por experiência, sabe que o relógio começou a correr contra ele. A todo presidente, uma vez empossado, concede-se um período de 100 dias de lua de mel. É costume. Desta vez, a lua de mel do país com Lula será mais curta. Os dois já se conhecem o suficiente.