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Boletim do golpe (XV) – Empresários saem em defesa da democracia

Ditadura e tortura pertencem ao passado

atualizado

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1 de 1 democracia-em-vertigem2 - Foto: Netflix/Divulgação

Em 2018, dias antes do segundo turno das eleições, Bolsonaro, candidato a presidente, enviou uma carta ao ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, desautorizando o que seu filho Eduardo, deputado, havia dito em um vídeo.

Em resposta a uma pergunta, durante uma palestra feita antes do primeiro turno, Eduardo, que no governo do seu pai seria cotado para embaixador do Brasil em Washington, afirmou sobre a possibilidade de o tribunal impugnar a candidatura de Bolsonaro:

“Aí está encaminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver. E aí quando pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você está indo para um pensamento que muitas pessoas falam, e muito pouco pode ser dito. Mas, se o STF quiser arguir qualquer coisa…”

“Eu não acho isso improvável. Mas aí vai ter que pagar para ver. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca: se quiser fechar o STF, sabe o que faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo”.

E continuou:

“O que que é o STF, cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que que ele é na rua? Você acha que a população… Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF?”

Em abril do ano passado, Abraham Weintraub, ministro da Eduardo, sugeriu a Bolsonaro que mandasse prender os ministros do Supremo. Chamou-os de “vagabundos”. No dia 7 de setembro, Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”.

No último domingo (24), ao lançar-se candidato à reeleição, Bolsonaro disse a certa altura do seu discurso:

“Estes surdos de capa preta [referindo-se aos ministros do Supremo] precisam entender o que é a voz do povo, que quem faz as leis é o Executivo e o Legislativo. “Não vamos sair do Brasil. Nós somos a maioria, somos do bem. Nós temos disposição para lutar pela nossa liberdade. Convoco todos vocês agora para que todo mundo no 7 de setembro vá às ruas pela última vez”.

Quem puxa aos seus não desmerece, e Eduardo tem a quem puxar. Repete o que ouve dentro de casa. Bolsonaro não explicou por que convocou seus devotos para no 7 de setembro irem às ruas pela última vez. Será o último 7 de setembro dele como presidente?

Certamente porque reconhecem que a democracia no Brasil está ameaçada, um variado grupo de empresários aderiu a uma carta em defesa dela e do sistema eleitoral, duramente atacado por Bolsonaro até em reunião com embaixadores estrangeiros.

A carta foi gestada na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, circula desde a semana passada e tem ganhado assinaturas de peso do mundo empresarial e financeiro. Será lida no próximo dia 11 nas arcadas do Largo de São Francisco, centro de São Paulo.

A data marca a comemoração da fundação dos dois primeiros cursos jurídicos do país, criados em 1827, por meio de decreto de Dom Pedro I. No Largo de São Francisco, em 1977, foi lido um texto de repúdio à ditadura militar de 64 que ainda vigorava.

Entre os signatários da carta que já reúne mais de 3 mil assinaturas estão Roberto Setubal e Candido Bracher (Itaú-Unibanco), industriais como Walter Schalka (Suzano) e donos de empresas de bens de consumo como Pedro Passos e Guilherme Leal (Natura).

Aderiram também Eduardo Vassimon (Votorantim), Horácio Lafer Piva (Klabin), Pedro Malan (ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso), o economista José Roberto Mendonça de Barros e o cineasta João Moreira Salles.

Dois trechos da carta:

“Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis”.

“No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.”

A carta será lida pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello. Outros ex-ministros da Corte também a assinaram: Sepúlveda Pertence, Carlos Ayres Britto, Carlos Velloso e Eros Grau. Não há menção na carta a Bolsonaro.

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