O processo de escolha do candidato do PSDB à sucessão do presidente Jair Bolsonaro corre o risco de acabar em um mar de lama com pesada troca de acusações entre os dois nomes mais fortes: João Doria, governador de São Paulo, e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.

Leite acusou seu adversário de ter fraudado a data de filiação ao partido de 92 prefeitos e vice-prefeitos de São Paulo e de outros estados que teriam se comprometido a votar em Doria. A Comissão Partidária das Prévias do PSDB deu-lhe razão depois de examinar caso por caso e decidiu que os 92 não estão aptos a votar.

De volta da Conferência Mundial do Clima, realizada pela Organização das Nações Unidas em Glasgow, na Escócia, Doria orientou Marco Vinholi, presidente do PSDB-SP, a impugnar pelo mesmo motivo a filiação de 32 supostos eleitores de Leite no Rio Grande do Sul, na Bahia e em Minas Gerais.

Não importa que Leite e Doria, por ora, se valham de terceiros para falarem em seu nome. Eles são os donos das vozes. Trocam gentilezas em público sem perder a pose de tucanos bem educados. Longe dos holofotes, sentam o pau um no outro. Doria diz que será o escolhido. Leite não diz, mas acha que o escolhido será ele.

A verdade é que Doria vê desbotar aos poucos sua condição de favorito. Poderá derrotar Leite como afirma que o fará, mas a essa altura a que preço? Leite tem mais pinta do que Doria de que unirá o partido se for o escolhido. Os 92 impugnados representam pouco menos de 10% dos cerca de mil prefeitos e vices do PSDB.

O voto desse grupo tem peso de 25% no colégio eleitoral do partido. As acusações de fraude acirraram a disputa. Doria e Leite dedicam-se a ir atrás de apoio nas bases um do outro. São Paulo deverá votar em massa no seu governador. Minas Gerais, em Leite, que admite renunciar depois se outro nome da 3ª via se impuser.