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Aberta a temporada de entrega de cabeças para Bolsonaro salvar a sua

Cresce a família de canários que teimam em não cantar

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Presidente Jair Messias Bolsonaro passa por grades antes da coletiva de imprensa - metrópoles
1 de 1 Presidente Jair Messias Bolsonaro passa por grades antes da coletiva de imprensa - metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Foi um crime menor se comparado a deixar Manaus sem oxigênio por uma semana durante a pandemia da Covid, combater medidas de isolamento social porque o importante era salvar a economia, sabotar a compra de vacinas, vetar o fornecimento de água para indígenas e arquitetar o golpe para instalar uma ditadura.

Mas a falsificação do cartão de vacina de Bolsonaro, por sua mesquinhez, e a tentativa frustrada de apoderar-se de joias que entraram no país ilegalmente, por sua cobiça, são marcas indeléveis de um período em que uma corja de bandidos governou o Brasil e tudo fez para eternizar-se no poder. Quase conseguiu.

“Não existe adulteração da minha parte”, disse Bolsonaro no ato inaugural de mais uma entrega de cabeças desde que a sua fique no lugar. E quem seria capaz de adulterar seu cartão de vacinas à sua revelia ou sem sua autorização? A adulteração beneficiaria quem, senão ele e os seus parentes mais próximos?

A prisão do tenente-coronel Mauro Cid foi um duro revés para Bolsonaro, como antes fora a de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, guardião da minuta do golpe. Com aquela carinha de menino idiota, sempre disposto a realizar todas as vontades do chefe imediato, Mauro Cid poderia ser tudo, menos idiota.

Filho de um general que serviu ao Exército à época em que Bolsonaro planejou atentados a quartéis, o ajudante de ordens presidenciais mais famoso da história da República nunca foi um mero serviçal. Dava palpites em assuntos políticos, despertando ciúmes em seus pares, e influenciando decisões de Bolsonaro.

Assim como Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, era dono das senhas do pai nas plataformas digitais, Mauro Cid era dono da conta bancária do ex-presidente. Era ele que sacava dinheiro para pagar despesas de Bolsonaro. Michelle sempre cuidou do seu próprio dinheiro. Bolsonaro admirava a sensatez e a esperteza do seu braço-direito.

Sensatez, não. Não é sensato quem encabeça uma operação de resgate de joias oferecidas por um governo estrangeiro ao governo do Brasil, e que seriam incorporadas ao patrimônio de um presidente de saída. Não é sensato quem cuida pessoalmente de negócios com meliantes para fraudar um cartão de vacina.

Entre as mensagens captadas pela Polícia Federal na investigação sobre a fraude há uma menção ao assassinato, no Rio, da vereadora Marielle Franco. A menção aparece numa conversa de Mauro Cid com o militar da reserva e miliciano Ailton Barros, que diz a certa altura:

“Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão. Sei quem mandou. Sei a coisa toda, entendeu?”.

O tenente-coronel, que estaria obrigado a dar ordem de prisão a quem  diz saber a história de um crime não desvendado, não o fez. Sequer manifestou seu espanto. Mauro Cid está preso em uma das dependências do Exército, em Brasília. Ouvido pela Polícia Federal, calou-se. Ailton Barros também está preso, e calado.

Cresce a família de canários que teimam em não cantar.

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