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Múcio, o civil conciliador de Lula

Ministro deseja que as investigações do 8 de janeiro acabem logo

atualizado

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Marinha do Brasil
Ministro José Múcio e almirante Olsen
1 de 1 Ministro José Múcio e almirante Olsen - Foto: Marinha do Brasil

Já não se sabe se José Múcio é ministro da Defesa do Brasil ou ministro da defesa dos militares. Suas declarações fazem a segunda hipótese ganhar sentido. Múcio disse que a suspeição sobre os militares “incomoda” e tem pressa: “o país inteiro torce para que investigações sobre militares golpistas acabem logo”. O ex-ministro do TCU faz o jogo designado por Lula. A conciliação com os militares após o governo Bolsonaro.

Seu discurso em defesa dos fardados, veja só, vai ao encontro do general Hamilton Mourão. Não houve golpe. “Em todos os golpes que você vê na história, vão as Forças Armadas na frente e o povo apoiando atrás. No 8 de janeiro houve uma absoluta baderna patrocinada por alguns irresponsáveis. Não havia uma liderança”, declarou o ministro. Vamos ouvir Mourão: “Uma tentativa de golpe seria o quê? A Força Armada sair para a rua e ser derrotada, a exemplo do que ocorreu na Turquia. Isso não aconteceu no Brasil”, disse.

Múcio afirmou ainda que os militares estão “atrás ou aguardando” as comprovações de eventuais violações de regras da carreira militar para a tomada de providências. Por que o ministro não impulsiona uma investigação ? Esse não é o seu perfil. E também quer se manter no cargo.

Engenheiro e ex-deputado federal, Múcio revelou que foi muito difícil convencer os militares a impedir a nomeação do coronel Mauro Cid para comandar um batalhão em Goiás. Sua tarefa é negociar com o corporativismo verde-oliva, acostumado a privilégios e impunidade. Basta recordar as pensões para viúvas de maridos vivos, salários com penduricalhos astronômicos, compra de viagra e picanha à rodo, entre tantas denúncias. Desde a transição o ministro revela o ambiente hostil em que caminha.

E tem acumulado tropeços. Foi ele quem sugeriu a implantação da Garantia da Lei e da Ordem para enfrentar as invasões do 8 de janeiro. Visitou a CPI, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal para arrancar a lista de nomes de militares envolvidos nas visitas do hacker Walter Delgatti ao Ministério da Defesa. Confessou saber do golpismo do almirante Garnier, mas classificou com “posição pessoal”. Já está na sua ficha chamar os acampamentos bolsonaristas em frente aos QG do Exército de  “uma demonstração da democracia”.

Em entrevista à BCC, Adriana Marques, professora do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ, lembra que “há uma ideia equivocada que se sustenta há décadas de que o ministro da Defesa é o representante das Forças Armadas no governo, mas não é”, criticando a visão de que o ministro deve atender as demandas dos militares. Sua atuação deveria ter uma maior participação da sociedade civil.

Apesar das críticas, aparentemente mantém a confiança do presidente Lula. Não só dele. Ex-ministros da pasta defendem sua permanência no cargo. Mourão disse ter “muito apreço” e que ele tem “boa aceitação” entre os militares. “Eu sou apaixonado por você, José Múcio”, disse Jair Bolsonaro em sua cerimônia de despedida do TCU.

Nossa história mostra o que acontece quando militares não são julgados por seus crimes. A anistia de 1979, pode-se dizer, permitiu a ascensão do bolsonarismo, ao manter uma imagem positiva da ditadura para a parte conservadora da sociedade. Torturas, mortes, crise econômica e muita corrupção foram esquecidas. Uma nova anistia, dessa vez individualizando um golpismo amplamente discutido pelas Forças Armadas, é um risco. A democracia se manteve em pé porque o golpe estava fadado ao fracasso, não porque parte dos fardados defenderam a Constituição.

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