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Reforma e Contrarreforma (por André Gustavo Stumpf)

Na carta ao Rei D. Manuel I que anuncia a descoberta do novo território além-mar, Pero Vaz Caminha pede emprego para um parente

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Forum de Combate a corrupcao
1 de 1 Forum de Combate a corrupcao - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

No dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de Todos os Santos, o monge católico alemão Martinho Lutero pregou suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg.

Com este simples gesto gerou uma revolução religiosa que fraturou a cristandade ocidental. O documento colocou em debate a utilização das indulgências para conceder perdão aos pecados dos fiéis.

Lutero era contra essa prática e achava que não era atribuição do Papa obrigar as pessoas a pagar pelo perdão e a salvação. Seu intuito era reformar a Igreja, moralizar as práticas do clero, além de condenar os abusos promovidos pela Igreja de Roma.

Ele traduziu a Bíblia para o alemão, com objetivo de torná-la acessível a todos os alfabetizados. Lutero foi excomungado pelo Papa Leão X por causa da ousadia. Sua teologia ficou conhecida como protestantismo.

A contrarreforma foi a reação da Igreja Católica ao avanço do protestantismo pela Europa. Seus líderes decidiram iniciar a catequização de pessoas pelos jesuítas, criar seminários religiosos, reativar o tribunal da Inquisição e proibir livros que, supostamente, atentavam contra as regras da Igreja. Os princípios básicos para a reforma da Igreja Católica foram estabelecidos no Concílio de Trento.

O protestantismo se espalhou pela Europa, fato que gerou guerras religiosas de todos os tipos e tamanhos. E provocou fuga em massa para regiões onde as diversas religiões conviviam sem perseguições. As populações fugiam para onde se sentiam seguras no Velho Continente ou fora dele. Um dos destinos que iria aparecer em breve seria o da América do Norte.

Protestantes de diversas tendências migraram para o novo continente e implantaram a ideia de que o país que seria governado pelo povo, sem reis, e com um administrador que seria substituído de tempos em tempos. Assim surgiu o país chamado Estados Unidos da América, filho direto da reforma protestante.

Já as antigas colônias espanholas e portuguesas são filhas diretas da contrarreforma. Os países que sucederam ao antigo sistema colonial são majoritariamente católicos, com sistema educacional baseado na atividade da Igreja, forte presença de religiosos no governo.

A Inquisição teve em Lima, no Peru, uma espécie de sucursal. No Brasil ocorreram quatro visitações para controlar os desmandos daquele pessoal que vivia abaixo do Equador. A sede da Inquisição portuguesa ficava em Lisboa onde alguns condenados foram queimados vivos em praça pública.

O Estado e a religião andaram de mãos dadas no Brasil desde os primeiros dias até a Proclamação da República, em 1899.

Este é um legado profundo na história do Brasil. O país é corrupto desde a sua descoberta. Na carta ao Rei D. Manuel I que anuncia a descoberta do novo território além-mar, Pero Vaz Caminha pede emprego para um parente. Ao longo dos séculos dirigentes e religiosos roubaram à farta.

Desviaram recursos de todas as maneiras possíveis e ignoraram solenemente as normas religiosas de conduta. Os homens se amancebavam com índias e negras, porque o sistema escravagista era consentido pela Igreja. Enfim, viver no Brasil era uma rara oportunidade de estar no paraíso e ficar rico.

Essa retrospectiva é razoável diante do que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Uma operação de juízes e procuradores em Curitiba, longe portanto de Brasília, identificou e processou diversos líderes políticos e empresariais de alto coturno.

A operação lava-jato desvendou para o mundo a realidade da economia brasileira: um conluio forte entre empresários, políticos e governo. Cada um tirava a sua parte em nome de administrar o país. A investigação dos jovens do Paraná exibiu as vísceras da economia brasileira. Tudo contaminado pela corrupção.

O novo governo prometeu ir mais fundo nesta linha. Colocou o Sergio Moro no ministério da Justiça. Mas o presidente e sua família não resistem a uma simples investigação. Por essa razão, ele se transformou numa espécie de Torquemada pelo avesso.

Recolocou o antigo sistema no poder. Cometeu o mais absoluto estelionato eleitoral. Prometeu um mundo e construiu seu reverso. A CPI da Covid, para ficar em apenas um exemplo, demonstrou a vasta picaretagem ocorrida em torno da aquisição de vacinas.

O inexplicável medievo brasileiro em pleno século 21, é construído sobre notícias falsas e mentiras grosseiras, crendices, negacionismos e a mistura de conceitos políticos com religiosos. Exalta a incompetência e fecha os olhos para as necessidades básicas.

Produz um inexplicável saco de maldades contra os brasileiros: inflação e desemprego em alta, gasolina caríssima, gás de cozinha a 10% do salário-mínimo, provável racionamento de energia. O inquisidor sugere que o povo não compre feijão, compre armas. É o inesperado mergulho em direção à idade média. Um desastre abissal.

André Gustavo Stumpf escreve no https://capitalpolitico.com/

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