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O Brasil é um conluio (por Ricardo Guedes)

O caso mais bem sucedido do Ocidente de controle social por uma elite

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1 de 1 Imagem colorida de uma moeda de 1 real sobre uma bandeira do Brasil - Metrópoles - Foto: Getty Images

Certa vez, um amigo meu, de um país da Escandinávia, que aqui morava há algum tempo, da representação diplomática, me falou que “não conseguia entender como funciona o Brasil”. Disse-lhe, lacônico e com certa ironia, que ele não conseguia entender porque “o Brasil não é um país, é uma bagunça”. Não tem forma, não há um projeto de nação.

Philippe Schmitter, brasilianista, de quem fui aluno em Chicago, dizia em aula que o Brasil era o caso mais bem sucedido do Ocidente de controle social por uma elite. Que os partidos políticos podiam mudar ao longo do tempo, alteravam-se as siglas, mas as elites continuavam as mesmas, sempre no poder, na carniça do Estado. Os partidos políticos eram variações, dentro do tempo, daquilo que as elites permitiam.

Max Weber nos fala de três tipos de dominação política: a racional-legal, caracterizada por burocracias estáveis no atendimento das demandas dos cidadãos; a carismática, com líderes emocionais que alteram os rumos das sociedades, para melhor, ou para pior; e a patrimonial, onde o estado é o fim em si mesmo, o estado como gerador e hospedeiro da riqueza, na anteposição ao cidadão. Este é o caso brasileiro.

Vejamos os números. O Brasil é a 9ª economia do mundo, com PIB de US$ 2,1 trilhões. Em renda per capita, estamos na 63ª colocação, com US$ 11.073,00 anuais. No IDH, que mede a qualidade de vida em função de bens e serviços para 191 países, o Brasil encontra-se na 87ª posição. No índice de GINI, que mede a distribuição de riqueza para 162 países, o Brasil encontra-se na 154ª posição. No PISA, que mede o desempenho de alunos do ensino médio em 81 países, o Brasil encontra-se na 52ª posição em leitura, 61ª em ciências, e 65ª em matemática. Na renda per capita, estamos atrás de Barbados, Trinidad e Tobago, e Costa Rica. No IDH, atrás da Rússia, China, e de Cuba. No índice de GINI, atrás da Nicarágua, Venezuela, e do Zimbabwe. No PISA, atrás da Colômbia, Tailândia, e do Cazaquistão.

No Brasil, a carga tributária, uma das maiores do mundo, é de 33,71% do PIB, ou seja, o Estado administra US$ 707,9 bilhões por ano.  O número de funcionários públicos é de 11 milhões no país, na remuneração por serviços. No Congresso Nacional, são 513 Deputados Federais e 81 Senadores, em sua maioria eleitos e representantes de grupos econômicos que, no geral, usufruem de reservas de mercado. Como diz Wright Mills em A Elite do Poder, manda o econômico e executa o político. Entre o executivo e o legislativo, podemos estimar em cerca de 10 mil pessoas que participam do jogo político e econômico das verbas no país, ou seja, cerca de 5/1000 de 1% de nossa população para 1/3 dos recursos totais. É uma briga ferrenha na manutenção do poder. Como diz a música na Marquês da Sapucaí, “quem comeu, comeu, quem não comeu não come mais”. E o resto, que se lixe. Vide a Dengue.

Por sinal, prolifera no mundo a perda de projetos de nação, devido à concentração da riqueza e aumento da desigualdade, com ideologias esdrúxulas na deterioração social.

Difícil saída.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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