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O Brasil condenado pelo negacionismo político (por Cristovam Buarque)

Negar a tragédia social é uma forma de genocídio tão grave quanto ignorar a epidemia

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Moradores de rua constroem barracos ao longo das vias publicas de brasília
1 de 1 Moradores de rua constroem barracos ao longo das vias publicas de brasília - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A economia de um país não caminha por muito tempo sobre uma sociedade sem justiça social; tanto quanto a justiça social não caminha sobre economia ineficiente. A negação da necessidade de sociedade justa e a negação da necessidade de economia eficiente são dois negacionismos que condenam o Brasil a surtos de crescimento sem sustentabilidade social, ou surtos de avanços sociais sem sustentabilidade econômica.

A história do último século oscilou entre políticas econômicas sem sensibilidade social e políticas sociais sem conhecimento das regras da economia. Tivemos milagres econômicos que logo esbarraram na desigualdade como a riqueza se distribuía, na falta de educação de base, no transporte público caótico, na sua saúde e moradia precárias. Também tivemos momentos de políticas sociais que esbarram na falta de eficiência econômica levando a inflação, juros altos, endividamento, depredação ecológica.

Sem sensibilidade social, tivemos governos que não aumentaram o salário mínimo, mesmo quando a riqueza crescia, outros que sem conhecimento econômico propõem aumenta-lo mesmo sem base econômica que permita sem a ilusão de inflação. Há relação da sociedade com a economia que exige sensibilidade social, mas também respeito a certas regras econômicas.

Sem distribuir renda nem investir no social, a sociedade se desagrega e a economia quebra por demanda limitada, por violência, por desequilibrio ecológico, baixa produtividade, insatisfação. Distribuindo sem considerar limites nem restrições a economia e os benefícios sociais são devastados pela inflação, pela ineficiência, pelos desequilíbrios. A sociedade justa e a economia precisam estar casadas pela responsabilidade política usando a variável tempo para realizar seus propósitos nos prazos possíveis, sem abandonar a eficiência econômica nem os propósitos sociais: sem negativismo social nem econômico, com sensibilidade social e conhecimento científico. Negar os limites definidos pela ciência econômica pode matar ainda mais e por mais tempo do que negar vacina para lidar com a epidemia. Negar a tragédia social é uma forma de genocídio tão grave quanto ignorar a epidemia.

 

Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador 

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