O ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu a batalha de Waterloo contra a aliança do Centrão com o governo: implantado na gestão Temer, o teto de gastos é atropelado ainda menor de idade, na primeira infância.
Era a batalha das batalhas, cuja derrota tem o presidente do lado oposto, o que isola o ministro. Daqui em diante, a permanecer no cargo, Guedes será mero espectador da orgia eleitoral que seguirá até, pelo menos, outubro de 2022.
Fez como Napoleão que retardou o confronto com o inimigo à espera que o terreno úmido secasse, tempo suficiente para a chegada do reforço prussiano aos britânicos.
O episódio contraria as aparências, pois o presidente Bolsonaro também perde, já que o desfecho ignora a repercussão na economia, depois da reação errada à pandemia.
O cenário é desestabilizador, não resolve o problema de forma sustentável e agrava a situação do próximo presidente eleito que, se for o próprio Bolsonaro herdará de si mesmo a bomba de efeito retardado acionada agora.
Os efeitos imediatos vão piorar a economia, ou seja, já enfraquecido politicamente pela condução equivocada da pandemia, o presidente deve ter também uma derrota gradual na economia.
A decisão de Guedes de reduzir danos, preservando ao máximo o teto já furado, indica que ainda pretende resistir. Mas com o fim do teto e a priorização dos gastos eleitorais, não fica de pé mais nenhum fundamento da proposta liberal da campanha.
A rigor, o fracasso das reformas, com apoio velado do presidente da República, já indicava esse desfecho, mas sua consolidação tira oxigênio ao ministro que já não serve de Lexotan para o mercado.
João Bosco Rabello escreve no Capital Político. Ele é jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Em 1977, transferiu-se para Brasília. Entre 1984 e 1988, foi repórter e coordenador de Política de O Globo, e, em 1989, repórter especial do Jornal do Brasil. Participou de coberturas históricas, como a eleição e morte de Tancredo Neves e a Assembleia Nacional Constituinte. De 1990 a 2013 dirigiu a sucursal de O Estado de S. Paulo, em Brasília. Recentemente, foi assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública