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Grito dos analfabetos (por Cristovam Buarque)

Cada brasileiro que não sabe ler, é vítima da tortura do analfabetismo, leva um chicote dentro do cérebro

atualizado

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Casa de Caridade Maria Franc/Reprodução
Leitura sobre espiritismo
1 de 1 Leitura sobre espiritismo - Foto: Casa de Caridade Maria Franc/Reprodução

Na sua posse, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, fez o mais belo entre os discursos de posse dos membros do novo governo Lula, citando cada grupo de brasileiros esquecidos. Mas ele esqueceu nossos atuais 10 milhões de analfabetos, e os cerca de 20 a 30 milhões que viveram e morreram sem reconhecer a bandeira de seu país, desde que a República e adotou um texto escrito nela. Os primeiros republicanos esqueceram dos analfabetos, e 130 anos depois, continuam esquecidos. O resultado é a vergonha que passamos nesta semana ao tomarmos conhecimento de relatório internacional que nos coloca entre os países com piores resultados na alfabetização de suas crianças e seus adultos.

Uma vergonha, mas também uma burrice. Cada brasileiro que não sabe ler, é vítima da tortura do analfabetismo, leva um chicote dentro do cérebro, acionado para castiga-lo cada vez que vê um texto e não sabe decifrá-lo. Mas também tem limitadas sua produtividade econômica e sua participação na social. , salvo raríssimas exceções. O analfabetismo é uma tortura contra o indivíduo e um desperdício contra o país.

Mas nada indica que o Brasil esteja querendo corrigir esta vergonha e esta burrice. Ao longo da historia os governos conservadores descuidaram da educação e os poucos governos progressistas se preocuparam mais em mostrar estatisticas com o número de universitários, independente do que eles aprendam, do que em abolir o analfabetismo e aumentar o número de jovens concluindo o ensino médio, alfabetizados para o mundo contemporâneo.

Até aqui, nada indica que o tema do analfabetismo de adultos voltará a ser tratado como uma questão de direitos humanos, tal qual foi tratado em 2003, primeiro ano do governo Lula. Por isso, está na hora da sociedade dar um grito dos analfabetos. Se eles não têm sindicatos, partidos, associações ou movimentos, a OAB, ABI, CNI, CNA, CUFA, CUT, CGT ……deveriam se unir pela abolição do analfabetismo: exigirem do atual governo federal que defina uma estratégia e marque o prazo para o Brasil colocar em frente a cada aeroporto uma placa dizendo “você está entrando em território livre do analfabetismo, onde todos sabem ler nossa bandeira”.

Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

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