Recém saído do Hospital Sírio Libanês, de Brasília, onde entrou em fins de fevereiro para tratamento de emergência – de uma obstrução intestinal agravada repentinamente, que o fez passar por seguidas cirurgias, durante mais de 10 dias, até reagir positivamente há duas semanas – e receber alta para completar a recuperação em casa. Foi talvez o inesperado mais severo e preocupante enfrentado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (e do TSE), Luís Roberto Barroso, desde os meses finais do ano passado: antes, durante e depois do embate eleitoral para a Presidência da República, fase em que ele tornou-se uma das vozes mais firmes e decisivas, do poder judiciário brasileiro, por eleições democráticas, contra iniciativas golpistas da direita bolsonarista, carreando sobre sua cabeça e ombros pesadas cargas de ódio e ferocidade vindas das hordas seguidoras do mandatário do Palácio do Planalto, derrotado nas urnas.
Ataques e ofensas em escalada e sem tréguas, dentro e fora do país, diga-se, a bem da verdade de “Sua Excelência o Fato”, da frase famosa do estadista francês Charles de Gaulle, que o Senhor Constituição do Brasil, Ulysses Guimarães, costumava repetir em suas falas. Ondas de ataques nos âmbitos político, social e jurídico, intercalados de choques e revezes no plano íntimo e pessoal – o que espiritualistas costumam atribuir a “sopros dolorosos do destino”, que abalam resistências individuais, por mais fortes que sejam. Uma delas, a perda da esposa, empresária Tereza Cristina Van Brussel Barroso, aos 57 anos, no dia 13 de janeiro, vitimada por um câncer. Poucos dias depois de um dos episódios mais sombrios da guerra da dire ita contra o magistrado progressista – o próximo na linha de sucessão da ministra Rosa Weber na presidência do STF, a assumir ainda em 2023.
O caso ficou famoso como “perdeu, Mané”, em razão da reação de Barroso ao gritar a expressão, para o bando bolsonarista que o ofendia com xingamentos e ataques pessoais impublicáveis, quando caminhava em NY, para participar de um evento sobre a questão democrática no Brasil e as eleições. Depois houve hostilidades na Flórida, contra o ministro do STF, no aeroporto internacional de Miami, por parte de adeptos do ex-presidente. Agressões fartamente documentadas em áudios e vídeos, nos Estados Unidos, enviados ao Brasil e que o novo ministro da Justiça, Flávio Dino prometeu mandar a PF apurar com agilidade e rigor. Mas infelizmente tudo parece deixado de lado, a exemplo de outras promessas. Tipo as desta semana, em Fortaleza, ao visitar o Ceará em chamas ateadas pelo crime organizado, que volta a dar sinais preocupantes no Nordeste e noutras regiões do país – incluindo Rio e São Paulo –, de que segue vivo, em franca atividade, em alguns casos comandando ações de dentro dos presídios.
Diante do tenso e preocupante quadro geral, que o ministro Luís Roberto Barroso supere esta fase parecida com a do personagem do conto “A Hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, levado ao cinema – afinal todo ser vivente “tem a sua hora e a sua vez”, no dizer do notável autor mineiro – e retorne logo em plena forma de saúde e disposição, de ex atleta de uma das melhores gerações do voleibol nacional: inteligente, culto, hábil e bem humorado jurista e intelectual. O País segue precisando de sua atuação. O resto a ver.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br