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Constituinte petista (por André Gustavo Stumpf)

PT pode esnobar pretendentes e montar uma plataforma de governo que contemple as antigas aspirações sindicais.

atualizado

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Fábio vieira/Metrópoles
Ex-presidente Lula em natal dos catadores, em São Paulo
1 de 1 Ex-presidente Lula em natal dos catadores, em São Paulo - Foto: Fábio vieira/Metrópoles

Se as pesquisas de opinião estiverem próximas da realidade, o candidato Luís Inácio Lula da Silva possui chances reais de ser eleito presidente da República no primeiro turno, em outubro próximo.

Essa notável perspectiva dá ao candidato, e a seu partido, posição de relevo no cenário político nacional. Um e outro não precisam de mais apoio partidário, podem jogar com suas pedras à vontade, esnobar pretendentes e montar uma plataforma de governo que contemple as antigas aspirações sindicais. Sem fazer concessões.

Lula já disse várias vezes que pretende implantar no Brasil o que ele chama de controle social da mídia. Em bom português, essa medida significa limitar a liberdade de informar. Ou colocar o noticiário sob o interesse político. Em alguns países europeus os sindicatos de jornalistas se envolvem na produção de pautas dos veículos de comunicação.

Talvez seja por essa razão que o jornalismo investigativo é relativo na França ou na Itália. Esse é o primeiro objetivo do cardápio petista. Controle da imprensa. É o meio também de encobrir eventuais desvios de conduta, antes chamados de malfeitos.

O segundo é o domínio de todas as áreas do governo. Significa ter absoluto controle sobre o dinheiro. Ou seja, reverter a autonomia do Banco Central. Ter acesso direto ao cofre, sem intermediários.

E, claro, acabar com o teto de gastos que implica em planejar, restringir, escolher e investir melhor. Sem a restrição do teto, a solução é gastar, gastar e gastar. E aumentar impostos para pagar o rombo a ser feito nos cofres nacionais. É a eterna solução argentina.

Reverter a reforma trabalhista é objetivo imediato e demandado pelos líderes sindicais. Será um retorno lamentável, embora compreensível. Há quem, dentro do Brasil, que trabalhe numa empresa sueca de locação de mão de obra. Ela seleciona os melhores profissionais em cada área, em qualquer país, e os distribui pelo mundo, para trabalhar de maneira remota, pela internet. Ou seja, ninguém precisa viajar, a não ser em casos excepcionais.

Com um detalhe: nenhum dos escolhidos pode ficar mais de seis meses no emprego. O objetivo é não ter nenhum vínculo trabalhista com o empregador. A vantagem é que o empregador paga em dólar, rigorosamente dentro do combinado. O profissional, por sua vez, deve trabalhar o número de horas contratada por dia no fuso horário do país contratante.

A precarização do emprego é tendência mundial. Mudar as leis brasileiras, não significa que as práticas mundiais de mercado serão modificadas.

A volta do imposto sindical é medida consequente para canalizar mais verbas destinadas aos sindicatos e lhes garantir maior protagonismo político. Essa providência deve custar algo em torno de R$ 3 bilhões para os próprios trabalhadores, mas a elite sindical terá a segurança para exercer sua liderança.

É um assunto quase interno do Partido dos Trabalhadores. Se o PT alcançar a sonhada hegemonia, é possível pensar na convocação de uma Assembleia Constituinte, conduzida pelos sindicalistas, que, entre outras medidas, deve tentar colocar os militares sob controle civil. É o sonho dos petistas de raiz, que não gostam da presença de Geraldo Alckmin na chapa de Lula.

Esse é o cenário possível dentro do sonho hegemônico petista, depois que Lula cumpriu 580 dias de prisão em Curitiba. A extensão da vingança demonstra o tamanho do equívoco que foi a eleição de Jair Bolsonaro. Seus desatinos fortaleceram o Partido dos Trabalhadores e o colocaram numa posição de poder que jamais desfrutou antes.

A política externa, dentro desta moldura, deverá acompanhar os movimentos de esquerda da América do Sul e mesmo da esquerda do Partido Democrata norte-americano. O diálogo com Joe Biden poderá ser mais fácil.

O modelo de comunismo de maior sucesso é o da China. Seu sistema econômico, capitalista, extremamente inclusivo, tirou cerca de 500 milhões de pessoa da miséria e as colocou no ciclo produtivo e consumidor. O país é a segunda maior economia do mundo e caminha a passos largos para ser a primeira.

Exemplo menos badalado é o do Vietnã, país onde ocorreu a guerra que balançou corações e mentes nos anos setenta. Hoje é uma economia de mercado com rápido crescimento baseada em capitais privados, tudo controlado pelo partido único.

Mas o entorno de Lula tem a cabeça posta no modelo de Cuba dos tempos heroicos de Fidel Castro, ou da Nicarágua, onde Ortega prendeu todos os adversários para se eleger presidente do país pela quarta vez. Maduro, na Venezuela, não é comunista. É apenas mais um ditador latino-americano.

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