Se existe sinal, forma de expressão ou representação factual (jornalisticamente falando) para caracterizar o bolsonarismo de raiz – de extrema direita e golpista, nos moldes dos sujeitos explícitos ou ainda ocultos, que projetaram, financiaram e executaram os atentados bárbaros e destrutivos contra as sedes e outras representações simbólicas (artísticas, históricas e culturais) dos três poderes da República, dia 8, em Brasília – estes são, sem dúvida, a provocação e o escárnio a toda e qualquer expressão do poder, da justiça e da política em seu mais pleno sentido.

Este fenômeno materializa – se no retorno, ao Brasil, do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, figura capital nas investigações do 8 de Janeiro em Brasília. Sob pressão, Torres voltou de Miami, Estados Unidos – mesmo destino para onde já se mandara o ex – presidente Jair Bolsonaro e familiares, dois dias antes de encerrar seu mandato, sem maiores (nem menores) explicações – cercado de rumores crescentes – ao lado de suspeitas e indícios clamorosos levantados, entre outros, pelo novo ocupante da presidência (Luiz Inácio Lula da Silva), na entrevista à jornalista Natuza Nery (Globo News), sobre os inéditos e sombrios atos de terror no DF.

O ex-secretário de Segurança demitido no auge dos atos no DF, ocupa agora posição de peça chave para desvendar o projeto antidemocrático, golpista e suas espúrias ramificações mais insondáveis. Entre a ida e volta de Torres, – do paradisíaco balneário dos EUA, para onde Torre viajou, de férias com a família, em plenos dias incertos, que exibiam preocupantes sinais de eclosão de explosivos atos criminosos em seu pedaço a defender – pipocam fatos e brechas que cobram esclarecimentos cabais, expostos no documento dos sub – procuradores, sobre o terror do 8 de Janeiro de vandalismo e provocação, filmados e documentados nos mínimos e ferozes detalhes, acolhido e entregue pelo PGR, Augusto Aras, ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, condutor deste caso sem precedente histórico.

O ex-ministro bolsonarista – demitido da Secretaria de Segurança do DF por telefone, pelo governador Ibaneis Rocha (em diálogo de sair fumaça pelo que já se sabe), preso na volta de Miami, segue na berlinda, em razão dos sinais que transmitiu ao longo da semana. Basta ver o jeito de “enfant terrible” como chegou, no melhor estilo de famosos filmes policiais americanos: trajes esportivos, despojados, mas grifados, boné, tênis, mochila e jeito daqueles policiais disfarçados do seriado “Miami Vice”, sucesso de público também no Brasil. Ar debochado e aparente despreocupação nos gestos e jogo de corpo.

Torres voltou sem o seu célular (“olha só, o cara esqueceu o celular na Flórida!” frisou Lula na entrevista a Natuza. Na memória desse aparelho, entre outros, deve estar o diálogo, de arrepiar, revelador de coisas ainda submersas, com o governador Ibaneis Rocha, na hora da sua demissão. Acredite se quiser nesta falha de memória, tratando-se de experiente quadro da PF e da alta gravidade dos fatos criminosos, na Praça dos Três Poderes – contra prédios, objetos artísticos e documentos do patrimônio histórico nacional, depredados alguns furtados). Torres dá sinais de abalo emocional ao socitar apoio psicológico e recusar depor aos agentes da PF que foram ouvi-lo no local onde está recolhido. O resto a ver.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.E-mail: vitors.h@uol. com.br