Entre a 702 e a 703 Norte, colado às oficinas, o boteco tem nome de mocotó, mas oferece outra iguaria às quartas. Bucho de boi, feijão branco e linguiça. Enche de gente. Prato típico do Nordeste, a “dobradinha” ali foi uma das delícias de voltar a Brasília.
Há muitas outras delícias de reviver Brasília. A leveza do ar… a cor do céu, o verde de tantos jardins e imensos gramados. Depois de seis anos de um governo golpista e outro fascista, e os atos de terrorismo de 8 de janeiro, Brasília ressurge colorida na democracia.
Infelizmente, há de se conviver com figuras execráveis, que eleitores desavisados ou mal intencionados, de todo o país, mandaram para o Congresso – nem vale a pena citar nomes. A contrapartida compensa. Saber da presença de Lula nos palácios, ainda que roubados ou destruídos pelos ocupantes que saíram em dezembro, afaga a alma.
Andar pelas ruas de Brasília – sim, é possível andar pelas ruas, quadras e entrequadras – dá um prazer danado. O Lago Paranoá não é o mar, mas compensa. Carrega histórias e possibilidades de descanso e lazer. Um dos maiores lagos artificiais do mundo, idealizado há dois séculos, concretizado por JK nos anos 50.
Brasília carrega histórias. Quem se mudou para cá nos aos 70 sabe contá-las. Revivê-las. Brasília foi inaugurada com glamour por JK. Com a cidade, nasceram memórias, lendas, crônicas. Pouco depois, durante os governos militares, tornou-se fria, oprimida. Tempos sombrios.
Os jornalistas trabalhavam com medo. Anos de chumbo. Brasília era sinônimo de repressão, prisão, tortura, censura. A eleição indireta de Tancredo Neves, o primeiro civil pós-ditadura, aconteceu sob a espada dos milicos. Eleição indireta e uma alegria direta nos gramados do Congresso Nacional.
Brasília renascia, mais uma vez.
Renasceu muitas vezes. Até o Carnaval, quem diria, está animado na capital do país. “Bloquinhos” sem fim levam à exaustão os foliões.
E brotou de novo no dia 1º de janeiro de 2023.
Lula também precisa saber do Bar do Mocotó.
Tragédia anunciada – Fica muito difícil falar em coisas boas num dia em que cinco municípios do litoral paulista sofrem graves consequências provocadas pelo excesso de chuvas, no fim de semana. Dezenas de pessoas morreram, outras centenas ficaram desalojadas. Estradas estão interditadas. Lula, junto com o governador Tarcísio de Freitas, visitou a área flagelada e anunciou providências imediatas para minimizar o sofrimento de quem perdeu não só parentes. Perdeu parte de sua vida. Lula e Tarcísio não estavam ali para cumprir agenda política, mas para cumprir seu papel.
Mirian Guaraciaba é jornalista