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Avaliação negativa segue a derrubar governos (por Maurício Moura)

A receita de baixo crescimento econômico e inflação não produz reeleição

atualizado 31/10/2022 2:48

moeda de R$ 1 Michael Melo/Metrópoles

A Era dos Extremos é uma obra do historiado inglês Eric Hobsbawm é um ensaio histórico panorâmico do século XX. O livro traz a tese de que o século passado teve início com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, e terminou com a derrocada da União Soviética, em 1991. A Era Jair Messias Bolsonaro terminará com o fim do seu mandato. E tal completa um ciclo de eleições presidenciais nas Américas em que só a oposição triunfa desde 2019. A oposição foi vitoriosa na Argentina, Uruguai, Bolívia, Estados Unidos, Peru, Chile, Colômbia e agora Brasil. Já podemos classificar esse período como a “Era das oposições”. E a derrota de Bolsonaro expõe os principais motivos dessa onda oposicionista.

Primeiro, é quase impossível ser um governo popular saindo de uma eleição polarizada. O Brasil das eleições presidenciais de 2022 foi mais uma batalha de rejeições. Assim como o Uruguai de Luis Lacalle Pou (50,8%) x Daniel Martinez (49,2%), o Peru de Pedro Castillo (50,12%) x Keiko Fujimori (49,88%), o Equador de Guillermo Lasso (52,5%) x Andre Arauz (47,5%), a Colômbia de Gustavo Petro (50,44%) x Rodolfo Hernandez (49,56%) e até mesmo o Estados Unidos de Joe Biden que fechou a disputa contra Donald Trump com uma diferença de aproximadamente 7 milhões de votos em um universo de mais 150 milhões contabilizados em 2020. O eleito entra, de partida, rejeitado pela metade do eleitorado. Todos os êxitos foram conquistados, fundamentalmente, pelo medo de uma possível vitória da outra candidatura. Temos, na prática, vencedores que já entram derrotados no quesito popularidade.

Segundo, as condições econômicas, principalmente na América Latina, pouco ajudam. Com raríssimas exceções, os presidentes recém-eleitos não têm mínimo espaço fiscal para executar suas agendas de campanha. Com isso transformam expectativa em frustração em poucos meses. A economia tem o sido o principal fator de avaliação negativas dos mandatários latino-americanos. A receita de baixo crescimento econômico e inflação não produz reeleição. O Presidente Jair Bolsonaro entrou para a campanha eleitoral com o pior patamar de desemprego e inflação quando comparado aos seus pares que tentaram o segundo mandato (Fernando Henrique Cardoso em 1998, Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e Dilma Rousseff em 2014). Não é por acaso que Bolsonaro encarou a campanha com a pior avaliação de governo entre seus pares. A evidência empírica histórica é cruel: governos mal avaliados não se reelegem. O mesmo aconteceu com ex-presidente Donald Trump em 2020 nos Estados Unidos. O republicano nunca passou de 45% de aprovação.

Terceiro, todos os países sofrem com uma relação instável entre o Executivo e o Legislativo. Na maioria, os presidentes eleitos encaram um Congresso dividido e, muitas vezes, avesso a agenda de campanha dos eleitos. Em alguns casos, como o do Peru, o Parlamento torna o contexto presidencialista insustentável politicamente. Não é simples, portanto, ter a opinião pública e os(as) congressistas jogando contra.

Por último, o candidato do PL cometeu o mesmo erro de Donald Trump: passou o mandato inteiro basicamente se comunicando com sua base mais fiel de apoiadores. Em raríssimos momentos se esforçou para moderar o discurso e ampliar sua gama de apoio. Apostou todas as fichas (e falas) na polarização, na divisão e na retórica do antipetismo. Para vencer faltou ir além da rejeição ao PT.

Portanto, a era das oposições continua firme nas Américas. Fica o enorme desafio para o eleito navegar nessa combinação complexa de rejeição, polarização, Congresso difuso e restrições fiscais. No extremo, é uma tarefa quase impossível.

 

Maurício Moura, Presidente do Instituto IDEIA e Professor da Universidade George Washington

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