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Três bancas de revistas que valem a pena você conhecer em Brasília

A primeira foi aberta em 1960 por Lourivaldo Soares Marques, 80 anos. O jornaleiro oferece livros, vinhos e poesias para os clientes

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Roteiro de bancas de JornalLocal: Copacabanca (208 Sul)
1 de 1 Roteiro de bancas de JornalLocal: Copacabanca (208 Sul) - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

As bancas de jornal fazem parte da história de Brasília. Presentes na entrada de várias quadras do Plano Piloto, muitas fecharam ou ganharam novas finalidades ao longo dos anos, enquanto outras resistem ao tempo. Conheça três jornaleiros que representam essa tradição.

Roda de choro todos os sábados
A 208 Sul tem uma trilha sonora especial. Todos os sábados de manhã, músicos e cantores se reúnem na CopacaBanca para integrar uma roda de choro. A iniciativa é do jornaleiro pernambucano Carlos Bastos Valença, 65 anos, há seis com o ponto.

Músico há mais de quatro décadas e empreendedor aposentado, uma das grandes alegrias dele é reunir os amigos. “É um divertimento. No sábado, isso aqui vira uma festa!”, lembra, animado. Cerca de 15 músicos se juntam todos os finais de semana no local, sempre a partir das 10h. “Eu ainda quero reunir mais músicos pernambucanos para mostrarmos como se tocava o frevo de bloco. É impressionante”, fala, entusiasmado.

Há oito anos, antes de assumir a banca, Carlos e o filho eram alunos da Escola de Choro de Brasília, no Clube do Choro. Eles se reuniam para tocar com amigos no Parque da Cidade, incentivados pelo professor de música, até que a roda foi perdendo força. “Quando a gente comprou a banca de jornais, nós convidamos o pessoal para vir tocar aqui e deu certo”, lembra.

Desde então, sempre há um motivo para festejar. O músico mantém o violão e as partituras atrás do balcão. Entre um cliente e outro, ele ensaia, à espera do próximo sábado.

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Livros acompanhados por vinho e um dedo de prosa
Pioneiro em Brasília, Lourivaldo Soares Marques, 80 anos, carrega com orgulho o título de primeiro jornaleiro da cidade. Ele chegou em Brasília em 1960, com apenas 22 anos e o sonho de viver na nova capital. “Eu peguei um trem na Estação da Luz, em São Paulo, até Anápolis [GO], e de lá vim de pau de arara, porque naquele tempo não existia linha regular”, lembra.

Nunca faltou vontade de trabalhar. Assim que chegou, Lourivaldo começou a vender jornais na rua. Visionário, ele bateu na porta do jornal O Globo e propôs um acordo: queria sociedade para abrir a primeira banca de jornais da cidade. “Era um bom negócio”, recorda. “O chefe da redação não hesitou. Apertou a minha mão e disse: ‘Parabéns, sócio!'”. Desde então, o jornaleiro se empenha em manter o estabelecimento da 108 Sul vivo.

Bastam alguns minutos de conversa com o sr. Lourivaldo para se perceber o amor dele pelas letras. Tudo ao seu redor se transforma em poesia – eu, inclusive, ganhei uma autografada por ele ali mesmo. O jornaleiro se empenha em incentivar a leitura e sustenta uma mesma promoção há décadas: na compra de um livro, o cliente ganha o jornal do dia e um copinho de vinho. A tradição começou na década de 1960.

JP Rodrigues/Especial para Metrópoles
Lourivaldo Soares Marques

 

Todos os anos, em dezembro, ele ganhava muitas garrafas das embaixadas como um agradecimento pelo trabalho ao longo dos meses. Lourivaldo foi o responsável por levar os jornais aos embaixadores, ministros e órgãos do Governo do Distrito Federal (GDF). Eram tantas garrafas que o jornaleiro decidiu abrir os vinhos na banca e distribuir para os clientes.

“Um belo dia, eu coloquei um cartaz com os dizeres: ‘Compre um livro e ganhe um jornal’. As vendas aumentaram muito”, recorda. Dias depois, surgiu uma nova ideia. “Eu estava no banho e veio a frase: ‘Promoção cultural! Compre um livro, tome vinho e ganhe um jornal'”.

A quantidade de livros na banca rendeu a ele uma participação na Feira do Livro em 1983. O estande era uma atração à parte na mostra, com barris de vinho para que os leitores pudessem degustar enquanto escolhiam seus livros. “Eu fiz uma parceria com uma vinícola e eles me mandaram tudo. Foi um sucesso. As pessoas chegavam, tomavam um copinho da bebida, davam uma volta na feira e voltavam para comprar um livro comigo”.

Hoje, além dos jornais, revistas e livros, a banca é também uma lan house – com três computadores disponíveis e impressora –, locadora de filmes e mercadinho.

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Ponto de troca de figurinhas
A cada quatro anos, a Banca do Brito, na 106 Norte, torna-se ponto de encontro para compra e troca de figurinhas da Copa do Mundo. O jornaleiro José Brito, 55, já faz a ação há seis edições do Mundial. O local chega a reunir 600 colecionadores nos finais de semana.

No início, Brito desafiava os clientes a completarem os álbuns e oferecia um prêmio simbólico, apenas pela diversão. “Naquela época, as pessoas não compravam figurinhas, só trocavam. Os avós vinham com os netos, e a fama se espalhou”.

Dias após o encerramento dos jogos deste ano, a banca ainda recebe clientes em busca de figurinhas. Cinco chegaram ao local enquanto o Metrópoles conversava com o jornaleiro. Ele mantém um tabuleiro repleto de cromos do Mundial da Rússia e de campeonatos passados. Agora, Brito se prepara para receber os do Brasileirão.

Vinícius Santa Rosa/ Metrópoles
A troca de figurinhas garante o sucesso da banca

 

A minha vida é aqui, de domingo a domingo

José Brito

Brito é apaixonado pelo trabalho na banca, desde os 22 anos, e segue a máxima de ser necessário gostar do que se faz. “Eu nunca tiro férias. Eu acordo de manhã e o meu sonho é vir para cá”, diz.

O avanço da tecnologia não o desanimou. “O jornal passou a ser muito lido on-line, mas ainda há mercado. Eu tenho clientes fiéis e sempre recebo pessoas que não acham o diário do dia em outras bancas”. Mas foi preciso se reinventar e passar a vender também lanches e botijões de água, por exemplo.

É nos finais de semana que o movimento aumenta. Os moradores descem para conversar, comprar gibis com as crianças e tomar água de coco. Muitos são da época da abertura da banca, em 1985. Um deles em particular, faz questão de comprar o jornal do dia na Banca do Brito, mesmo depois de mudar-se para Sobradinho.

Toda a família se envolve como pode com o trabalho. O filho mais velho, Rodrigo, 30 anos, assume o local quando o pai precisa sair. “Ele dormia atrás do balcão quando era pequeno, num colchãozinho no chão”, recorda. A filha Rafaela criou perfis do negócio nas redes sociais e ajuda com o pedido dos produtos.

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